:::
-Allison! –foi a primeira coisa que ouvi ao acordar.
Olhei à volta, à procura de sinais de meia dúzia de raparigas ao saltos, mas descobri que estava sozinha. Sozinha e deitado num… Puff? Hum… Devia ter adormecido.
-Hum? –fiz eu, para quem quer que fosse que me tinha chamado no quarto ao lado.
-Acorda! São onze e dez! Temos de nos despachar para o pequeno-almoço! –E depois reconheci a voz. Era Stefanny. Era estranho que, na noite anterior, eu tivesse passado horas a falar com ela… Quer dizer, era suposto eu odiá-la, mas acabei por descobrir que era bastante simpática –e uma rapariga normal, em todos os aspectos, salvo o facto de ter vinte vestidos de alta-costura no seu armário.
Vi-a espreitar pela porta aberta e depois sorrir.
-Espero que tenhas dormido bem!
Resmunguei, levantando-me a massajar o pescoço, e atirando Futsu ao chão, que fugiu para o quarto com um ar amuado.
Dirigi-me a correr até ao meu armário… Que tipo de coisa é que se devia levar para um primeiro dia numa escola onde nos vão ensinar a falar com os mortos? Ao lembrar-me disso, senti um arrepio a subir-me pela espinha… Ainda não sabia como havia de lidar com aquilo.
No fim, acabei por decidir levar umas sandálias, uns Jeans e um top preto justo -que escolhi com alguma ajuda de Stefanny, que me puxou na direcção do elevador enquanto dava pulos de contente.
-A sério, ficas assim tão feliz por causa disto?
-Yup.
Suspirei.
-Oh! Também não tens de estar de tão mau humor! Vai ser meeesmo giro!
-Acredito… -resmunguei, recebendo uma estrondosa gargalhada com resposta.
Como, aparentemente, já decorara a planta do edifício, conseguiu levar-nos às duas por meia dúzia de divisões até à Sala de Jantar, sem nos perdermos.
Era uma divisão confortável, com uma grande mesa de madeira escura e polida no meio (coberta com imensa comida) e umas cadeiras a condizer.
Ao fundo da mesa, estava uma LCD gigante e meia dúzia de cadeiras mais confortáveis.
Para além de nós, estavam apenas mais quatro pessoas na sala, a comer e a conversar alegremente, que nem olharam para nos quando entrámos e nos sentámos.
-Então –começou Stefanny, quando lhe perguntei à cerca do esquema das aulas. Aparentemente ela lera tudo o que havia para ler na mesa de cabeceira – Os livros vão-nos ser entregues na primeira aula, por isso deves levar uma mochila ou assim para o pôr. As aulas acabam às sete, hoje, com um intervalo de uma hora à hora do almoço e outros dois de vinte minutos à hora do lanche e a meio da manhã, o que perfaz um total de uma hora e quarenta de intervalos e cinco horas e vinte de aulas. E isto apenas hoje, porque à segunda e à terça temos apenas quatro horas de aulas, e são nocturnas. Aos sábados e domingos estamos livres. Ah, e eu trouxe dois horários, porque sabia que te ias esquecer do teu.
-Mas ainda vamos voltar à acima –disse eu, entre duas dentadas na minha torrada –Para lavar os dentes e assim…
-Pois, mas eu achei melhor virmos já prevenidas –e depois atirou-se a uma tigela de cereais.
Era estranho, depois de todos os meus pensamentos à cerca dela, que agora nos estivéssemos a tornar amigas. Não deixava de ser irónico, mas ao mesmo tempo bom… Quer dizer, eu estava a fazer amigos, e isso era positivo. Acho eu…
De qualquer forma, ela não era a primeira. Embora eu não tivesse visto Bryan –que devia ter ido tomar o pequeno almoço mais cedo –sabia que ele não ficara chateado com o meu comportamento na noite anterior… Ou achava que não. Sim, porque apesar de tudo, nós ainda não nos conhecíamos, e aquilo que estava a acontecer connosco –ou pelo menos comigo estava de certeza –continuava a ser um mistério.
Mas não tive muito tempo para pensar nisso, porque entre levar os dentes, escolher uma boa mala, pentear-me e conversar com Stefanny, não me sobravam muitos minutos… Daí eu não ter sabido bem o que fazer quando ele entrou no elevador ao mesmo tempo que nós e se veio sentar, com muita naturalidade, ao meu lado.
-Bom dia! –exclamou, com um ar bem disposto, enquanto o elevador descia para o nono andar.
Em vez de responder, sorri-lhe, algo timidamente –no entanto, não tivemos tempo para aprofundar a nossa conversa, porque me menos de dois minutos já tínhamos parado.
Fiquei assombrada quando vi as portas do elevador abrirem, dando para uma enorme plataforma de pedra cinzenta.
Tentei não olhar para baixo, enquanto caminhava sobre ela… Pois não havia qualquer tipo de guarda para o quadrado vazio, muito maior do que o elevador, que dava espaço para este passar.
No entanto, era difícil não olhar para baixo, tal era o espanto. Assim cimo era difícil não olhar intensamente para tudo o resto: As centenas de pessoas que caminhavam de um lado para o outro, saindo e entrando por centenas de portas. Lá em baixo, aquilo deveria ter quatro ou cinco vezes a dimensão do andar de cima. As paredes estavam forradas a vidros, deixando a descoberto a terra que nos rodeava –e, de uma forma muito estranha, aquilo não era desconfortável ou nojento: Era possível ver rios de água subterrâneos, tocas de vários animais, os animais que habitavam as tocas e as raízes das arvores. Para além disso, haviam também alguns buracos escavados, para dar a ilusão de uma janela e encher o interior de luz.
O chão fora feito com a mesma pedra cinzenta da plataforma e as portas eram de madeira, com tapetes à porta e vasos de flores a decorar os corredores. Centenas de escadas saiam também do tecto, dando passagem para o décimo andar, ou irrompiam do chão, permitindo passar para o oitavo.
Por todo o lado, homens e mulheres vestidos de preto caminhavam e cumprimentavam-se uns aos outros, ou andavam em grupos animados.
-Esta deve ser a nossa sala. –afirmou Stefanny, entusiasmada, interrompendo as minhas observações silenciosas.
Não disse nada, mas segui-a quando abriu a porta e entrou dentro de uma sala de aula.
Esta já não tinha as paredes forradas a vidro mas, em vez disso, fora feita de tábuas de madeira clara, com janelas numa das paredes, que enchia a sala com uma luz alegre.
Haviam também as típicas mesas de pares, que eram apenas cinco, mas que tinham sido encostadas à parede, permitindo aos alunos sentarem-se num tapete verde e volumoso, em frente a um quadro e a uma secretária.
Não tínhamos sido os primeiros a chegar, pois já se encontravam lá quinze alunos, mas também não tínhamos chegado atrasados, pois ainda faltavam cinco minutos para o meio dia –coisa que verifiquei quando coloquei o telemóvel no silencio.
Já completamente enterrada no tapete verde, com o braço de Bryan na minha cintura, fui-me deixando enterrar no aspecto de Richard… Era velho, definitivamente, mas era velho de uma forma… Intemporal. Não fazia sentido nenhum, mas parecia que o tempo não passava por ele, como se sempre tivesse sido assim. Como se tivesse nascido velho –Mas não velho do género “O Estranho Caso de Benjamin Button”, era como se tivesse nascido já com experiencia de vida. Pois, infelizmente, já nasci idiota.
Aqueles que faltavam (raparigas, obviamente) não demoraram a chegar, aos risinhos e a murmurar «desculpa» sempre que (na minha opinião mais propositadamente do que sem querer) davam pontapés nas costas de alguém (rapazes, obviamente), e a sentar-se num canto, a murmurar qualquer coisa. No entanto, assim que Richard começou a falar, todas elas se calaram, nervosas.
-Boa Tarde! –exclamou, com um sorriso. Ninguém lhe respondeu –Bem, é algo desagradável ter alunos tão pouco comunicativos… Costuma ser sempre assim…
Suspirou e dirigiu-se à secretária, apanhando meia dúzia de livros de capa castanha dura e aspecto antigo, que foi distribuindo.
Folheei as páginas velhas com cuidado… Cada exemplar estava escrito com uma letra cuidadosamente perfeita, claramente copiada à mão, e várias ilustrações a condizer. Não tinha titulo.
-Bem, o que têm nas vossas mãos são os livros da disciplina pela qual eu ficarei encarregue, Formação e História. Queria pedir-vos que tivessem cuidado com eles. Esses livros são, como já devem ter reparado, antigos e valiosos, cuidadosamente copiados e ilustrados à mão. Como não nos agrada que andem com algo tão frágil às costas e não vos agrada andar com algo tão pesado às costas, eles ficarão guardados nos cacifos, que ficam na Sala de Convívio… Bem, fica no andar de cima, não vão ter dificuldade em encontrá-la. De qualquer forma, tenho de vos falar mais um pouco sobre as regras. Penso que todos vocês leram o livro de regras que vos deixei à cabeceira, não foi?
O seu olhar perscrutou a multidão de olhares embaraçados e constrangidos, com um ar severo.
No entanto, poucos segundos depois desmanchou-se a rir.
-Pois, devia ter calculado que não. Mas mesmo assim, alguém leu?
Ao meu lado, Stefanny levantou o braço, meio aos pulinhos.
-Leste-o mesmo?
-Sim, ontem à noite antes de me deitar.
Ele pareceu intrigado, mas depois sorriu.
-Então muito obrigado. Bem, como Stefanny já deve saber, os cinco primeiros andares estão completamente proibidos sob todas as circunstâncias a não ser que haja uma razão para eu vos levar lá.
Stefanny piscou os olhos, admirada por ouvir o seu nome, mas depois sorriu também.
-E os andares inferiores à Casa, que começam no décimo, estão interditos à noite para todos os alunos, a não ser que acompanhados por algum adulto. E, infelizmente, esta medida não é para vos impedir de cair no buraco do elevador como criancinhas de cinco anos, mas para ver se não enfrentam uma morte mais dolorosa.
Mais dolorosa do que cair dez pisos? Hum…
-Então, não me parece que hajam mais regras que eu precise de mencionar. Se tiverem dúvidas, podem esclarecê-las no livro que vos deixei à cabeceira ou junto de qualquer adulto ou funcionário como nós. Sim, porque temos funcionários exclusivamente humanos, que sabem pouco ou nada sobre aquilo que somos.
»E agora, começando a esclarecer dúvidas sobre o vosso horário, vou explicar-vos as matérias e os devidos professores. É claro que, com a devia experiência e evolução, vocês começaram a frequentar aulas mais avançadas e aulas diferentes. Por vezes, alguns alunos ficam para trás ou adiantam-se, dependendo de vários factores físicos e psicológicos.
»A primeira matéria, que vão dar amanhã de manhã será, para o grupo A –este é o outro grupo, o meu era o B –Necromancia com a professora Blecher. Não me vou adiantar na explicação exacta do que isto é, mas posso dizer-vos que é bastante confuso e quase exclusivamente prático.
Consegui ver gente a tremer à simples menção da palavra –o que era um disparate, tendo em conta que tinham ficado super felizes na noite anterior.
-Para o grupo B, têm invocação com o Professor Li. Sim, Li. É bastante simpático, e um dos melhores professores que já passou por esta escola. Ah, e Invocação também não é muito Teórico, mas precisa de uma grande preparação.
»Como podem calcular, para aquilo que vão ser, não precisam de Matemática e Espanhol, mas estas disciplinas estão disponíveis em Extra Curricular para quem quiser, assim como ténis, equitação, dança… Bem, isso está tudo nos papeis que vos entreguei. Continuando: Têm, em horários diferentes, as mesmas disciplinas:
»Estudos das Trevas, com a professora Carten. É uma disciplina essencialmente teórica, mas posso assegurar-vos que é interessante na mesma.
»Interpretação, com a professora Lerrion. Teórica também, mas de uma forma interessante. Esta disciplina é utilizada também para entrar em comunicação com outro lado da vossa pessoa, para além de vos levar a compreender sinais de sonhos e acontecimentos diversos.
»Aulas de Percepção e Integralização, onde vão poder a integrar almas e a ajudá-las, para além de apreenderem a lidar com elas e a domá-las e de ganharem um sentido de percepção em relação ao mundo que vos rodeia completamente diferente. Com o professor Glimeryn.
»Comunicação e Visão, comigo e com a professora Carten. É essencialmente nesta aula que vão aprender como comunicar com o outro mundo, a compreender os espíritos e a evitar catástrofes.
»E pronto, são as vossas aulas por agora. Dúvidas?
Necromancia, Invocação, Estudos das Trevas, Interpretação, Percepção e Integralização, Comunicação e Visão, Formação e História… E nem um bocadinho de matemática, literatura, inglês… Pronto, admito, eu não gostava daquelas aulas… Mas eu precisava delas se quisesse um curso, certo? Pelo menos, um curso humano… Mas eu já não ia tirar um curso humano. Não, eu tinha de fazer aquilo até ao resto dos meus dias…
-Ei, Allison, sentes-te bem? –perguntou Bryan, ao meu ouvido.
-Não… -murmurei.
____
Bjs,
Tina!
Bem Vindo/a!
25/05/10
18/05/10
Capítulo 9
Eu sei que demorou, desculpem, tive umas coisas para fazer e distrai-me com as horas!
Mas mais vale tarde do que nunca!
-Ah! –exclamou ele, quando já toda a gente se preparava para fugir dali a sete pés –E não se esqueçam disto: Têm todos os pisos à vossa disposição, mas só desde o último até ao quinto. Os cinco pisos abaixo estão completamente proibidos.
“Sim, sim, o velho maluquinho com a mania de que está enfiado num filme do Harry Potter” foi a única coisa que me surgiu ao ouvi-lo falar.
Sim, eu vira aquilo, mas ia ignorar. Deixem-me pensar que o velho tinha um parafuso a menos, e que eu era normal. Eu. Era. Normal. Ponto.
Eu conseguia ouvir murmúrios à minha volta, nervosos, frustrados e até ansiosos. Nenhuns deles eram zangados. Ninguém parecia aborrecido por ter descoberto que era um anormalzinho. Eles até estavam excitados com a ideia.
Encostei-me à parede fria do elevador, desejando por segundos não ter uma mãe histérica, nem um papazinho orgulhoso… Raios, eu até preferia não ter mãe nem pai!
Não liguei ao toque gentil no meu ombro, nem à cotovelada que alguém me deu a sair do elevador, nem sequer liguei ao facto de ter torcido o pé quando o prendi na porta do quarto. Queria ir dormir.
-Meu Deus, quem foi que deixou isto aqui? Serviço rápido exclamou alguém, dentro do quarto. Apetecia-me dar-lhe um murro na cara.
No entanto, a vontade passou-me logo quando entrei. Eram as minhas malas. Era suposto terem chegado daí a uma semana, mas já lá estavam, assim como a minha velha guitarra (herança do meu tio, que tinha imigrado para o Brasil), e as diversas folhas de música. Era bom.
Agarrei nas malas que me restavam e encostei-as ao armário, enquanto me preparava para arrumar a guitarra no espaço vago da sala ao lado, para depois poder ir dormir… Dormir e esquecer que um velha maluquinho acabara de me dizer que eu era uma criatura das histórias para comer espinafres… Bah!
Enfiei-me na cama, confiante que iria conseguir adormecer, que devia estar cansada… Mentira. Não estava. Aliás, tinha dormido imenso durante a tarde… Merda! Agora tinha de pensar naquilo!
Ainda ouvia respirações ofegantes e risinhos… Elas não conversavam entre si, estavam apenas entusiasmadas… Embora eu não visse razão para isso… Quer dizer, não podia ver os meus amigos, tinha sido arrastada de casa e agora era uma aberração…
Não, não tinha sido mau sentir que devia ajudar a criancinha… Fazia-me sentir bem, mais viva e mais desperta… Assim como aquela cena de ver luzinhas saltitantes em vez de pessoas… Também era bom. Muito bom, aliás, mas… Mas fora esquisito, assustador… E eu tinha medo, por isso é que não estava feliz e aos saltinhos, tinha medo de tudo o que me poderia acontecer depois daquilo.
Desisti de dormir, ou de tentar, e sentei-me na cama. Não era a única.
Ao meu lado, a rapariga estava sentada, confiante com um meio sorriso na cara, e com a cabeça encostada às costas da cama.
Há frente dela, a outra, ainda com os óculos posto, lia um livro pesado com uma lanterna pequenina, daquelas com uma espécie de manivela e que não precisam de pilhas.
Ao seu lado, com um ar distante e ainda meio atordoado, repousava aquela que eu esperava ser normal como eu, deitada de costas e a olhar fixamente o tecto.
E, ao lado desta, estava a última, com os cabelos loiros a balançar ao ritmo compassado do seu corpo que, com as pernas embrulhadas uma na outra, movia-se em movimentos hipnóticos para um lado e para o outro.
Deixei os meus olhos fitar cada uma delas, sem dizer nada, apenas a absorver tudo… O ambiente, tenso e silencioso, as personalidades… E os sentimentos delas em relação àquilo que se passava… Talvez eu devesse sentir o mesmo, talvez eu devesse deixar-me levar e esquecer a vida passada… Podia parecer que aceitava tudo de uma forma muito precipitada, mas a verdade é que não à maneira de não o fazer. Eu tinha provas, evidencias… Estava tudo ali, na minha cabeça, eu vira-o com os meus olhos… Não o podia negar.
-Bem, o silencio está a tornar-se pesado, e se eu quisesse algo deprimente, atirava-me ali ao meu IPod, mas como hoje até me sinto mais ou menos entusiasmada, acho que podíamos começar a conviver e essas cenas habituais de cinco raparigas estranhas que se juntam num quarto. Por Amor de Alguém, será que temos de viver assim durante os próximos três anos?!
Toda a gente a fixou, embora os movimentos da rapariga à minha frente não tivessem cessado.
-Olá, sou a Megan. O meu apelido não interessa, podem descobri-lo depois.
Olhou à volta do quarto.
-Tu –apontou para a rapariga à frente dela –Tu chamas-te Marian.
A suposta Marian abriu muito os olhos, espantada, mas ela ignorou-a e virou-se para mim.
-Tu chamas-te… Allinson? Ou Allison?
-Allison –respondi, acto continuo.
Ela acenou, e virou-se para aquela que se encontrava ao lado de uma Marian deveras assustada.
-Tu deves ser Ammy.
Ela sorriu e acenou.
-E tu… -perscrutou aquela que sobrava, olhando em todas as direcções. –Tifanny?
Ela irrompeu em gargalhadas.
-Não –disse, fazendo os caracóis abanar –Mas o meu pai encomendou lá umas coisas, dai estar escrito naquele porta chaves.
Olhei para ela, procurando o alegado Porta-Chaves, e ali estava ele: Totalmente feito em ouro, com umas letras garrafais, estava pendurado no puxador de uma das gavetas, com as letras que compunham a palavra T-I-F-A-N-N-Y-‘-S unidas por um único fio de prata –ou assim me pareceu.
Ao meu lado, a moldura que dizia “Ally” estava imóvel, com o mesmo sorriso de criança que eu tivera anos atrás –e não era só connosco: Tanto Ammy como Marian tinham os nomes escritos algures num objecto da sua mesa de cabeceira.
-Resulta sempre –gabou-se Megan, com um sorriso sarcástico.
Nesse momento, ouviu-se um grande «buum», que fez todas as cabeças rodar.
A rapariga que não era Tifanny tinha caído, depois de muito balançar, no chão.
Estava à espera de a ver levantar-se furibunda, e a fulminar os nossos risos com o seu olhar, ou a bater com o pé e a ficar amuada –coisa de menina rica.
Mas não. Ela levantou-se, massajando o fundo das costas e às gargalhadas, tal como nós –Não posso dizer que não fiquei surpreendida (e sim, também fiquei a pensar se não teria julgado um livro pela capa, o que era extremamente fútil da minha parte –e frívolo, frívolo também.).
-Stefanny –acrescentou ela, com um grande sorriso. –E não me apetece ficar aqui até amanhã de manhã. Já vi o horário, amanhã as aulas começam ao Meio-Dia e o pequeno almoço geral é às onze e meia, por isso podemos deitar-nos tarde sem correr o risco de adormecer na primeira aula.
-De qualquer forma, acho que ninguém vai ter vontade de dormir durante essa aula –disse eu, sorrindo-lhe também. Muito bem, ela já provara (em parte) que eu me enganara, então podia tentar dar-me bem com a rapariga.
-Mesmo ninguém –concordou ela.
E apressou-se através da porta que dava para a “Sala de Convívio”.
Ah pois, outra coisa bastante agradável ali naquele sitio (a que ainda me custava chamar Casa) é que podemos tomar o pequeno almoço às horas que quisermos, ir dormir às horas que quisermos (embora tenhamos de estar lá em cima –ou seja, nos corredores e assim –à meia noite) e praticamente acordar às horas que nos apetecer, porque as aulas começam, regra geral, à onze-dez horas, e temos bastante tempo para o que raio quisermos fazer –Para além de, em dois dos cinco dias de aulas, termos aulas nocturnas (das seis às oito e das nove às onze) e podermos dormir até às três da tarde (ou mais).
Por isso é que ela dizia o “Pequeno Almoço Geral”, pois não tinham-nos de ir pequeno-almoçar a essa hora –Bastava passarmos pela cozinha e apanharmos o que quiséssemos para comer –E também tínhamos um mini bar no quarto, o que era, sem dúvida nenhuma, umas das melhores noticias que eu tinha recebido. Quem é que não gosta de mini bares?
No entanto, quatro raparigas muito entusiasmadas já se tinham ido sentar à frente de uma grade televisão, com pipocas e tudo, e discutiam vivamente sobre qual dos DVD ver… Haviam sugestões de vários deles, desde o “The Unborn” até ao “Bride Wars” (este último bastante defendido por Ammy).
Acabaram por enfiar qualquer coisa que me pareceu ser uma comédia para dentro do Leitor, enquanto eu me acomodava num Puff, com Futsu ao colo a lamber-me as mãos.
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Bjs,
Tina!
Mas mais vale tarde do que nunca!
-Ah! –exclamou ele, quando já toda a gente se preparava para fugir dali a sete pés –E não se esqueçam disto: Têm todos os pisos à vossa disposição, mas só desde o último até ao quinto. Os cinco pisos abaixo estão completamente proibidos.
“Sim, sim, o velho maluquinho com a mania de que está enfiado num filme do Harry Potter” foi a única coisa que me surgiu ao ouvi-lo falar.
Sim, eu vira aquilo, mas ia ignorar. Deixem-me pensar que o velho tinha um parafuso a menos, e que eu era normal. Eu. Era. Normal. Ponto.
Eu conseguia ouvir murmúrios à minha volta, nervosos, frustrados e até ansiosos. Nenhuns deles eram zangados. Ninguém parecia aborrecido por ter descoberto que era um anormalzinho. Eles até estavam excitados com a ideia.
Encostei-me à parede fria do elevador, desejando por segundos não ter uma mãe histérica, nem um papazinho orgulhoso… Raios, eu até preferia não ter mãe nem pai!
Não liguei ao toque gentil no meu ombro, nem à cotovelada que alguém me deu a sair do elevador, nem sequer liguei ao facto de ter torcido o pé quando o prendi na porta do quarto. Queria ir dormir.
-Meu Deus, quem foi que deixou isto aqui? Serviço rápido exclamou alguém, dentro do quarto. Apetecia-me dar-lhe um murro na cara.
No entanto, a vontade passou-me logo quando entrei. Eram as minhas malas. Era suposto terem chegado daí a uma semana, mas já lá estavam, assim como a minha velha guitarra (herança do meu tio, que tinha imigrado para o Brasil), e as diversas folhas de música. Era bom.
Agarrei nas malas que me restavam e encostei-as ao armário, enquanto me preparava para arrumar a guitarra no espaço vago da sala ao lado, para depois poder ir dormir… Dormir e esquecer que um velha maluquinho acabara de me dizer que eu era uma criatura das histórias para comer espinafres… Bah!
Enfiei-me na cama, confiante que iria conseguir adormecer, que devia estar cansada… Mentira. Não estava. Aliás, tinha dormido imenso durante a tarde… Merda! Agora tinha de pensar naquilo!
Ainda ouvia respirações ofegantes e risinhos… Elas não conversavam entre si, estavam apenas entusiasmadas… Embora eu não visse razão para isso… Quer dizer, não podia ver os meus amigos, tinha sido arrastada de casa e agora era uma aberração…
Não, não tinha sido mau sentir que devia ajudar a criancinha… Fazia-me sentir bem, mais viva e mais desperta… Assim como aquela cena de ver luzinhas saltitantes em vez de pessoas… Também era bom. Muito bom, aliás, mas… Mas fora esquisito, assustador… E eu tinha medo, por isso é que não estava feliz e aos saltinhos, tinha medo de tudo o que me poderia acontecer depois daquilo.
Desisti de dormir, ou de tentar, e sentei-me na cama. Não era a única.
Ao meu lado, a rapariga estava sentada, confiante com um meio sorriso na cara, e com a cabeça encostada às costas da cama.
Há frente dela, a outra, ainda com os óculos posto, lia um livro pesado com uma lanterna pequenina, daquelas com uma espécie de manivela e que não precisam de pilhas.
Ao seu lado, com um ar distante e ainda meio atordoado, repousava aquela que eu esperava ser normal como eu, deitada de costas e a olhar fixamente o tecto.
E, ao lado desta, estava a última, com os cabelos loiros a balançar ao ritmo compassado do seu corpo que, com as pernas embrulhadas uma na outra, movia-se em movimentos hipnóticos para um lado e para o outro.
Deixei os meus olhos fitar cada uma delas, sem dizer nada, apenas a absorver tudo… O ambiente, tenso e silencioso, as personalidades… E os sentimentos delas em relação àquilo que se passava… Talvez eu devesse sentir o mesmo, talvez eu devesse deixar-me levar e esquecer a vida passada… Podia parecer que aceitava tudo de uma forma muito precipitada, mas a verdade é que não à maneira de não o fazer. Eu tinha provas, evidencias… Estava tudo ali, na minha cabeça, eu vira-o com os meus olhos… Não o podia negar.
-Bem, o silencio está a tornar-se pesado, e se eu quisesse algo deprimente, atirava-me ali ao meu IPod, mas como hoje até me sinto mais ou menos entusiasmada, acho que podíamos começar a conviver e essas cenas habituais de cinco raparigas estranhas que se juntam num quarto. Por Amor de Alguém, será que temos de viver assim durante os próximos três anos?!
Toda a gente a fixou, embora os movimentos da rapariga à minha frente não tivessem cessado.
-Olá, sou a Megan. O meu apelido não interessa, podem descobri-lo depois.
Olhou à volta do quarto.
-Tu –apontou para a rapariga à frente dela –Tu chamas-te Marian.
A suposta Marian abriu muito os olhos, espantada, mas ela ignorou-a e virou-se para mim.
-Tu chamas-te… Allinson? Ou Allison?
-Allison –respondi, acto continuo.
Ela acenou, e virou-se para aquela que se encontrava ao lado de uma Marian deveras assustada.
-Tu deves ser Ammy.
Ela sorriu e acenou.
-E tu… -perscrutou aquela que sobrava, olhando em todas as direcções. –Tifanny?
Ela irrompeu em gargalhadas.
-Não –disse, fazendo os caracóis abanar –Mas o meu pai encomendou lá umas coisas, dai estar escrito naquele porta chaves.
Olhei para ela, procurando o alegado Porta-Chaves, e ali estava ele: Totalmente feito em ouro, com umas letras garrafais, estava pendurado no puxador de uma das gavetas, com as letras que compunham a palavra T-I-F-A-N-N-Y-‘-S unidas por um único fio de prata –ou assim me pareceu.
Ao meu lado, a moldura que dizia “Ally” estava imóvel, com o mesmo sorriso de criança que eu tivera anos atrás –e não era só connosco: Tanto Ammy como Marian tinham os nomes escritos algures num objecto da sua mesa de cabeceira.
-Resulta sempre –gabou-se Megan, com um sorriso sarcástico.
Nesse momento, ouviu-se um grande «buum», que fez todas as cabeças rodar.
A rapariga que não era Tifanny tinha caído, depois de muito balançar, no chão.
Estava à espera de a ver levantar-se furibunda, e a fulminar os nossos risos com o seu olhar, ou a bater com o pé e a ficar amuada –coisa de menina rica.
Mas não. Ela levantou-se, massajando o fundo das costas e às gargalhadas, tal como nós –Não posso dizer que não fiquei surpreendida (e sim, também fiquei a pensar se não teria julgado um livro pela capa, o que era extremamente fútil da minha parte –e frívolo, frívolo também.).
-Stefanny –acrescentou ela, com um grande sorriso. –E não me apetece ficar aqui até amanhã de manhã. Já vi o horário, amanhã as aulas começam ao Meio-Dia e o pequeno almoço geral é às onze e meia, por isso podemos deitar-nos tarde sem correr o risco de adormecer na primeira aula.
-De qualquer forma, acho que ninguém vai ter vontade de dormir durante essa aula –disse eu, sorrindo-lhe também. Muito bem, ela já provara (em parte) que eu me enganara, então podia tentar dar-me bem com a rapariga.
-Mesmo ninguém –concordou ela.
E apressou-se através da porta que dava para a “Sala de Convívio”.
Ah pois, outra coisa bastante agradável ali naquele sitio (a que ainda me custava chamar Casa) é que podemos tomar o pequeno almoço às horas que quisermos, ir dormir às horas que quisermos (embora tenhamos de estar lá em cima –ou seja, nos corredores e assim –à meia noite) e praticamente acordar às horas que nos apetecer, porque as aulas começam, regra geral, à onze-dez horas, e temos bastante tempo para o que raio quisermos fazer –Para além de, em dois dos cinco dias de aulas, termos aulas nocturnas (das seis às oito e das nove às onze) e podermos dormir até às três da tarde (ou mais).
Por isso é que ela dizia o “Pequeno Almoço Geral”, pois não tinham-nos de ir pequeno-almoçar a essa hora –Bastava passarmos pela cozinha e apanharmos o que quiséssemos para comer –E também tínhamos um mini bar no quarto, o que era, sem dúvida nenhuma, umas das melhores noticias que eu tinha recebido. Quem é que não gosta de mini bares?
No entanto, quatro raparigas muito entusiasmadas já se tinham ido sentar à frente de uma grade televisão, com pipocas e tudo, e discutiam vivamente sobre qual dos DVD ver… Haviam sugestões de vários deles, desde o “The Unborn” até ao “Bride Wars” (este último bastante defendido por Ammy).
Acabaram por enfiar qualquer coisa que me pareceu ser uma comédia para dentro do Leitor, enquanto eu me acomodava num Puff, com Futsu ao colo a lamber-me as mãos.
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Bjs,
Tina!
11/05/10
Capítulo 9 - Segunda Metade
Poisé... (Bah, odeio gente que escreve assim!)
OK, se por acaso não leram a Primeira metade, desçam para o post abaixo (mania de não ler avisos, é o que dá!)
Hope You Like! (it)
-Vamos? –perguntou, com um sorriso divertido.
-Distraí-me… -murmurei, com o olhar baixo. Era embaraçoso ter ficado ali a comer até à última da hora.
O meu ar embaraçado só o fez rir mais.
-Eu sei… Agora, porque será? –o meu rosto gelou, não permitindo a ele próprio corar… Será que ele me tinha visto olhar para ele fixamente? O que estaria a pensar? O seu olhar dizia que sim.
Olhei fixamente as minhas Havaianas, sem disposição para olhar para cima. Sentia-me prestes a desabar, de tão humilhada que estava. Parecia que todas as flores presentes me observavam, comentando e rindo-se de mim.
-Hey! –disse ele, contornando-me e parando à minha frente. Obrigou-me a erguer o rosto com um dos seus dedos –O que é que foi?
Só consegui corar ainda mais, quando pensei no quão perfeitos os seus lábios eram.
Ele sorriu-me, calorosamente.
-Também passei o jantar todo com o olhar fixo em ti… -murmurou. O seu corpo balançou-se ligeiramente para a frente, mas ele pareceu afastar a ideia do que ia fazer, e tirou o dedo doeu queixo, envergonhado. Parecia que tinham lançado ali uma bomba, e agora agíamos de forma desconfortável –num pequeno canto da minha mente, havia uma discussão sobre o quão acelerado estava o meu relacionamento.
-Hum… -desta vez fui eu quem quebrou o silêncio –Devíamos ir andando.
Ele acenou.
-Claro, devem estar à nossa espera.
A partir desse momento, conseguimos aliviar a tenção aos poucos, fazendo com que chegássemos à porta onde supostamente deveríamos ir dar aos encontrões um com o outro e a rir desalmadamente.
Abri a porta para me encontrar num enorme auditório.
Deveria ter capacidade para cerca de cento e vinte e uma pessoas sentadas –OK, eu admito, vi isso na tabuleta que se encontrava ao lado da porta -, mas apenas os lugares da frente estavam ocupado.
Richard sentava-se na borda do palco.
Percorremos o caminho até à frente a tentar conservar um ar sério, deitando olhares de esguelha um ao outro e soltando umas gargalhadas quando os nossos olhares se encontravam.
Quando estava suficientemente perto, ouvi Michael ranger os dentes, o que me fez rir com mais força.
No entanto, no momento em que tomámos o nosso lugar nas cadeiras brancas, calamo-nos, atentos.
Richar sorria quando começou a falar, de olhos postos em mim.
-Bem, meus meninos –depois de ter dito isto, riu-se e soltou um «Bah!», e corrigiu-se –Quero dizer: Bem, caros adolescentes, tenho um comunicado importante a fazer-vos! Primeiro, antes da minha explicação importante, à que referir algumas coisas:
»O primeiro ponto consta no facto de terem ao vosso dispor um Terraço, lá em cima, ao qual poderão ter acesso pelas escadas que se encontram na varanda ao fundo do corredor. As aulas só começam às dez da manhã, visto que não à necessidade de vos acordar mais cedo, e vocês não terão as aulas juntos, visto dividirem-se me grupos de dez. No entanto, os intervalos serão às mesmas horas. Têm um horário dentro da terceira gaveta de todos.
Mexi-me, acenando em conjunto com os outros em sinal de aprovação.
-Vocês têm autorização para sair da escola de carro ou de Táxi, mas obviamente não enquanto estiverem em tempo de aulas. E não se preocupem, elas não vão ser tão aborrecidas como esperam.
»No entanto, é expressamente proibido trazer familiares ou amigos cá a Casa, sem autorização prévia. Há segredos a defender, portas que vos vão ser abertas e aos quais os outros não poderão ter acesso… É horrível obrigar-vos a essa separação, mas é necessário, e por isso queremos que cada um se tente integrar e fazer amigos, se não mais do que isso.
Nesta altura, olhei para Bryan de soslaio –verificando, espantada, qe ele me olhava pelo canto do olho.
Levantou o braço, um pouco hesitante, mas acabou por passar-mo à volta da cintura, puxando-me para si.
Todos estávamos ansiosos e de pé atrás perante as afirmações de Richard.
-Acontece que… Bem… É sempre difícil explicar aos novos alunos, vocês nunca o aceitam... E eu próprio senti isso quando cá cheguei… No entanto, neste momento, vocês fazem parte daquilo que podemos considerar um… bem… mito urbano.
Mito Urbano? Aquilo era uma piada?
Ele respirou fundo.
-É difícil, mas vou dar o meu melhor, por isso, aqui vai:
»Quem nunca ouviu falar em Yurns?
Yurns? Y-U-R-N-S? O que é que aquilo significaria? É claro que sabia o que aquilo era! A minha mãe dizia-me isso quando eu era pequena e não queria comer a sopa.
Recordava-o bem: Yurns, os homens maus, que controlavam as sombras e o mundo das almas… Eles podiam roubar a minha! Bah! Eram tudo tretas!
Ninguém reagiu, por isso ele continuou.
»Bem, acreditem ou não, é para isso que cá estão. Há forças poderosas neste planeta, forças que passam os limites da vossa imaginação. É preciso controlo sobre tudo. E é para isso que servimos, e não para obrigar miúdos a fazer TPC. Servimos para dominar as almas, controlar os poderes da clarividência, mudar destinos e identificar causas de morte. Servimos, não mais não menos do que para ajudar o mundo a poder viver como vive.
Oh! Eu sabia! Eu sabia que não havia nada de bom com aquele velhote! Demasiado simpático e compreensivo! Era maluco!
-Isso é uma loucura! –acusou alguém, aos berros, do outro lado da sala. Não identifiquei quem, não queria saber –Por amor de Deus, isto e uma partida?
Richard não respondeu, mas falou para todos.
-Deixem-me mostrar-vos. Camille? Podes…?
Messe momento, entrou uma mulher no auditório –mais especificamente, no palco, por uma porta oculta atrás de uns panos.
Era uma mulher, mas não conseguia identificar bem os seus contornos. Só consegui perceber que avançava devagar e parecia concentrada nalgo.
-Agora, deixem as vossas mentes divagar.
Fiz-lhe a vontade, sem saber bem porquê.
Senti-me, de repente, assaltada por uma sensação de vertigem brutal e feroz. Sentia-me como me tinha sentido horas antes na outra sala –eu via interiores. Conseguia distinguir surpresa em todos eles, assim como um tom rosado em alguns, talvez de frustração –no entanto, não foi para ai que me virei.
Porque agora, é minha frente, no meio daquele mar de luz, estava uma criança –tinha um rosto pálido mas angelical, o cabelo era loiro em cachos e vestia um vestido florido, com um chapéu a condizer –e parecia triste, muito triste.
Chorava baixinho, com a pele a transmitir uma luz azul pálida, de tristeza.
Não consegui evitar aproximar-me. Tal como naquela tarde, sentia a necessidade de o fazer, sem uma ponta de surpresa ou choque –estava apenas conformada, resignada.
Mas a criança não. Estava triste, e não chamava por mim, mas queria ajuda, eu sabia disso.
Por isso, ignorei o resto da sala e comecei a aproximar-me, devagar, da menina carente.
Quando já estava próxima do palco, algo pareceu mudar drasticamente.
A rapariga olhou para mim, com esperança a toldar-lhe a visão, mas depois algo pareceu estalar e ela fugiu, amedrontada, através de uma parede.
Alguém agarrou o meu braço e eu saí do transe.
-O que é que te deu!? –ouvi Richard gritar, abanando-me.
-Ela volta –garantiu Camille, rapidamente.
-O problema não é isso! Ela tem de perceber! Se não se tivesse aproximado tu…
-Oh, mas não fui eu que a soltei! –disse Camille, surpreendida –Não ouviste o estalar? A ligação quebrou-se de outra forma –o seu olhar fixou-se me mim –Fizeste alguma coisa?
-N…Não –balbuciei, amedrontada –Eu… Abri os olhos e vi-a. Estava ali, uma rapariga pequena… E… bem, não sei, ela parecia precisar de ajuda, pelo menos era isso que eu sentia…
Richard fitou-me demoradamente, como que a assimilar alguma coisa.
-Sentis-te? Sentiste-a? E viste-a? –Não parecia zangado, apenas estupefacto.
-Sim –confirmei –Era loira, tinha os lábios cheios e a pele pálida. Vestia um vestido às flores.
-Espantoso –murmurou Richard, trocando um olhar com Camille. Depois soltou-me o braço, e encarou o resto dos rostos, fixos em mim. –Mais alguém sentiu esta… hum…
-Necessidade absoluta de a ajudar. –completei, descrevendo o sentimento na sua totalidade.
Só houveram respostas negativas.
-Muito bem! Parece que temos um caso único! Mas, de resto, todos viram e sentiram isto, certo?
Desta vez, as repostas foram mais relutantes, presas às memórias dos segundos passados, no entanto, todos acenaram com a cabeça.
-Ainda bem –o rosto dele abriu-se num enorme sorriso –Já podem ir!
____
Bjs,
Tina!
OK, se por acaso não leram a Primeira metade, desçam para o post abaixo (mania de não ler avisos, é o que dá!)
Hope You Like! (it)
-Vamos? –perguntou, com um sorriso divertido.
-Distraí-me… -murmurei, com o olhar baixo. Era embaraçoso ter ficado ali a comer até à última da hora.
O meu ar embaraçado só o fez rir mais.
-Eu sei… Agora, porque será? –o meu rosto gelou, não permitindo a ele próprio corar… Será que ele me tinha visto olhar para ele fixamente? O que estaria a pensar? O seu olhar dizia que sim.
Olhei fixamente as minhas Havaianas, sem disposição para olhar para cima. Sentia-me prestes a desabar, de tão humilhada que estava. Parecia que todas as flores presentes me observavam, comentando e rindo-se de mim.
-Hey! –disse ele, contornando-me e parando à minha frente. Obrigou-me a erguer o rosto com um dos seus dedos –O que é que foi?
Só consegui corar ainda mais, quando pensei no quão perfeitos os seus lábios eram.
Ele sorriu-me, calorosamente.
-Também passei o jantar todo com o olhar fixo em ti… -murmurou. O seu corpo balançou-se ligeiramente para a frente, mas ele pareceu afastar a ideia do que ia fazer, e tirou o dedo doeu queixo, envergonhado. Parecia que tinham lançado ali uma bomba, e agora agíamos de forma desconfortável –num pequeno canto da minha mente, havia uma discussão sobre o quão acelerado estava o meu relacionamento.
-Hum… -desta vez fui eu quem quebrou o silêncio –Devíamos ir andando.
Ele acenou.
-Claro, devem estar à nossa espera.
A partir desse momento, conseguimos aliviar a tenção aos poucos, fazendo com que chegássemos à porta onde supostamente deveríamos ir dar aos encontrões um com o outro e a rir desalmadamente.
Abri a porta para me encontrar num enorme auditório.
Deveria ter capacidade para cerca de cento e vinte e uma pessoas sentadas –OK, eu admito, vi isso na tabuleta que se encontrava ao lado da porta -, mas apenas os lugares da frente estavam ocupado.
Richard sentava-se na borda do palco.
Percorremos o caminho até à frente a tentar conservar um ar sério, deitando olhares de esguelha um ao outro e soltando umas gargalhadas quando os nossos olhares se encontravam.
Quando estava suficientemente perto, ouvi Michael ranger os dentes, o que me fez rir com mais força.
No entanto, no momento em que tomámos o nosso lugar nas cadeiras brancas, calamo-nos, atentos.
Richar sorria quando começou a falar, de olhos postos em mim.
-Bem, meus meninos –depois de ter dito isto, riu-se e soltou um «Bah!», e corrigiu-se –Quero dizer: Bem, caros adolescentes, tenho um comunicado importante a fazer-vos! Primeiro, antes da minha explicação importante, à que referir algumas coisas:
»O primeiro ponto consta no facto de terem ao vosso dispor um Terraço, lá em cima, ao qual poderão ter acesso pelas escadas que se encontram na varanda ao fundo do corredor. As aulas só começam às dez da manhã, visto que não à necessidade de vos acordar mais cedo, e vocês não terão as aulas juntos, visto dividirem-se me grupos de dez. No entanto, os intervalos serão às mesmas horas. Têm um horário dentro da terceira gaveta de todos.
Mexi-me, acenando em conjunto com os outros em sinal de aprovação.
-Vocês têm autorização para sair da escola de carro ou de Táxi, mas obviamente não enquanto estiverem em tempo de aulas. E não se preocupem, elas não vão ser tão aborrecidas como esperam.
»No entanto, é expressamente proibido trazer familiares ou amigos cá a Casa, sem autorização prévia. Há segredos a defender, portas que vos vão ser abertas e aos quais os outros não poderão ter acesso… É horrível obrigar-vos a essa separação, mas é necessário, e por isso queremos que cada um se tente integrar e fazer amigos, se não mais do que isso.
Nesta altura, olhei para Bryan de soslaio –verificando, espantada, qe ele me olhava pelo canto do olho.
Levantou o braço, um pouco hesitante, mas acabou por passar-mo à volta da cintura, puxando-me para si.
Todos estávamos ansiosos e de pé atrás perante as afirmações de Richard.
-Acontece que… Bem… É sempre difícil explicar aos novos alunos, vocês nunca o aceitam... E eu próprio senti isso quando cá cheguei… No entanto, neste momento, vocês fazem parte daquilo que podemos considerar um… bem… mito urbano.
Mito Urbano? Aquilo era uma piada?
Ele respirou fundo.
-É difícil, mas vou dar o meu melhor, por isso, aqui vai:
»Quem nunca ouviu falar em Yurns?
Yurns? Y-U-R-N-S? O que é que aquilo significaria? É claro que sabia o que aquilo era! A minha mãe dizia-me isso quando eu era pequena e não queria comer a sopa.
Recordava-o bem: Yurns, os homens maus, que controlavam as sombras e o mundo das almas… Eles podiam roubar a minha! Bah! Eram tudo tretas!
Ninguém reagiu, por isso ele continuou.
»Bem, acreditem ou não, é para isso que cá estão. Há forças poderosas neste planeta, forças que passam os limites da vossa imaginação. É preciso controlo sobre tudo. E é para isso que servimos, e não para obrigar miúdos a fazer TPC. Servimos para dominar as almas, controlar os poderes da clarividência, mudar destinos e identificar causas de morte. Servimos, não mais não menos do que para ajudar o mundo a poder viver como vive.
Oh! Eu sabia! Eu sabia que não havia nada de bom com aquele velhote! Demasiado simpático e compreensivo! Era maluco!
-Isso é uma loucura! –acusou alguém, aos berros, do outro lado da sala. Não identifiquei quem, não queria saber –Por amor de Deus, isto e uma partida?
Richard não respondeu, mas falou para todos.
-Deixem-me mostrar-vos. Camille? Podes…?
Messe momento, entrou uma mulher no auditório –mais especificamente, no palco, por uma porta oculta atrás de uns panos.
Era uma mulher, mas não conseguia identificar bem os seus contornos. Só consegui perceber que avançava devagar e parecia concentrada nalgo.
-Agora, deixem as vossas mentes divagar.
Fiz-lhe a vontade, sem saber bem porquê.
Senti-me, de repente, assaltada por uma sensação de vertigem brutal e feroz. Sentia-me como me tinha sentido horas antes na outra sala –eu via interiores. Conseguia distinguir surpresa em todos eles, assim como um tom rosado em alguns, talvez de frustração –no entanto, não foi para ai que me virei.
Porque agora, é minha frente, no meio daquele mar de luz, estava uma criança –tinha um rosto pálido mas angelical, o cabelo era loiro em cachos e vestia um vestido florido, com um chapéu a condizer –e parecia triste, muito triste.
Chorava baixinho, com a pele a transmitir uma luz azul pálida, de tristeza.
Não consegui evitar aproximar-me. Tal como naquela tarde, sentia a necessidade de o fazer, sem uma ponta de surpresa ou choque –estava apenas conformada, resignada.
Mas a criança não. Estava triste, e não chamava por mim, mas queria ajuda, eu sabia disso.
Por isso, ignorei o resto da sala e comecei a aproximar-me, devagar, da menina carente.
Quando já estava próxima do palco, algo pareceu mudar drasticamente.
A rapariga olhou para mim, com esperança a toldar-lhe a visão, mas depois algo pareceu estalar e ela fugiu, amedrontada, através de uma parede.
Alguém agarrou o meu braço e eu saí do transe.
-O que é que te deu!? –ouvi Richard gritar, abanando-me.
-Ela volta –garantiu Camille, rapidamente.
-O problema não é isso! Ela tem de perceber! Se não se tivesse aproximado tu…
-Oh, mas não fui eu que a soltei! –disse Camille, surpreendida –Não ouviste o estalar? A ligação quebrou-se de outra forma –o seu olhar fixou-se me mim –Fizeste alguma coisa?
-N…Não –balbuciei, amedrontada –Eu… Abri os olhos e vi-a. Estava ali, uma rapariga pequena… E… bem, não sei, ela parecia precisar de ajuda, pelo menos era isso que eu sentia…
Richard fitou-me demoradamente, como que a assimilar alguma coisa.
-Sentis-te? Sentiste-a? E viste-a? –Não parecia zangado, apenas estupefacto.
-Sim –confirmei –Era loira, tinha os lábios cheios e a pele pálida. Vestia um vestido às flores.
-Espantoso –murmurou Richard, trocando um olhar com Camille. Depois soltou-me o braço, e encarou o resto dos rostos, fixos em mim. –Mais alguém sentiu esta… hum…
-Necessidade absoluta de a ajudar. –completei, descrevendo o sentimento na sua totalidade.
Só houveram respostas negativas.
-Muito bem! Parece que temos um caso único! Mas, de resto, todos viram e sentiram isto, certo?
Desta vez, as repostas foram mais relutantes, presas às memórias dos segundos passados, no entanto, todos acenaram com a cabeça.
-Ainda bem –o rosto dele abriu-se num enorme sorriso –Já podem ir!
____
Bjs,
Tina!
04/05/10
Informação
Bem... Pois, eu podia simplesmente alterar o post anterior, mas queria dar mais relevo a esta informação, de modo a que ficasse no devido lugar xD
A verdade é que tomei uma decisão em relação á Série, respectivamente a volumes e assim.
Então, Estará dividido em volumos, que ainda não sei quantos serão, e cada volume estara dividido por partes (chama-se a este fenómeno organização)
O Primeiro Volume, The Allison's Secret, é o que está a ser escrito agora, ainda só vou na primeira parte, The Book é o seu nome (e não direi porquê!!)
E como nome de referência (o nome de toda a série) ficará Good? or Evil? que me está a servir de Sub-Titulo ali em cima ;D
E pronto, acho que é só...
Ah, bem, que se lixe xD
Vou lançar aqui, só porque sou simpática, a 1ª Parte do 8º Capítulo! Ainda não sei se lançarei a 2ª Parte na Próxima Terça ou se lançarei esse e o 9º... Mas este era muito comprido para uma só postagem xD
Espero que Gostem!
Estaria doida? Não, isso não podia ser. Eu tinha-o visto, sentido, ele estava ali, e eu sabia disso… Mas mesmo não estando doida, estava assustado –isso sim, e muito.
Mas aquilo não deveria ser assim… Eu não sentira medo, choque ou surpresa quando fora assaltada pela súbita capacidade de ver luzes, interiores… Tinha sido natural, como se já fizesse parte de mim… Então porquê? Porque é que o sentia agora? Ou melhor, porque é que não sentira medo antes?
Tinha centenas de perguntas –algumas muito parecidas, admito –mas nenhuma resposta –e, acreditem ou não, isso muito, muito, mas um-u-u-ito irritante.
A sala estava agitada, ainda retendo na memória aqueles últimos episódios, e não me deixava pensar claramente ou reflectir no assunto. Também não tinha importância, não encontraria resposta na mesma.
Vi, pelo canto do olho, que Celine conversava agora com Mark, esquecendo completamente que eu ali estava. Já era previsível, afinal ela era super sociável, ia sempre arranjar gente com quem conversar.
Todos pareciam ter esquecido o “jogo” que tínhamos começado, mas já deviam saber os nomes da geralidade –pois todos eles, à excepção da esquisitinha e de mim própria, falavam com alguém.
Ouvi a porta ranger e virei-me instintivamente, assim como os restante dezanove pares de olhos, para Richard, que aparecia por ali.
O seu olhar revelava cansaço, atribuindo-lhe mais vinte anos do que os que parecia ter –e isso deixou-me contente por, finalmente, lhe poder atribuir a idade que tinha.
-Houveram uns… hum… problemas. –disse ele, depois a sua cara descontraiu, voltando ao seu estado original sem uma gota de cansaço –Mas não se preocupem, não anda nenhum Serial-Killer por aqui, por mais que alguns de vocês pudessem gostar da ideia.
Ouviram-se alguns risos e umas falsas exclamações de «Ohh!».
Ele soltou umas gargalhadas, antes de nos encarar novamente:
-Terei algumas informações importantes a dar-vos, mas, primeiro, temos de ir jantar. São oito e dez e está mais do que na hora de ir pôr a mesa… Bem, queria deixar-vos a conviver lá fora enquanto esperávamos pela hora certa, mas aparentemente também o fizeram aqui, por isso não haverá problema!
Depois saiu, com um pequeno aceno para que os seguíssemos.
Fomos conduzidos pelo mesmo corredor que percorrêramos à chegada, mas desta vez não paramos no átrio, dirigindo-nos sempre sem frente, pelas inúmeras voltinhas.
O vestíbulo não deveria ter mais do que um metro e meio de largura, comprimindo-nos numa massa de cabelos, roupa e pele, para não falar do suor –aparentemente, alguns rapazes (e uma rapariga) não usavam desodorizante.
Mas, finalmente, pude soltar a respiração, quando Richard abriu a pequena porta que existia no fundo do corredor.
-Ei-la! –proferiu, abrindo os braços teatralmente, ao sair para o ar quente do Verão.
Na realidade, os seus movimentos pareceram-me modestos quando contemplei a verdadeira beleza do sitio onde nos encontrávamos.
Era um jardim, que se estendia até a umas grandes árvores à minha frente, e perdia de vista para o meu lado direito, tapado por alguns arbustos.
Encontrávamo-nos num pequeno pátio pavimentado, cheio das mais belas flores, como rosas e jasmins, jarros e tulipas, tudo o que se podia imaginar.
O jardim estava maravilhosamente ornamentado e organizado, com as rosas a trepar por armações de metal forjado, as tulipas e saborear a brisa em pequenos canteiros de pedra escura da mesma tonalidade do chão e os jarros a misturarem-se com os arbustos aparados.
Cada simples pormenor parecia importante e contribuía para embelezar o espaço.
Seguindo pelo carreiro de pedras à minha frente, íamos dar a uma grande mesa de pedra, com o chão de ladrilho escuro à volta e posicionada no meio de um grande circulo de arbustos e flores. Mais para a frente um pequeno lago espelhava o céu nocturno.
O silêncio de espanto permitia-nos ouvir as cigarras a cantar e os sapos a chapinhar no lago.
-É claro que –começou Richard –Também temos uma piscina, mais para a direita, com cadeiras, bar e essas coisas todas que vocês usam para fazer festas.
Festas? Festas à seria? Eles deixavam-nos fazer isso? Quer dizer, daqui a um bocado também nos ofereciam quartos e pílulas, se era para darem tanta liberdade. Sempre imaginara aquele como um colégio onde não seria permitida muita coisa, devido ao seu estatuto, mas as afirmações do homem só pareciam contrariar-me. E a sua deixa seguinte não me deixou menos boquiaberta:
-Nunca foi nossa intenção tirar-vos a adolescência, este espaço é vosso, não à horas de recolher obrigatório a não ser que seja necessário, devido a condições excepcionais, não haverão centenas de castigos severos e deixar-vos-emos fazer aquilo que bem entenderem nas horas livres. Dar-vos-emos até mais liberdade do que os sítios de onde possam ter vindo, mas é claro que não podemos exagerar. Vocês podem beber, mas não em demasia, vocês podem sair da Casa, mas não podem trazer ninguém, vocês podem fazer festas, mas não podem fumar O QUE QUER QUE SEJA! -o tom em que fez a última afirmação pareceu extremamente grave, como se aquela fosse a regra principal. Não fumar. Certo. Também nunca tinha querido fazê-lo.
-Agora, quem pode acompanhar-me à cozinha para me ajudar a pôr a mesa? Por favor? Não vos vou obrigar, estou a pedir ajuda porque existem certas condições que nos obrigam a escolher muito bem o nosso pessoal, e neste momento estão todos concentrados no jantar.
Por mais curiosidade que tivesse em ver as cozinhas, deixei-me focar por ali, no meio do meu sonho. Queria poder sentar-me no jardim por uns minutos, sozinha, a absorvê-lo.
De qualquer forma, não houve falta de voluntários.
Caminhei devagar em direcção ao lago, ignorando a mesa de pedra coberta de linho suave. Só queria aquele sitio. Aquele bocadinho de calma.
Sentei-me, esticando as pernas ao meu lado, enquanto passava os dedos pela água calma.
Aquela água acalmava-me mais do que o meu banho quente. Aquele era o meu pequeno canto de Paraíso, o jardim mais belo que eu já tinha visto, como um conto de fadas, encantado e calmo. Só faltava o meu príncipe.
-Eu podia fazer de príncipe –murmurou uma voz, por cima de mim. Dei um salto, quase caindo ao lago.
Olhei para cima. Bryan olhavam-me, em pé.
Mas que raio…? Eu dissera aquilo em voz alta?
Ele viu o meu ar confuso, tomando-o por outra coisa.
-Estavas a entoar a melodia da branca de neve –esclareceu, com um sorriso, como se explicasse uma piada a uma criança.
Estava? Não me lembrava de o ter estado a fazer, mas bem podia ter sido verdade. A ideia fez-me corar.
Ele sentou-se ao meu lado, fitando o lago intensamente.
-Eu também sei isso decor… -murmurou, fazendo formas variadas na água –Fartava-me de ver a Branca de Neve e os Sete Anões com a minha irmã mais velha… Ela ficou muito triste quando lhe dissemos que vínhamos… E furiosa, completamente furiosa por não a aterem escolhido também… Enfim –suspirou – se calhar era velha demais…
Sorri-lhe, com uma naturalidade invulgar em mim e na minha dificuldade em meter conversa.
-Pois… A minha mãe estava histérica, nem uma ponta de dificuldade e ver-me partir… Mas acho que ela é mesmo assim, não posso censurá-la por gostar tanto… Parece que só os meus amigos tiveram dificuldade em ver-me partir.
Ele pareceu ponderar nas minhas palavras.
-Exactamente… No fim de contas, acho que só querem o melhor para nós, de uma forma muito invulgar…
Assenti.
-És a Allison, certo? –interrogou.
Acenei novamente, embaraçada com a memória de à pouco.
-Desculpa aquilo de há bocado… Mas pareceste-me alguém que tinha de se pôr mais à vontade.
Rangi os dentes.
-Acho que tinha ficado melhor se me limitasse a falar com as pessoas.
Ele riu-se.
-Mas tínhamos perdido uma boa oportunidade de rir!
Depois ignorei. Ignorei que não nos conhecêssemos, ignorei que era a primeira vez que lhe falava… Os gestos eram algo que já me parecia natural e parte daquilo, mesmo que fosse a primeira vez que falávamos… Sentia que, de certa forma, havia mais intimidade entre nós do que havia entre mim e outras pessoas que conhecia. Não era um gesto difícil, ou algo esquisito ou que precisasse de tanta reflexão, mas tinha de reconhecer que só o faria com alguém que conhecesse bem, ou que fosse meu amigo. E foi essa a razão que me fez pensar tanto nele.
Abri a mão em concha enfiei-a na água, e depois foi só fazer um pequeno movimento para que ele ficasse encharcado.
A ele também não pareceu mau, nem ficou constrangido. Era como se sentisse que, tal como eu, não parecia haver uma grande barreira a separar-nos agora
-Hey! –reclamou, só para a seguir imitar o meu gesto.
Ri-me e desviei-me da água, tentando, por minha vez, acertar-lhe. Não estava frio e as nossas roupas secavam facilmente.
Por fim, levantámo-nos, ao ouvirmos Richard falar e pedir que nos aproximássemos todos.
Bem, a mesa já está posta, por isso só falta sentarmo-nos e comer! –dizia ele, quando nos chegámos perto o suficiente para ouvir – Já é uma tradição abandonar o pátio e deixar os alunos a comer e conviver… Enfim, eu sei bem o quão ordinários estas jantares se podem tornar, e odiava ter de estar cá, porque se o fizesse vocês não estariam tão à vontade e seria muito mau da minha parte estragar-vos a diversão… No entanto, vocês já devem saber como sair daqui, mal se organizem todos, sigam pelo corredor e saiam pela terceira porta à esquerda, por favor! Estarei lá à vossa espera! Ah e, por favor, cheguem antes das onze. Em dias normais não vos daria uma hora certa, mas hoje temos muito que conversar!
Nesse momento, virou-nos costas e saiu pela porta, deixando-a aberta.
Da ombreira sai um cheiro delicioso.
Não demorou muito tempo para vermos sair os diversos empregado, transportando travessas metálicas carregadas de comida e pousando-as na mesa, para a qual corremos.
As cadeiras de pedra tinham assentes sobre elas diversas almofadas confortáveis, em tons de verde pastel.
No lugar onde me sentei, entre Celine e Bryan, tinha uma enorme e suculenta vista panorâmica para um gigantesco frango assado, coberto com molho translúcido.
Vi Celine torcer-lhe o nariz.
-Não comes? –perguntei-lhe, enquanto cortava um pedaço da ave colossal.
Ela emitiu um ruído semelhante a «Nããã…».
-Prefiro coisas mais leves e depois acrescentou, com os olhos colados ao lado oposto da mesa –Tipo aqueles panados de porco!
Saltou imediatamente para fora da cadeira, com o prato nas mãos, enquanto eu me servia com batatas cozidas e alguma salda.
Bryan, ao meu lado, comia alegremente, com uma enorme posta de peixe fresco à frente do nariz.
-Se em minha casa fosse assim todos os dias –conseguiu articular, entre garfadas.
Estava descontraído, completamente descontraído, naquela posição. Estava sentado ao meu lado, tão junto a mim que quando o seu braço se movia roçava o meu. O contacto dava-me arrepios, mas eram arrepios de prazer, que pareciam deixar aquela zona dormente e leve. Será que ele sentia o mesmo ao roçar o seu braço no meu? Recordei a cena do lago. Não tínhamos falado muito, mas parecíamos íntimos como amigos de longa data, amigos em quem podíamos confiar e com quem podíamos brincar de certa forma. Mas eu não estava certa de ser apenas aquilo que queria…
Abanei a cabeça. Aquilo era ridículo. Eu não o conhecia! No entanto… Bem, ele parecera preocupado comigo quando me agarrara o braço na pequena sala, ele tinha apontado para mim, em vez dos outros rostos da sala, ele tinha vindo ter comigo, desabafara comigo, falara comigo como se… como se…
Bem, na melhor das hipóteses, como se… Não encontrava propriamente uma razão lógica para aquilo, da mesma forma que não arranjava uma palavra… E agora, agora olhava-me com um certo brilho nos olhos, um brilho de… Interesse? Talvez, não o sabia dizer ao certo.
-Não comes? –perguntou, sorrindo.
Dei-me um safanão, atingindo Celine, que tinha voltado com o prato cheio de bifes panados e arroz de ervilhas.
-Estava só a… Pensar! –«a pensar no quanto gostaria de colar os meus lábios aos teus, neste preciso momento…» acrescentei, sem sentir necessidade de o referir em voz alta.
-Ok –respondeu, com um ligeiro encolher de ombros –Mas eu aconselhava-te a despachar, são dez e meia.
Dez e Meia? ,as afinal, quanto tempo tinham eles demorado a pôr a mesa? Quanto tempo demorara percorrer o corredor? Quanto tempo ficara eu ao pé do lago? E quanto tempo ficara a divagar?
Sorri e atirei-me ao prato. Não levaria muito tempo a terminá-lo.
Ele observava-me, não acompanhando o irmão quando este saiu, convidando Celine para ir com ele, nem nenhum dos outros que o convidava. Era como se estivesse preso aos movimentos que o meu garfo fazia.
Quando terminei, dez minutos depois, as últimas pessoas estavam a sair da mesa.
Pronto, o resto é na próxima semana!
___
Bjs,
Tina!
A verdade é que tomei uma decisão em relação á Série, respectivamente a volumes e assim.
Então, Estará dividido em volumos, que ainda não sei quantos serão, e cada volume estara dividido por partes (chama-se a este fenómeno organização)
O Primeiro Volume, The Allison's Secret, é o que está a ser escrito agora, ainda só vou na primeira parte, The Book é o seu nome (e não direi porquê!!)
E como nome de referência (o nome de toda a série) ficará Good? or Evil? que me está a servir de Sub-Titulo ali em cima ;D
E pronto, acho que é só...
Ah, bem, que se lixe xD
Vou lançar aqui, só porque sou simpática, a 1ª Parte do 8º Capítulo! Ainda não sei se lançarei a 2ª Parte na Próxima Terça ou se lançarei esse e o 9º... Mas este era muito comprido para uma só postagem xD
Espero que Gostem!
Estaria doida? Não, isso não podia ser. Eu tinha-o visto, sentido, ele estava ali, e eu sabia disso… Mas mesmo não estando doida, estava assustado –isso sim, e muito.
Mas aquilo não deveria ser assim… Eu não sentira medo, choque ou surpresa quando fora assaltada pela súbita capacidade de ver luzes, interiores… Tinha sido natural, como se já fizesse parte de mim… Então porquê? Porque é que o sentia agora? Ou melhor, porque é que não sentira medo antes?
Tinha centenas de perguntas –algumas muito parecidas, admito –mas nenhuma resposta –e, acreditem ou não, isso muito, muito, mas um-u-u-ito irritante.
A sala estava agitada, ainda retendo na memória aqueles últimos episódios, e não me deixava pensar claramente ou reflectir no assunto. Também não tinha importância, não encontraria resposta na mesma.
Vi, pelo canto do olho, que Celine conversava agora com Mark, esquecendo completamente que eu ali estava. Já era previsível, afinal ela era super sociável, ia sempre arranjar gente com quem conversar.
Todos pareciam ter esquecido o “jogo” que tínhamos começado, mas já deviam saber os nomes da geralidade –pois todos eles, à excepção da esquisitinha e de mim própria, falavam com alguém.
Ouvi a porta ranger e virei-me instintivamente, assim como os restante dezanove pares de olhos, para Richard, que aparecia por ali.
O seu olhar revelava cansaço, atribuindo-lhe mais vinte anos do que os que parecia ter –e isso deixou-me contente por, finalmente, lhe poder atribuir a idade que tinha.
-Houveram uns… hum… problemas. –disse ele, depois a sua cara descontraiu, voltando ao seu estado original sem uma gota de cansaço –Mas não se preocupem, não anda nenhum Serial-Killer por aqui, por mais que alguns de vocês pudessem gostar da ideia.
Ouviram-se alguns risos e umas falsas exclamações de «Ohh!».
Ele soltou umas gargalhadas, antes de nos encarar novamente:
-Terei algumas informações importantes a dar-vos, mas, primeiro, temos de ir jantar. São oito e dez e está mais do que na hora de ir pôr a mesa… Bem, queria deixar-vos a conviver lá fora enquanto esperávamos pela hora certa, mas aparentemente também o fizeram aqui, por isso não haverá problema!
Depois saiu, com um pequeno aceno para que os seguíssemos.
Fomos conduzidos pelo mesmo corredor que percorrêramos à chegada, mas desta vez não paramos no átrio, dirigindo-nos sempre sem frente, pelas inúmeras voltinhas.
O vestíbulo não deveria ter mais do que um metro e meio de largura, comprimindo-nos numa massa de cabelos, roupa e pele, para não falar do suor –aparentemente, alguns rapazes (e uma rapariga) não usavam desodorizante.
Mas, finalmente, pude soltar a respiração, quando Richard abriu a pequena porta que existia no fundo do corredor.
-Ei-la! –proferiu, abrindo os braços teatralmente, ao sair para o ar quente do Verão.
Na realidade, os seus movimentos pareceram-me modestos quando contemplei a verdadeira beleza do sitio onde nos encontrávamos.
Era um jardim, que se estendia até a umas grandes árvores à minha frente, e perdia de vista para o meu lado direito, tapado por alguns arbustos.
Encontrávamo-nos num pequeno pátio pavimentado, cheio das mais belas flores, como rosas e jasmins, jarros e tulipas, tudo o que se podia imaginar.
O jardim estava maravilhosamente ornamentado e organizado, com as rosas a trepar por armações de metal forjado, as tulipas e saborear a brisa em pequenos canteiros de pedra escura da mesma tonalidade do chão e os jarros a misturarem-se com os arbustos aparados.
Cada simples pormenor parecia importante e contribuía para embelezar o espaço.
Seguindo pelo carreiro de pedras à minha frente, íamos dar a uma grande mesa de pedra, com o chão de ladrilho escuro à volta e posicionada no meio de um grande circulo de arbustos e flores. Mais para a frente um pequeno lago espelhava o céu nocturno.
O silêncio de espanto permitia-nos ouvir as cigarras a cantar e os sapos a chapinhar no lago.
-É claro que –começou Richard –Também temos uma piscina, mais para a direita, com cadeiras, bar e essas coisas todas que vocês usam para fazer festas.
Festas? Festas à seria? Eles deixavam-nos fazer isso? Quer dizer, daqui a um bocado também nos ofereciam quartos e pílulas, se era para darem tanta liberdade. Sempre imaginara aquele como um colégio onde não seria permitida muita coisa, devido ao seu estatuto, mas as afirmações do homem só pareciam contrariar-me. E a sua deixa seguinte não me deixou menos boquiaberta:
-Nunca foi nossa intenção tirar-vos a adolescência, este espaço é vosso, não à horas de recolher obrigatório a não ser que seja necessário, devido a condições excepcionais, não haverão centenas de castigos severos e deixar-vos-emos fazer aquilo que bem entenderem nas horas livres. Dar-vos-emos até mais liberdade do que os sítios de onde possam ter vindo, mas é claro que não podemos exagerar. Vocês podem beber, mas não em demasia, vocês podem sair da Casa, mas não podem trazer ninguém, vocês podem fazer festas, mas não podem fumar O QUE QUER QUE SEJA! -o tom em que fez a última afirmação pareceu extremamente grave, como se aquela fosse a regra principal. Não fumar. Certo. Também nunca tinha querido fazê-lo.
-Agora, quem pode acompanhar-me à cozinha para me ajudar a pôr a mesa? Por favor? Não vos vou obrigar, estou a pedir ajuda porque existem certas condições que nos obrigam a escolher muito bem o nosso pessoal, e neste momento estão todos concentrados no jantar.
Por mais curiosidade que tivesse em ver as cozinhas, deixei-me focar por ali, no meio do meu sonho. Queria poder sentar-me no jardim por uns minutos, sozinha, a absorvê-lo.
De qualquer forma, não houve falta de voluntários.
Caminhei devagar em direcção ao lago, ignorando a mesa de pedra coberta de linho suave. Só queria aquele sitio. Aquele bocadinho de calma.
Sentei-me, esticando as pernas ao meu lado, enquanto passava os dedos pela água calma.
Aquela água acalmava-me mais do que o meu banho quente. Aquele era o meu pequeno canto de Paraíso, o jardim mais belo que eu já tinha visto, como um conto de fadas, encantado e calmo. Só faltava o meu príncipe.
-Eu podia fazer de príncipe –murmurou uma voz, por cima de mim. Dei um salto, quase caindo ao lago.
Olhei para cima. Bryan olhavam-me, em pé.
Mas que raio…? Eu dissera aquilo em voz alta?
Ele viu o meu ar confuso, tomando-o por outra coisa.
-Estavas a entoar a melodia da branca de neve –esclareceu, com um sorriso, como se explicasse uma piada a uma criança.
Estava? Não me lembrava de o ter estado a fazer, mas bem podia ter sido verdade. A ideia fez-me corar.
Ele sentou-se ao meu lado, fitando o lago intensamente.
-Eu também sei isso decor… -murmurou, fazendo formas variadas na água –Fartava-me de ver a Branca de Neve e os Sete Anões com a minha irmã mais velha… Ela ficou muito triste quando lhe dissemos que vínhamos… E furiosa, completamente furiosa por não a aterem escolhido também… Enfim –suspirou – se calhar era velha demais…
Sorri-lhe, com uma naturalidade invulgar em mim e na minha dificuldade em meter conversa.
-Pois… A minha mãe estava histérica, nem uma ponta de dificuldade e ver-me partir… Mas acho que ela é mesmo assim, não posso censurá-la por gostar tanto… Parece que só os meus amigos tiveram dificuldade em ver-me partir.
Ele pareceu ponderar nas minhas palavras.
-Exactamente… No fim de contas, acho que só querem o melhor para nós, de uma forma muito invulgar…
Assenti.
-És a Allison, certo? –interrogou.
Acenei novamente, embaraçada com a memória de à pouco.
-Desculpa aquilo de há bocado… Mas pareceste-me alguém que tinha de se pôr mais à vontade.
Rangi os dentes.
-Acho que tinha ficado melhor se me limitasse a falar com as pessoas.
Ele riu-se.
-Mas tínhamos perdido uma boa oportunidade de rir!
Depois ignorei. Ignorei que não nos conhecêssemos, ignorei que era a primeira vez que lhe falava… Os gestos eram algo que já me parecia natural e parte daquilo, mesmo que fosse a primeira vez que falávamos… Sentia que, de certa forma, havia mais intimidade entre nós do que havia entre mim e outras pessoas que conhecia. Não era um gesto difícil, ou algo esquisito ou que precisasse de tanta reflexão, mas tinha de reconhecer que só o faria com alguém que conhecesse bem, ou que fosse meu amigo. E foi essa a razão que me fez pensar tanto nele.
Abri a mão em concha enfiei-a na água, e depois foi só fazer um pequeno movimento para que ele ficasse encharcado.
A ele também não pareceu mau, nem ficou constrangido. Era como se sentisse que, tal como eu, não parecia haver uma grande barreira a separar-nos agora
-Hey! –reclamou, só para a seguir imitar o meu gesto.
Ri-me e desviei-me da água, tentando, por minha vez, acertar-lhe. Não estava frio e as nossas roupas secavam facilmente.
Por fim, levantámo-nos, ao ouvirmos Richard falar e pedir que nos aproximássemos todos.
Bem, a mesa já está posta, por isso só falta sentarmo-nos e comer! –dizia ele, quando nos chegámos perto o suficiente para ouvir – Já é uma tradição abandonar o pátio e deixar os alunos a comer e conviver… Enfim, eu sei bem o quão ordinários estas jantares se podem tornar, e odiava ter de estar cá, porque se o fizesse vocês não estariam tão à vontade e seria muito mau da minha parte estragar-vos a diversão… No entanto, vocês já devem saber como sair daqui, mal se organizem todos, sigam pelo corredor e saiam pela terceira porta à esquerda, por favor! Estarei lá à vossa espera! Ah e, por favor, cheguem antes das onze. Em dias normais não vos daria uma hora certa, mas hoje temos muito que conversar!
Nesse momento, virou-nos costas e saiu pela porta, deixando-a aberta.
Da ombreira sai um cheiro delicioso.
Não demorou muito tempo para vermos sair os diversos empregado, transportando travessas metálicas carregadas de comida e pousando-as na mesa, para a qual corremos.
As cadeiras de pedra tinham assentes sobre elas diversas almofadas confortáveis, em tons de verde pastel.
No lugar onde me sentei, entre Celine e Bryan, tinha uma enorme e suculenta vista panorâmica para um gigantesco frango assado, coberto com molho translúcido.
Vi Celine torcer-lhe o nariz.
-Não comes? –perguntei-lhe, enquanto cortava um pedaço da ave colossal.
Ela emitiu um ruído semelhante a «Nããã…».
-Prefiro coisas mais leves e depois acrescentou, com os olhos colados ao lado oposto da mesa –Tipo aqueles panados de porco!
Saltou imediatamente para fora da cadeira, com o prato nas mãos, enquanto eu me servia com batatas cozidas e alguma salda.
Bryan, ao meu lado, comia alegremente, com uma enorme posta de peixe fresco à frente do nariz.
-Se em minha casa fosse assim todos os dias –conseguiu articular, entre garfadas.
Estava descontraído, completamente descontraído, naquela posição. Estava sentado ao meu lado, tão junto a mim que quando o seu braço se movia roçava o meu. O contacto dava-me arrepios, mas eram arrepios de prazer, que pareciam deixar aquela zona dormente e leve. Será que ele sentia o mesmo ao roçar o seu braço no meu? Recordei a cena do lago. Não tínhamos falado muito, mas parecíamos íntimos como amigos de longa data, amigos em quem podíamos confiar e com quem podíamos brincar de certa forma. Mas eu não estava certa de ser apenas aquilo que queria…
Abanei a cabeça. Aquilo era ridículo. Eu não o conhecia! No entanto… Bem, ele parecera preocupado comigo quando me agarrara o braço na pequena sala, ele tinha apontado para mim, em vez dos outros rostos da sala, ele tinha vindo ter comigo, desabafara comigo, falara comigo como se… como se…
Bem, na melhor das hipóteses, como se… Não encontrava propriamente uma razão lógica para aquilo, da mesma forma que não arranjava uma palavra… E agora, agora olhava-me com um certo brilho nos olhos, um brilho de… Interesse? Talvez, não o sabia dizer ao certo.
-Não comes? –perguntou, sorrindo.
Dei-me um safanão, atingindo Celine, que tinha voltado com o prato cheio de bifes panados e arroz de ervilhas.
-Estava só a… Pensar! –«a pensar no quanto gostaria de colar os meus lábios aos teus, neste preciso momento…» acrescentei, sem sentir necessidade de o referir em voz alta.
-Ok –respondeu, com um ligeiro encolher de ombros –Mas eu aconselhava-te a despachar, são dez e meia.
Dez e Meia? ,as afinal, quanto tempo tinham eles demorado a pôr a mesa? Quanto tempo demorara percorrer o corredor? Quanto tempo ficara eu ao pé do lago? E quanto tempo ficara a divagar?
Sorri e atirei-me ao prato. Não levaria muito tempo a terminá-lo.
Ele observava-me, não acompanhando o irmão quando este saiu, convidando Celine para ir com ele, nem nenhum dos outros que o convidava. Era como se estivesse preso aos movimentos que o meu garfo fazia.
Quando terminei, dez minutos depois, as últimas pessoas estavam a sair da mesa.
Pronto, o resto é na próxima semana!
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Bjs,
Tina!
Capítulo 7
A tempo e tudo xD
Peço desculpa, eu não tenho um dedo de imaginação para estas pequenas introduções xD
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Acordei, estremunhada, com o quarto em pandemónio.
Peguei, automaticamente, no telemóvel, acto continuo de todas as manhãs (embora não fosse de manhã…), quase como se esperasse ter uma mensagem sorridente de Teresa a mandar-me levantar por causa do teste de Geologia –neste momento, já não havia esperança de que ela o voltasse a fazer.
O monitor iluminado parecia tão animado como sempre, com o seu habitual tema do Windows, como se nada tivesse mudado –apeteceu-me atirá-lo para o chão. Mas em vez disso, olhei para o topo direito, onde brilhava alegremente a indicação de que eram quatro horas e quarenta e sete minutos… Então porque é que me tinham acordado?
Não teria de me dar ao trabalho de pensar nisso se tivesse olhado logo para trás, onde Alicia e Robert ajudavam as quatro raparigas, já acordadas, a pegar nas respectivas malas –sem muita discussão, parecia ser o seu objectivo (que obviamente não se cumpriu).
Levantei-me, preguiçosamente, quase pisando Futsu, que fugiu para debaixo da cama e fui buscar as minhas restantes duas malas, que pousei diante do armário.
Comecei a retirar as T-Shirts que trouxera, mas deixei-as cair ao chão com o espanto. Dentro do armário estavam já várias peças de roupa, ocupando metade dele, todas elas dos mesmo tons de rosa, roxo e preto –com algum azul-escuro ocasional. Teria de partilhar o armário com aquilo? Bem, pelo menos ambas tínhamos a certeza de que não confundiríamos roupa.
-Meninas! –chamou Alicia, ao lado da minha cama. Todos os olhares se desviaram para ela, em jeito de interrogação –Ainda ninguém perguntou pela casa de banho, então decidi tomar a iniciativa.
Os olhares interrogativos acentuaram-se mais ainda por toda a sala enquanto ela se dirigia à parede, aparentemente vazia.
Cerrou o punho e deu três pancadas na parede.
Nada aconteceu por uns segundos, deixando toda a gente a pensar se teria aquilo sido uma partida, quando, aos poucos a parede sólida pareceu começar a mover-se, lentamente.
Passado pouco tempo, cerca de três metros de parede tinham-se movido para uma posição horizontal, deixando duas entradas para uma gigantesca Casa de Banho.
-Tecnologia –esclareceu a pequena mulher, em resposta aos olhares espantados de toda a gente. Hum… Boas condições não me faltavam ali, mas agora é que o significado da frase «Os bens materiais não são o mais importante» ribombava, alto e bom som, na minha cabeça –Não que eu fosse do género de pessoa que achava isso extraordinariamente importante, mas sempre fora da opinião de que contribuíam ligeiramente para a felicidade do ser humano. Era mentira. Os longos corredor, os Átrios de mármore, os elevadores espaçosos, os quartos magníficos e as casas de banho inovadoras, dispensava-as: sempre fora muito feliz como era –normal, com uma qualidade financeira igual a de todas as pessoas comuns –mas essa felicidade parecera abandonar-me, agora que me via rodeada de todo o tipo de luxo.
«OK, vamos deixar os pensamentos filósofos de lado, preciso de um banho de espuma ve-e-e-erdadeiramente relaxante.»
O alarme do meu telemóvel apitou, poucos segundos depois de acabar de secar o cabelo –ficara horas no banho após, fortuitamente, descobrir um enorme conjunto de todo o tipo de cristais e espumas de banho –anunciando que faltavam dez minutos para as sete.
Por todo o lado ouviam-se uns ocasionais «Oh Meu Deus!» e «Ai Mãezinha!» enquanto as quatro raparigas corriam por todo o quarto, revolvendo malas à procura de brincos ou casacos dos quais não tinham vestígios, discutindo por causa de lip Glosses ou cosendo mangas que se tinham rasgado.
Também eu andara assim, mas fora à meia hora, quando decidira preparar-me para o jantar, e agora tinha o cabelo liso e penteado, umas calças de ganga preta justas, um top branco e um casaco encarnado, que condizia com um par de sandálias de salto alto que me haviam trazido do Brasil.
Peguei num espelho de bolso para colocar uns brincos redondos cor de cereja e acrescentar rímel às pestanas que, francamente, eram uma miséria.
Não era do tipo “super sociável”, então dispensei a parte de perguntar alto «Mais alguém está pronto?» como se nos conhece-se-mos há muito e saí para os elevadores.
Tal como Robert tinha feito antes, chamei o elevador, premindo o botão luminoso e entrei.
Tinha acabado de premir «13º» quando alguém entrou apressadamente no elevador.
Era o rapaz vulgar, que, quando me viu, olhou-me de alto abaixo e assobiou –assobio que reconheci imediatamente como sendo aquele que ouvira horas antes, quando chegara.
-Be-e-e-em… Sou o Michael –apresentou-se –e tu?
Não lhe respondi e premi o botão que faria as portas fecharem-se.
-Hum… Doeu muito?
Oh não! Piropos bimbos não! Tudo menos isso! Claro que já sabia a resposta «O quê?» deveria dizer eu, ao que ele responderia «Sabes, quando caís-te do céu, porque pareces um anjo…» ou algo do género.
Vendo-me ausente de resposta, ele desistiu daquele, mas voltou a tentar.
-Então… Achas que poderia sugerir Stella? Porque és linda como uma! –sorriu-me, mexendo as sobrancelhas sugestivamente.
O elevador parou e as portas abriram-se.
Apressei-me a sair, deixando-o pendurado à espera de resposta.
Dirigi-me à sala na qual estivéramos antes, onde já se encontravam todos os dez rapazes e nenhuma outra rapariga.
Suspirei quando os olhares caíram sobre mim e ouvi alguém comentar «Olha uma despachada..» e receber como resposta «Mas está bem arranjada..» e arrancaram daí para uma conversa ordinária, durante a qual gozavam um com o outro.
Olhei, pelo canto do olho, para a direcção de onde viera o som e vi o rapaz Asiático a falar com um qualquer do outro grupo.
A maçã de Adão era bem visível, os olhos finos e o cabelo chegava-lhe ao queixo.
Deixei-me ficar encostada a uma parede, à espera de alguma rapariga (e de preferência gira) que fizesse com que todos os rapazes descolassem os olhos de mim.
Cinco minutos depois, a rapariga das sandálias entrou, desta vez com um vestido simples, branco e dirigiu-se a mim.
Não falou, limitou-se a encostar-se ao meu lado, e de certa maneira, tinha a sensação de estarmos ambas a pensar no mesmo.
-Sou Celine, Celine Smith –disse, decididamente mas a sorrir, virando-se para mim.
-O...Olá - foi a única coisa que consegui articular, espantada.
Ela pareceu ligeiramente envergonhada.
-D…Desculpa –balbuciou, corando –As raparigas no meu dormitório… bem… ninguém por lá fala, e eu estou a morrer para poder falar com alguém…
-Oh, deixa estar –respondi, compreendendo-a –Eu vi as raparigas com quem tiveste de ficar –e depois baixei a cabeça, corada.
–Desculpa… -murmurei, ela riu-se.
-Oh, não faz mal, quer dizer, uma é uma rameira qualquer, outra uma parola com a qual, simplesmente, não consigo falar, a terceira é betinha demais e a que sobra não parece estar disposta a falar, fiquei num grupo mesmo mauzinho.
-Digamos que o que é mesmo “mauzinho” é termos de aqui estar… Longe de toda a gente que conhecemos… -depois acrescentei –Ah, e sou a Allison, Allison Jenkins.
-Prazer… É mesmo horrível, de repente, ver-me longe de toda a gente que conheço, realmente… Mas bem, vamos ter de suportar isto durante três anos…
-Pois… A não ser que nos matemos ou sejamos mortas…
-Não gosto da ideia de me matar, se talvez eu arranjasse alguém que o fizesse por mim… -e deitou-me um olhar prolongado, fingindo-se expectante.
Sorri-lhe.
-Desculpa, não quero manchar já a minha reputação com um assassínio brutal.
Pelo menos alguém simpático ali no meio, era o que a minha mente praticamente berrava, enquanto ela me retribui-a o sorriso.
Parecia o género de rapariga “super sociável”, que poderia manter uma conversa estável com alguém, sem parecer forçada como eu ou intrometida como certas pessoas que conhecia, era capaz de me fazer sorrir sem ter de se rir primeiro ou fazer alguma coisa com as respostas que lhe dava, o que tornava a minha tarefa bastante mais fácil.
A porta abriu-se, e o velho entrou, observando a sala.
-Hum… Iria jurar que eram dez raparigas… -murmurou, coçando o queixo, e depois sorriu, falando em voz alta –Bem , é por isso que marco sempre para as sete e não para as sete e meia, que era a hora a que vos queria cá…
Ouviram-se risos abafados e comentários, pela parte dos rapazes.
-Pois bem, também não podemos começar sem elas, por isso… O que é que podemos fazer na próxima meia hora…
Coçou o queixo, como se estivesse pensativo.
-Bem, nomes e caras, não sei os vossos nomes decor… Comecemos pelos rapazes. Deixa cá ver… Tu! E depois tu próprio indicarás quem deverá revelar o seu nome, é uma forma prática de decorarmos os nomes uns dos outros –depois sorriu –Todos precisamos de recordar a infância qualquer dia!
Depois deste comentário, o ambiente ficou mais descontraído e o rapaz com cara de gorila, para quem ele apontara, afirmou, prontamente.
-Gabe, Gabe Martin.
Perscrutou com atenção a multidão, e depois apontou para o rapaz de cabelo loiro.
Ele sorriu.
-Bryan, Bryan Russell.
Assentiu.
Bryan olhou para cada um, observando os rostos de todos. Depois fitou-me, e o seu sorriso alargou-se, como que em gozo.
-Tu –afirmou, apontando.
Boa! Perfeito! Excelente! É claro que ele tinha percebido que não queria que me escolhesse, que preferia ficar para o fim e que dispensava apontar para quem quer que fosse… E muito menos do que isso queria que fosse ele a escolher-me…
Corei até à raiz dos cabelos.
«Alisson, Alisson Jenkins» pensei. Só segundos mais tarde me apercebi de que não falara, e continuava corada e de olhos baixos, o que fazia com que por toda a sala ecoassem gargalhadas.
-Allison, Allison jenkins –balbuciei rapidamente, tropeçando nas palavras.
-Prazer –respondeu ele, com o sorriso aberto.
Olhei em volta, e não vi mais nenhuma saída que não fosse aquela.
Por isso, acenei timidamente com o queixo na direcção de Celine.
Ela sorriu-me, e respondeu-me: -Celine, Celine Smith.
Depois olhou para a sala toda, e apontou para o irmão de Bryan.
-Tu pareces-me bem –afirmou, olhando para cima como que a provocá-lo.
Bryan deu um ligeiro empurrão ao irmão.
-Hum…Mark, Mark Russell.
-Parece-me bem –aprovou ela.
Mark olhava em volta, para os rostos de cada um, quando alguém abriu a porta bruscamente.
-Rápido! É importante, fugiu lá em baixo e… -um homem de cabelos grisalhos acabara de entrar, e quando se apercebeu de nós, pareceu estacar, como se tivesse dito de mais –Erm… Olá pessoal… Já lhes disseste, Richard?
-Não –murmurou o velho.
-Oh…-tinha ar de quem metera a pata na poça –Estou a ver..
Depois começou a falar muito rápido, com ar preocupado –preocupação que tingiu também a cara de Richard (era bom poder dar-lhe, finalmente, um nome, em vez de ter de pensar nele como o inominável avozinho). Consegui distinguir apenas frases soltas como «Não sabemos como», «parecia ter um grade poder», «Ninguém o sentiu» e «Foi um golpe muito pensado»… Mas que raio? Parecia que fugira um assassino –ou pior.
-Hum… Meninos, fiquem aqui, por favor! Ninguém se mexe, ninguém sai daqui! Eu asseguro-vos que quem quer que seja que ponha um pé fora desta sala será severamente castigado! –tinha as narinas dilatas de raiva, o sobrolho carregado e o olhar irado –E acreditem, isto é para o vosso bem! Passem a mensagem aos vossos colegas!
Saiu da sala a passos largos, seguido por murmúrios de espanto.
Mas que…? Bem, não sabia o que é que podia estar naquela sitio que fosse assim tão mau… No entanto, tinha uma leve impressão de que era muito mau e que também havia por ali um segredo…
Os minutos passaram, prolongando cada segundo tortuosamente e deixando-nos ainda mais às escuras, sem novidades ou sequer um sinal de que o tempo estava a passar, exceptuando o facto de entrar uma pessoa de vez em quando.
Quando olhei para o relógio, espantei-me ao verificar que já eram sete e quarenta, e continuava a não haver noticia nenhuma.
-O que é que será que está acontecer!?! –quase gritava, em pânico, a parvinha, que vestia agora um grande vestido com sai do género balão (nojento) – Será assim tão grave??? Vamos todos morrer aqui, eu já sabia, devia ter ficado em casa e…
Nesse momento, alguém se aproximou dela e deu-lhe uma estalada, com tanta força que o ruído ecoou pela sala –deixando a outra zonza.
As conversas começaram rapidamente, reacções de gozo, gargalhadas e até incentivos de continuação.
Mas eu não ouvi, assim como não ouvi Celine segredar-me algo, assim como não vi quem dera a estalada… Eu não sentia nada, estava distraída com outra coisa…
-Ally…
Era quase como se alguém me murmurasse ao ouvido, chamando-me.
-Anda lá…
Continuava, insistente. Olhei à volta, mas não vi ninguém que pudesse dirigir-me aquelas palavras… Mas eu sentia-o!
Era como uma presença, uma luz… Ou como o contrário disso. Sentia a presença ali, como uma luz e o seu oposto, como um grande buraco negro, mas que mesmo assim emitia um brilho cegante –e não era o único: toda a gente à minha volta passara a emitir leves brilhos, cada um com a sua mistura de cores e sensações, com os seus próprios gostos e sentimentos.
Era de certa maneira magnifico, poder ver tudo aquilo, como se tivesse virado toda a gente ao contrário e pudesse ver o seu interior.
-Tens medo de mim? –perguntou, de novo, a presença mais brilhante.
Pensei bem antes de responder. A sua luz, os sentimentos, os gostos… Tudo era confuso e parecia velar-se-me e entregar-se-me ao mesmo tempo, como se visse mas não visse na realidade, como ler um livro mas não conseguir interpretá-lo.
Mas não parecia mau, conseguia ver através da voz masculina sentimentos de alegria e felicidade eterna, e como poderia um interior mentir? Tinha uma nova e estranha capacidade, mais ninguém a possuía, como podiam mentir se não sabiam como funcionava?
-N… Não –murmurei, em resposta.
-Então anda, estou mesmo atrás da porta!
Oh, afinal era uma pessoa, alguém que me conseguia atingir com a sua voz, era só dar uns passos e abrir a porta para ver o sedutor dono da voz.
« Quem quer que seja que ponha um pé fora desta sala será severamente castigado!» ressoou, como um balde de água fria, na minha memória, assustando-me e fazendo-me recuar.
Mas por outro lado… O que poderia ele fazer? Não estava ali à porta nem em mais lado nenhum, não podia dizer-me nada –e também ninguém me podia denunciar, porque a vida não lhe correria bem daí em diante se o fizesse.
Avancei para o manipulo da porta, os dedos a escassos centímetros da superfície metálica que me conduziria à verdade.
-Boa, vem Ally! Não sabes o quanto quero ver-te! –voltou a dizer a presença. Conseguia sentir a sua excitação debaixo da minha pele.
Agarrei o manipulo frio, rodei-o e senti algo forte agarrar-me o braço. Uma luz parecia estar preocupada, mesmo em cima de mim.
Sacudi o braço, para que me largasse, e empurrei a porta, desfrutando da brisa suave que vinha lá de fora.
Sentia a presença mesmo à minha frente, suave e sedutora, alegre e excitada. Estendi a mão para lhe tocar, disposta a sentir o calor da sua face, disposta a sentir o seu toque e…
Senti um puxão forte no braço, que me obrigou a recuar cambaleante e a sair do meu transe –a luz que sentira à pouco pareceu fugir e escapar-me por entre os dedos.
-Allison! Estás maluca? Não ouvis-te o que nos disseram? –Celine fechou fortemente a porta atrás de si –Por amor de Deus, até o Bryan te agarrou!
Olhei em volta –parecia que todas as pessoas se tinham virado do avesso de novo, ocultando-me as suas luzes e capacitando-me de ver os seus rostos, todos eles fixos em mim.
-Sim, porque é que saís-te? –interrogou Bryan.
Nem tive tempo de suspirar por ter falado comigo, pois a mesma pergunta explodia na minha cabeça: Porque é que eu fora?
No entanto, decidi-me a não lhes contar a verdade, algo me alertava para tal –e parte desse algo tinha haver com a minha amada “primeira impressão”.
-Eu… Eu estava a sentir-me zonza, precisava de apanhar ar –balbuciei, confusa.
-Então não voltes a fazê-lo, ainda te pões em perigo –sibilou Celine, claramente chateada com o facto de eu poder ser castigada –se não expulsa.
-Desculpem… -murmurei, compreendendo que também se preocupavam com o que lhes podia ter acontecido a eles.
Aos poucos, a sala voltou ao seu comum estado tumultuoso e agitado, mas ninguém voltou a dirigir-me palavra.
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Bjs,
Tina!
Peço desculpa, eu não tenho um dedo de imaginação para estas pequenas introduções xD
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Acordei, estremunhada, com o quarto em pandemónio.
Peguei, automaticamente, no telemóvel, acto continuo de todas as manhãs (embora não fosse de manhã…), quase como se esperasse ter uma mensagem sorridente de Teresa a mandar-me levantar por causa do teste de Geologia –neste momento, já não havia esperança de que ela o voltasse a fazer.
O monitor iluminado parecia tão animado como sempre, com o seu habitual tema do Windows, como se nada tivesse mudado –apeteceu-me atirá-lo para o chão. Mas em vez disso, olhei para o topo direito, onde brilhava alegremente a indicação de que eram quatro horas e quarenta e sete minutos… Então porque é que me tinham acordado?
Não teria de me dar ao trabalho de pensar nisso se tivesse olhado logo para trás, onde Alicia e Robert ajudavam as quatro raparigas, já acordadas, a pegar nas respectivas malas –sem muita discussão, parecia ser o seu objectivo (que obviamente não se cumpriu).
Levantei-me, preguiçosamente, quase pisando Futsu, que fugiu para debaixo da cama e fui buscar as minhas restantes duas malas, que pousei diante do armário.
Comecei a retirar as T-Shirts que trouxera, mas deixei-as cair ao chão com o espanto. Dentro do armário estavam já várias peças de roupa, ocupando metade dele, todas elas dos mesmo tons de rosa, roxo e preto –com algum azul-escuro ocasional. Teria de partilhar o armário com aquilo? Bem, pelo menos ambas tínhamos a certeza de que não confundiríamos roupa.
-Meninas! –chamou Alicia, ao lado da minha cama. Todos os olhares se desviaram para ela, em jeito de interrogação –Ainda ninguém perguntou pela casa de banho, então decidi tomar a iniciativa.
Os olhares interrogativos acentuaram-se mais ainda por toda a sala enquanto ela se dirigia à parede, aparentemente vazia.
Cerrou o punho e deu três pancadas na parede.
Nada aconteceu por uns segundos, deixando toda a gente a pensar se teria aquilo sido uma partida, quando, aos poucos a parede sólida pareceu começar a mover-se, lentamente.
Passado pouco tempo, cerca de três metros de parede tinham-se movido para uma posição horizontal, deixando duas entradas para uma gigantesca Casa de Banho.
-Tecnologia –esclareceu a pequena mulher, em resposta aos olhares espantados de toda a gente. Hum… Boas condições não me faltavam ali, mas agora é que o significado da frase «Os bens materiais não são o mais importante» ribombava, alto e bom som, na minha cabeça –Não que eu fosse do género de pessoa que achava isso extraordinariamente importante, mas sempre fora da opinião de que contribuíam ligeiramente para a felicidade do ser humano. Era mentira. Os longos corredor, os Átrios de mármore, os elevadores espaçosos, os quartos magníficos e as casas de banho inovadoras, dispensava-as: sempre fora muito feliz como era –normal, com uma qualidade financeira igual a de todas as pessoas comuns –mas essa felicidade parecera abandonar-me, agora que me via rodeada de todo o tipo de luxo.
«OK, vamos deixar os pensamentos filósofos de lado, preciso de um banho de espuma ve-e-e-erdadeiramente relaxante.»
O alarme do meu telemóvel apitou, poucos segundos depois de acabar de secar o cabelo –ficara horas no banho após, fortuitamente, descobrir um enorme conjunto de todo o tipo de cristais e espumas de banho –anunciando que faltavam dez minutos para as sete.
Por todo o lado ouviam-se uns ocasionais «Oh Meu Deus!» e «Ai Mãezinha!» enquanto as quatro raparigas corriam por todo o quarto, revolvendo malas à procura de brincos ou casacos dos quais não tinham vestígios, discutindo por causa de lip Glosses ou cosendo mangas que se tinham rasgado.
Também eu andara assim, mas fora à meia hora, quando decidira preparar-me para o jantar, e agora tinha o cabelo liso e penteado, umas calças de ganga preta justas, um top branco e um casaco encarnado, que condizia com um par de sandálias de salto alto que me haviam trazido do Brasil.
Peguei num espelho de bolso para colocar uns brincos redondos cor de cereja e acrescentar rímel às pestanas que, francamente, eram uma miséria.
Não era do tipo “super sociável”, então dispensei a parte de perguntar alto «Mais alguém está pronto?» como se nos conhece-se-mos há muito e saí para os elevadores.
Tal como Robert tinha feito antes, chamei o elevador, premindo o botão luminoso e entrei.
Tinha acabado de premir «13º» quando alguém entrou apressadamente no elevador.
Era o rapaz vulgar, que, quando me viu, olhou-me de alto abaixo e assobiou –assobio que reconheci imediatamente como sendo aquele que ouvira horas antes, quando chegara.
-Be-e-e-em… Sou o Michael –apresentou-se –e tu?
Não lhe respondi e premi o botão que faria as portas fecharem-se.
-Hum… Doeu muito?
Oh não! Piropos bimbos não! Tudo menos isso! Claro que já sabia a resposta «O quê?» deveria dizer eu, ao que ele responderia «Sabes, quando caís-te do céu, porque pareces um anjo…» ou algo do género.
Vendo-me ausente de resposta, ele desistiu daquele, mas voltou a tentar.
-Então… Achas que poderia sugerir Stella? Porque és linda como uma! –sorriu-me, mexendo as sobrancelhas sugestivamente.
O elevador parou e as portas abriram-se.
Apressei-me a sair, deixando-o pendurado à espera de resposta.
Dirigi-me à sala na qual estivéramos antes, onde já se encontravam todos os dez rapazes e nenhuma outra rapariga.
Suspirei quando os olhares caíram sobre mim e ouvi alguém comentar «Olha uma despachada..» e receber como resposta «Mas está bem arranjada..» e arrancaram daí para uma conversa ordinária, durante a qual gozavam um com o outro.
Olhei, pelo canto do olho, para a direcção de onde viera o som e vi o rapaz Asiático a falar com um qualquer do outro grupo.
A maçã de Adão era bem visível, os olhos finos e o cabelo chegava-lhe ao queixo.
Deixei-me ficar encostada a uma parede, à espera de alguma rapariga (e de preferência gira) que fizesse com que todos os rapazes descolassem os olhos de mim.
Cinco minutos depois, a rapariga das sandálias entrou, desta vez com um vestido simples, branco e dirigiu-se a mim.
Não falou, limitou-se a encostar-se ao meu lado, e de certa maneira, tinha a sensação de estarmos ambas a pensar no mesmo.
-Sou Celine, Celine Smith –disse, decididamente mas a sorrir, virando-se para mim.
-O...Olá - foi a única coisa que consegui articular, espantada.
Ela pareceu ligeiramente envergonhada.
-D…Desculpa –balbuciou, corando –As raparigas no meu dormitório… bem… ninguém por lá fala, e eu estou a morrer para poder falar com alguém…
-Oh, deixa estar –respondi, compreendendo-a –Eu vi as raparigas com quem tiveste de ficar –e depois baixei a cabeça, corada.
–Desculpa… -murmurei, ela riu-se.
-Oh, não faz mal, quer dizer, uma é uma rameira qualquer, outra uma parola com a qual, simplesmente, não consigo falar, a terceira é betinha demais e a que sobra não parece estar disposta a falar, fiquei num grupo mesmo mauzinho.
-Digamos que o que é mesmo “mauzinho” é termos de aqui estar… Longe de toda a gente que conhecemos… -depois acrescentei –Ah, e sou a Allison, Allison Jenkins.
-Prazer… É mesmo horrível, de repente, ver-me longe de toda a gente que conheço, realmente… Mas bem, vamos ter de suportar isto durante três anos…
-Pois… A não ser que nos matemos ou sejamos mortas…
-Não gosto da ideia de me matar, se talvez eu arranjasse alguém que o fizesse por mim… -e deitou-me um olhar prolongado, fingindo-se expectante.
Sorri-lhe.
-Desculpa, não quero manchar já a minha reputação com um assassínio brutal.
Pelo menos alguém simpático ali no meio, era o que a minha mente praticamente berrava, enquanto ela me retribui-a o sorriso.
Parecia o género de rapariga “super sociável”, que poderia manter uma conversa estável com alguém, sem parecer forçada como eu ou intrometida como certas pessoas que conhecia, era capaz de me fazer sorrir sem ter de se rir primeiro ou fazer alguma coisa com as respostas que lhe dava, o que tornava a minha tarefa bastante mais fácil.
A porta abriu-se, e o velho entrou, observando a sala.
-Hum… Iria jurar que eram dez raparigas… -murmurou, coçando o queixo, e depois sorriu, falando em voz alta –Bem , é por isso que marco sempre para as sete e não para as sete e meia, que era a hora a que vos queria cá…
Ouviram-se risos abafados e comentários, pela parte dos rapazes.
-Pois bem, também não podemos começar sem elas, por isso… O que é que podemos fazer na próxima meia hora…
Coçou o queixo, como se estivesse pensativo.
-Bem, nomes e caras, não sei os vossos nomes decor… Comecemos pelos rapazes. Deixa cá ver… Tu! E depois tu próprio indicarás quem deverá revelar o seu nome, é uma forma prática de decorarmos os nomes uns dos outros –depois sorriu –Todos precisamos de recordar a infância qualquer dia!
Depois deste comentário, o ambiente ficou mais descontraído e o rapaz com cara de gorila, para quem ele apontara, afirmou, prontamente.
-Gabe, Gabe Martin.
Perscrutou com atenção a multidão, e depois apontou para o rapaz de cabelo loiro.
Ele sorriu.
-Bryan, Bryan Russell.
Assentiu.
Bryan olhou para cada um, observando os rostos de todos. Depois fitou-me, e o seu sorriso alargou-se, como que em gozo.
-Tu –afirmou, apontando.
Boa! Perfeito! Excelente! É claro que ele tinha percebido que não queria que me escolhesse, que preferia ficar para o fim e que dispensava apontar para quem quer que fosse… E muito menos do que isso queria que fosse ele a escolher-me…
Corei até à raiz dos cabelos.
«Alisson, Alisson Jenkins» pensei. Só segundos mais tarde me apercebi de que não falara, e continuava corada e de olhos baixos, o que fazia com que por toda a sala ecoassem gargalhadas.
-Allison, Allison jenkins –balbuciei rapidamente, tropeçando nas palavras.
-Prazer –respondeu ele, com o sorriso aberto.
Olhei em volta, e não vi mais nenhuma saída que não fosse aquela.
Por isso, acenei timidamente com o queixo na direcção de Celine.
Ela sorriu-me, e respondeu-me: -Celine, Celine Smith.
Depois olhou para a sala toda, e apontou para o irmão de Bryan.
-Tu pareces-me bem –afirmou, olhando para cima como que a provocá-lo.
Bryan deu um ligeiro empurrão ao irmão.
-Hum…Mark, Mark Russell.
-Parece-me bem –aprovou ela.
Mark olhava em volta, para os rostos de cada um, quando alguém abriu a porta bruscamente.
-Rápido! É importante, fugiu lá em baixo e… -um homem de cabelos grisalhos acabara de entrar, e quando se apercebeu de nós, pareceu estacar, como se tivesse dito de mais –Erm… Olá pessoal… Já lhes disseste, Richard?
-Não –murmurou o velho.
-Oh…-tinha ar de quem metera a pata na poça –Estou a ver..
Depois começou a falar muito rápido, com ar preocupado –preocupação que tingiu também a cara de Richard (era bom poder dar-lhe, finalmente, um nome, em vez de ter de pensar nele como o inominável avozinho). Consegui distinguir apenas frases soltas como «Não sabemos como», «parecia ter um grade poder», «Ninguém o sentiu» e «Foi um golpe muito pensado»… Mas que raio? Parecia que fugira um assassino –ou pior.
-Hum… Meninos, fiquem aqui, por favor! Ninguém se mexe, ninguém sai daqui! Eu asseguro-vos que quem quer que seja que ponha um pé fora desta sala será severamente castigado! –tinha as narinas dilatas de raiva, o sobrolho carregado e o olhar irado –E acreditem, isto é para o vosso bem! Passem a mensagem aos vossos colegas!
Saiu da sala a passos largos, seguido por murmúrios de espanto.
Mas que…? Bem, não sabia o que é que podia estar naquela sitio que fosse assim tão mau… No entanto, tinha uma leve impressão de que era muito mau e que também havia por ali um segredo…
Os minutos passaram, prolongando cada segundo tortuosamente e deixando-nos ainda mais às escuras, sem novidades ou sequer um sinal de que o tempo estava a passar, exceptuando o facto de entrar uma pessoa de vez em quando.
Quando olhei para o relógio, espantei-me ao verificar que já eram sete e quarenta, e continuava a não haver noticia nenhuma.
-O que é que será que está acontecer!?! –quase gritava, em pânico, a parvinha, que vestia agora um grande vestido com sai do género balão (nojento) – Será assim tão grave??? Vamos todos morrer aqui, eu já sabia, devia ter ficado em casa e…
Nesse momento, alguém se aproximou dela e deu-lhe uma estalada, com tanta força que o ruído ecoou pela sala –deixando a outra zonza.
As conversas começaram rapidamente, reacções de gozo, gargalhadas e até incentivos de continuação.
Mas eu não ouvi, assim como não ouvi Celine segredar-me algo, assim como não vi quem dera a estalada… Eu não sentia nada, estava distraída com outra coisa…
-Ally…
Era quase como se alguém me murmurasse ao ouvido, chamando-me.
-Anda lá…
Continuava, insistente. Olhei à volta, mas não vi ninguém que pudesse dirigir-me aquelas palavras… Mas eu sentia-o!
Era como uma presença, uma luz… Ou como o contrário disso. Sentia a presença ali, como uma luz e o seu oposto, como um grande buraco negro, mas que mesmo assim emitia um brilho cegante –e não era o único: toda a gente à minha volta passara a emitir leves brilhos, cada um com a sua mistura de cores e sensações, com os seus próprios gostos e sentimentos.
Era de certa maneira magnifico, poder ver tudo aquilo, como se tivesse virado toda a gente ao contrário e pudesse ver o seu interior.
-Tens medo de mim? –perguntou, de novo, a presença mais brilhante.
Pensei bem antes de responder. A sua luz, os sentimentos, os gostos… Tudo era confuso e parecia velar-se-me e entregar-se-me ao mesmo tempo, como se visse mas não visse na realidade, como ler um livro mas não conseguir interpretá-lo.
Mas não parecia mau, conseguia ver através da voz masculina sentimentos de alegria e felicidade eterna, e como poderia um interior mentir? Tinha uma nova e estranha capacidade, mais ninguém a possuía, como podiam mentir se não sabiam como funcionava?
-N… Não –murmurei, em resposta.
-Então anda, estou mesmo atrás da porta!
Oh, afinal era uma pessoa, alguém que me conseguia atingir com a sua voz, era só dar uns passos e abrir a porta para ver o sedutor dono da voz.
« Quem quer que seja que ponha um pé fora desta sala será severamente castigado!» ressoou, como um balde de água fria, na minha memória, assustando-me e fazendo-me recuar.
Mas por outro lado… O que poderia ele fazer? Não estava ali à porta nem em mais lado nenhum, não podia dizer-me nada –e também ninguém me podia denunciar, porque a vida não lhe correria bem daí em diante se o fizesse.
Avancei para o manipulo da porta, os dedos a escassos centímetros da superfície metálica que me conduziria à verdade.
-Boa, vem Ally! Não sabes o quanto quero ver-te! –voltou a dizer a presença. Conseguia sentir a sua excitação debaixo da minha pele.
Agarrei o manipulo frio, rodei-o e senti algo forte agarrar-me o braço. Uma luz parecia estar preocupada, mesmo em cima de mim.
Sacudi o braço, para que me largasse, e empurrei a porta, desfrutando da brisa suave que vinha lá de fora.
Sentia a presença mesmo à minha frente, suave e sedutora, alegre e excitada. Estendi a mão para lhe tocar, disposta a sentir o calor da sua face, disposta a sentir o seu toque e…
Senti um puxão forte no braço, que me obrigou a recuar cambaleante e a sair do meu transe –a luz que sentira à pouco pareceu fugir e escapar-me por entre os dedos.
-Allison! Estás maluca? Não ouvis-te o que nos disseram? –Celine fechou fortemente a porta atrás de si –Por amor de Deus, até o Bryan te agarrou!
Olhei em volta –parecia que todas as pessoas se tinham virado do avesso de novo, ocultando-me as suas luzes e capacitando-me de ver os seus rostos, todos eles fixos em mim.
-Sim, porque é que saís-te? –interrogou Bryan.
Nem tive tempo de suspirar por ter falado comigo, pois a mesma pergunta explodia na minha cabeça: Porque é que eu fora?
No entanto, decidi-me a não lhes contar a verdade, algo me alertava para tal –e parte desse algo tinha haver com a minha amada “primeira impressão”.
-Eu… Eu estava a sentir-me zonza, precisava de apanhar ar –balbuciei, confusa.
-Então não voltes a fazê-lo, ainda te pões em perigo –sibilou Celine, claramente chateada com o facto de eu poder ser castigada –se não expulsa.
-Desculpem… -murmurei, compreendendo que também se preocupavam com o que lhes podia ter acontecido a eles.
Aos poucos, a sala voltou ao seu comum estado tumultuoso e agitado, mas ninguém voltou a dirigir-me palavra.
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Bjs,
Tina!
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