Eu sei que demorou, desculpem, tive umas coisas para fazer e distrai-me com as horas!
Mas mais vale tarde do que nunca!
-Ah! –exclamou ele, quando já toda a gente se preparava para fugir dali a sete pés –E não se esqueçam disto: Têm todos os pisos à vossa disposição, mas só desde o último até ao quinto. Os cinco pisos abaixo estão completamente proibidos.
“Sim, sim, o velho maluquinho com a mania de que está enfiado num filme do Harry Potter” foi a única coisa que me surgiu ao ouvi-lo falar.
Sim, eu vira aquilo, mas ia ignorar. Deixem-me pensar que o velho tinha um parafuso a menos, e que eu era normal. Eu. Era. Normal. Ponto.
Eu conseguia ouvir murmúrios à minha volta, nervosos, frustrados e até ansiosos. Nenhuns deles eram zangados. Ninguém parecia aborrecido por ter descoberto que era um anormalzinho. Eles até estavam excitados com a ideia.
Encostei-me à parede fria do elevador, desejando por segundos não ter uma mãe histérica, nem um papazinho orgulhoso… Raios, eu até preferia não ter mãe nem pai!
Não liguei ao toque gentil no meu ombro, nem à cotovelada que alguém me deu a sair do elevador, nem sequer liguei ao facto de ter torcido o pé quando o prendi na porta do quarto. Queria ir dormir.
-Meu Deus, quem foi que deixou isto aqui? Serviço rápido exclamou alguém, dentro do quarto. Apetecia-me dar-lhe um murro na cara.
No entanto, a vontade passou-me logo quando entrei. Eram as minhas malas. Era suposto terem chegado daí a uma semana, mas já lá estavam, assim como a minha velha guitarra (herança do meu tio, que tinha imigrado para o Brasil), e as diversas folhas de música. Era bom.
Agarrei nas malas que me restavam e encostei-as ao armário, enquanto me preparava para arrumar a guitarra no espaço vago da sala ao lado, para depois poder ir dormir… Dormir e esquecer que um velha maluquinho acabara de me dizer que eu era uma criatura das histórias para comer espinafres… Bah!
Enfiei-me na cama, confiante que iria conseguir adormecer, que devia estar cansada… Mentira. Não estava. Aliás, tinha dormido imenso durante a tarde… Merda! Agora tinha de pensar naquilo!
Ainda ouvia respirações ofegantes e risinhos… Elas não conversavam entre si, estavam apenas entusiasmadas… Embora eu não visse razão para isso… Quer dizer, não podia ver os meus amigos, tinha sido arrastada de casa e agora era uma aberração…
Não, não tinha sido mau sentir que devia ajudar a criancinha… Fazia-me sentir bem, mais viva e mais desperta… Assim como aquela cena de ver luzinhas saltitantes em vez de pessoas… Também era bom. Muito bom, aliás, mas… Mas fora esquisito, assustador… E eu tinha medo, por isso é que não estava feliz e aos saltinhos, tinha medo de tudo o que me poderia acontecer depois daquilo.
Desisti de dormir, ou de tentar, e sentei-me na cama. Não era a única.
Ao meu lado, a rapariga estava sentada, confiante com um meio sorriso na cara, e com a cabeça encostada às costas da cama.
Há frente dela, a outra, ainda com os óculos posto, lia um livro pesado com uma lanterna pequenina, daquelas com uma espécie de manivela e que não precisam de pilhas.
Ao seu lado, com um ar distante e ainda meio atordoado, repousava aquela que eu esperava ser normal como eu, deitada de costas e a olhar fixamente o tecto.
E, ao lado desta, estava a última, com os cabelos loiros a balançar ao ritmo compassado do seu corpo que, com as pernas embrulhadas uma na outra, movia-se em movimentos hipnóticos para um lado e para o outro.
Deixei os meus olhos fitar cada uma delas, sem dizer nada, apenas a absorver tudo… O ambiente, tenso e silencioso, as personalidades… E os sentimentos delas em relação àquilo que se passava… Talvez eu devesse sentir o mesmo, talvez eu devesse deixar-me levar e esquecer a vida passada… Podia parecer que aceitava tudo de uma forma muito precipitada, mas a verdade é que não à maneira de não o fazer. Eu tinha provas, evidencias… Estava tudo ali, na minha cabeça, eu vira-o com os meus olhos… Não o podia negar.
-Bem, o silencio está a tornar-se pesado, e se eu quisesse algo deprimente, atirava-me ali ao meu IPod, mas como hoje até me sinto mais ou menos entusiasmada, acho que podíamos começar a conviver e essas cenas habituais de cinco raparigas estranhas que se juntam num quarto. Por Amor de Alguém, será que temos de viver assim durante os próximos três anos?!
Toda a gente a fixou, embora os movimentos da rapariga à minha frente não tivessem cessado.
-Olá, sou a Megan. O meu apelido não interessa, podem descobri-lo depois.
Olhou à volta do quarto.
-Tu –apontou para a rapariga à frente dela –Tu chamas-te Marian.
A suposta Marian abriu muito os olhos, espantada, mas ela ignorou-a e virou-se para mim.
-Tu chamas-te… Allinson? Ou Allison?
-Allison –respondi, acto continuo.
Ela acenou, e virou-se para aquela que se encontrava ao lado de uma Marian deveras assustada.
-Tu deves ser Ammy.
Ela sorriu e acenou.
-E tu… -perscrutou aquela que sobrava, olhando em todas as direcções. –Tifanny?
Ela irrompeu em gargalhadas.
-Não –disse, fazendo os caracóis abanar –Mas o meu pai encomendou lá umas coisas, dai estar escrito naquele porta chaves.
Olhei para ela, procurando o alegado Porta-Chaves, e ali estava ele: Totalmente feito em ouro, com umas letras garrafais, estava pendurado no puxador de uma das gavetas, com as letras que compunham a palavra T-I-F-A-N-N-Y-‘-S unidas por um único fio de prata –ou assim me pareceu.
Ao meu lado, a moldura que dizia “Ally” estava imóvel, com o mesmo sorriso de criança que eu tivera anos atrás –e não era só connosco: Tanto Ammy como Marian tinham os nomes escritos algures num objecto da sua mesa de cabeceira.
-Resulta sempre –gabou-se Megan, com um sorriso sarcástico.
Nesse momento, ouviu-se um grande «buum», que fez todas as cabeças rodar.
A rapariga que não era Tifanny tinha caído, depois de muito balançar, no chão.
Estava à espera de a ver levantar-se furibunda, e a fulminar os nossos risos com o seu olhar, ou a bater com o pé e a ficar amuada –coisa de menina rica.
Mas não. Ela levantou-se, massajando o fundo das costas e às gargalhadas, tal como nós –Não posso dizer que não fiquei surpreendida (e sim, também fiquei a pensar se não teria julgado um livro pela capa, o que era extremamente fútil da minha parte –e frívolo, frívolo também.).
-Stefanny –acrescentou ela, com um grande sorriso. –E não me apetece ficar aqui até amanhã de manhã. Já vi o horário, amanhã as aulas começam ao Meio-Dia e o pequeno almoço geral é às onze e meia, por isso podemos deitar-nos tarde sem correr o risco de adormecer na primeira aula.
-De qualquer forma, acho que ninguém vai ter vontade de dormir durante essa aula –disse eu, sorrindo-lhe também. Muito bem, ela já provara (em parte) que eu me enganara, então podia tentar dar-me bem com a rapariga.
-Mesmo ninguém –concordou ela.
E apressou-se através da porta que dava para a “Sala de Convívio”.
Ah pois, outra coisa bastante agradável ali naquele sitio (a que ainda me custava chamar Casa) é que podemos tomar o pequeno almoço às horas que quisermos, ir dormir às horas que quisermos (embora tenhamos de estar lá em cima –ou seja, nos corredores e assim –à meia noite) e praticamente acordar às horas que nos apetecer, porque as aulas começam, regra geral, à onze-dez horas, e temos bastante tempo para o que raio quisermos fazer –Para além de, em dois dos cinco dias de aulas, termos aulas nocturnas (das seis às oito e das nove às onze) e podermos dormir até às três da tarde (ou mais).
Por isso é que ela dizia o “Pequeno Almoço Geral”, pois não tinham-nos de ir pequeno-almoçar a essa hora –Bastava passarmos pela cozinha e apanharmos o que quiséssemos para comer –E também tínhamos um mini bar no quarto, o que era, sem dúvida nenhuma, umas das melhores noticias que eu tinha recebido. Quem é que não gosta de mini bares?
No entanto, quatro raparigas muito entusiasmadas já se tinham ido sentar à frente de uma grade televisão, com pipocas e tudo, e discutiam vivamente sobre qual dos DVD ver… Haviam sugestões de vários deles, desde o “The Unborn” até ao “Bride Wars” (este último bastante defendido por Ammy).
Acabaram por enfiar qualquer coisa que me pareceu ser uma comédia para dentro do Leitor, enquanto eu me acomodava num Puff, com Futsu ao colo a lamber-me as mãos.
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Bjs,
Tina!
Está muito giro este capitulo.
ResponderEliminarTambém quero horários destes xD
Fico à espera de mais.
Bjs,
Joana
P.S.-Suponho que já tenha dito isto, mas não faz mal, tens uma imaginação muito fértil e escreves (tbm) mt bem.
Bjs.
lol, quem é que não quer´horários curtos xD
ResponderEliminarObrigada!
Bjs,
Tina!