Bem Vindo/a!


Bem Vindo/a!
Tenho três coisinhas para lhe dizer:
Primeiro: Este Blog pode ter conteudo impróprio para menores de 16 anos, por isso, se não tens esta idade avança por tua própria conta e risco, eu não me responsabilizo!
Ah, e também queria pedir um favorzinho:
*Comente os textos, por favor, quer seja com criticas positivas quer seja com criticas negativas.*
E por fim, uma informaçaõ (semi) publicitária:
Mais informações? Aqui!
;*

05/06/10

Pausa

Pois é... É com muita infelicidade que tenho que vos dizer que tenho de parar por uns tempos a escrita aqui da Ally... É que tenho imensa coisa para pensar, exames, e... Bem, este projecto já não me entusiasma como costumava entusiasmar... Por isso, não sei quando vou voltar, ou mesmo se o vou fazer. Eu espero que sim, pois parece-me cedo de mais para interromper a história toda, mas há realmente muita coisa em que pensar para ter de me preocupar em escrever todas as segundas um capítulo á última da hora.

Ah, e se por acaso voltar, penso que deixarei de ter horários. Os horários não são coisas com as quais viva bem xD Não acho que haja uma hora certa para ter inspiração e escrever... Por isso, só me resta dizer-vos: ADEUS! que espero vir a tornar-se antes num ATÉ BREVE!

No entanto, eu vou continuar a escrever! De qualquer forma, se quiserem seguir qualquer actualização que possa fazer, vão a Works & Words , onde terei informação com certeza!

Bjs,
Tina!

01/06/10

Capítulo 11

Hum... Desculpem, mas entre exames, trabalhos da faculdade e tudo mais, não tenho muito tempo para escrever... Por isso tive de fazer algo rápido e curto, peço imensas desculpas!
Mas pronto, é só o que tenho
::::


-Dúvidas? –repetiu Richard –Allison? Pareces preocupada.
Ia ficar calada. Tinha de ficar calada. Ia soar estúpida se dissesse…
-Temos mesmo de seguir com isto até ao fim das nossas vidas? Quer dizer, não podemos antes tirar biologia e seguir esse caminho? –Isto…
O seu olhar não revelou surpresa, mas antes tristeza.
-Não, não têm de seguir isto. Quem quiser, pode concluir os tempos de escola e desistir desta vida… Basta pensar-se muito no assunto e revelarmo-nos completamente contra a ideia de ficar… Mas isso não é decisão que se tome de cabeça fria. Vocês passam aqui três anos muito atribulados. Nós escolhemos-vos por serem aqueles com mais probabilidade de conseguirem progredir, mas isso não quer dizer que consigam… Vieram para aqui não só para aprenderem sobre isto como para estar em contacto frequente connosco e com o outro mundo, o que vos ajuda a desenvolver capacidades. No entanto, alguns podem não vingar e ser obrigados a ir para casa… Para além de que, caso não tenham uma mente suficientemente poderosa e forte, são facilmente possuiveis ou mortos. E nós não queremos isso.
»No entanto, não terão de seguir esta carreira. Quando terminarem o curso, se quiserem desistir desta vida, podem vir ter comigo e eu ajudar-vos-ei. É claro que será mais fácil desistir no inicio do que depois de muitos anos de pratica, mas também é possível. A qualquer momento, podem vir ter comigo e abdicar dos vossos poderes e da vossa imortalidade.
Imortalidade? Ele dissera aquilo? Isso significava… Ficar ali para sempre! Não sabia se devia ficar contente por poder viver para sempre ou se devia ficar triste por ver todos os que amava perecer antes de mim… Isso se eu alguma vez voltasse a vê-los… Levei as mãos aos olhos, na tentativa de impedir que as lágrimas corressem pela minha face… Eu até poderia vê-los, mas só no inicio. Não sabia quando é que me ia tornar imortal, quando é que ia “congelar”, mas sabia que não podia chegar aos sessenta anos a aparentar vinte sem que ninguém desconfiasse.
-Hum… -fez ele, olhando para o relógio. É uma da tarde, mas acho que não têm fome, certo? –ninguém lhe respondeu, pelo que continuou –Então venham, eu mostro-vos a vossa sala, no andar superior… Hum, e acho que vos deixo tirar o resto do dia para se adaptarem.
Eu sentia-me verdadeiramente doente com aquilo tudo. E escolhia o quê? Quer dizer, ainda tinha três anos…
Fomos conduzidos para fora da sala, e depois através de uma das muitas escadas que uniam o nono e o décimo andar, até chegarmos a uma pequena sala, decorada com vários quadros quentes e mobília confortável.
-Então, vão até à parede do fundo e escolham um cacifo. Basta tirarem a chave que têm na porta.
No fim de uma multidão de pessoas a acotovelar-se e a empurrar-se, acabei por ficar com o cacifo ao lado do de Steffany e Ammy. Depois disso, saí com a primeira da sala.
-Hum… -fez ela, quando chegou ao enorme jardim das traseiras –‘Tá calor. Muito calor. Vens dar um mergulho Ally?
Encolhi os ombros. Era-me completamente indiferente. Estava perdida, não sabia o que raio havia de fazer… Ficava?



____
Bjs,
Tina!

25/05/10

Capítulo 10

:::


-Allison! –foi a primeira coisa que ouvi ao acordar.
Olhei à volta, à procura de sinais de meia dúzia de raparigas ao saltos, mas descobri que estava sozinha. Sozinha e deitado num… Puff? Hum… Devia ter adormecido.
-Hum? –fiz eu, para quem quer que fosse que me tinha chamado no quarto ao lado.
-Acorda! São onze e dez! Temos de nos despachar para o pequeno-almoço! –E depois reconheci a voz. Era Stefanny. Era estranho que, na noite anterior, eu tivesse passado horas a falar com ela… Quer dizer, era suposto eu odiá-la, mas acabei por descobrir que era bastante simpática –e uma rapariga normal, em todos os aspectos, salvo o facto de ter vinte vestidos de alta-costura no seu armário.
Vi-a espreitar pela porta aberta e depois sorrir.
-Espero que tenhas dormido bem!
Resmunguei, levantando-me a massajar o pescoço, e atirando Futsu ao chão, que fugiu para o quarto com um ar amuado.
Dirigi-me a correr até ao meu armário… Que tipo de coisa é que se devia levar para um primeiro dia numa escola onde nos vão ensinar a falar com os mortos? Ao lembrar-me disso, senti um arrepio a subir-me pela espinha… Ainda não sabia como havia de lidar com aquilo.
No fim, acabei por decidir levar umas sandálias, uns Jeans e um top preto justo -que escolhi com alguma ajuda de Stefanny, que me puxou na direcção do elevador enquanto dava pulos de contente.
-A sério, ficas assim tão feliz por causa disto?
-Yup.
Suspirei.
-Oh! Também não tens de estar de tão mau humor! Vai ser meeesmo giro!
-Acredito… -resmunguei, recebendo uma estrondosa gargalhada com resposta.
Como, aparentemente, já decorara a planta do edifício, conseguiu levar-nos às duas por meia dúzia de divisões até à Sala de Jantar, sem nos perdermos.
Era uma divisão confortável, com uma grande mesa de madeira escura e polida no meio (coberta com imensa comida) e umas cadeiras a condizer.
Ao fundo da mesa, estava uma LCD gigante e meia dúzia de cadeiras mais confortáveis.
Para além de nós, estavam apenas mais quatro pessoas na sala, a comer e a conversar alegremente, que nem olharam para nos quando entrámos e nos sentámos.
-Então –começou Stefanny, quando lhe perguntei à cerca do esquema das aulas. Aparentemente ela lera tudo o que havia para ler na mesa de cabeceira – Os livros vão-nos ser entregues na primeira aula, por isso deves levar uma mochila ou assim para o pôr. As aulas acabam às sete, hoje, com um intervalo de uma hora à hora do almoço e outros dois de vinte minutos à hora do lanche e a meio da manhã, o que perfaz um total de uma hora e quarenta de intervalos e cinco horas e vinte de aulas. E isto apenas hoje, porque à segunda e à terça temos apenas quatro horas de aulas, e são nocturnas. Aos sábados e domingos estamos livres. Ah, e eu trouxe dois horários, porque sabia que te ias esquecer do teu.
-Mas ainda vamos voltar à acima –disse eu, entre duas dentadas na minha torrada –Para lavar os dentes e assim…
-Pois, mas eu achei melhor virmos já prevenidas –e depois atirou-se a uma tigela de cereais.
Era estranho, depois de todos os meus pensamentos à cerca dela, que agora nos estivéssemos a tornar amigas. Não deixava de ser irónico, mas ao mesmo tempo bom… Quer dizer, eu estava a fazer amigos, e isso era positivo. Acho eu…
De qualquer forma, ela não era a primeira. Embora eu não tivesse visto Bryan –que devia ter ido tomar o pequeno almoço mais cedo –sabia que ele não ficara chateado com o meu comportamento na noite anterior… Ou achava que não. Sim, porque apesar de tudo, nós ainda não nos conhecíamos, e aquilo que estava a acontecer connosco –ou pelo menos comigo estava de certeza –continuava a ser um mistério.
Mas não tive muito tempo para pensar nisso, porque entre levar os dentes, escolher uma boa mala, pentear-me e conversar com Stefanny, não me sobravam muitos minutos… Daí eu não ter sabido bem o que fazer quando ele entrou no elevador ao mesmo tempo que nós e se veio sentar, com muita naturalidade, ao meu lado.
-Bom dia! –exclamou, com um ar bem disposto, enquanto o elevador descia para o nono andar.
Em vez de responder, sorri-lhe, algo timidamente –no entanto, não tivemos tempo para aprofundar a nossa conversa, porque me menos de dois minutos já tínhamos parado.
Fiquei assombrada quando vi as portas do elevador abrirem, dando para uma enorme plataforma de pedra cinzenta.
Tentei não olhar para baixo, enquanto caminhava sobre ela… Pois não havia qualquer tipo de guarda para o quadrado vazio, muito maior do que o elevador, que dava espaço para este passar.
No entanto, era difícil não olhar para baixo, tal era o espanto. Assim cimo era difícil não olhar intensamente para tudo o resto: As centenas de pessoas que caminhavam de um lado para o outro, saindo e entrando por centenas de portas. Lá em baixo, aquilo deveria ter quatro ou cinco vezes a dimensão do andar de cima. As paredes estavam forradas a vidros, deixando a descoberto a terra que nos rodeava –e, de uma forma muito estranha, aquilo não era desconfortável ou nojento: Era possível ver rios de água subterrâneos, tocas de vários animais, os animais que habitavam as tocas e as raízes das arvores. Para além disso, haviam também alguns buracos escavados, para dar a ilusão de uma janela e encher o interior de luz.
O chão fora feito com a mesma pedra cinzenta da plataforma e as portas eram de madeira, com tapetes à porta e vasos de flores a decorar os corredores. Centenas de escadas saiam também do tecto, dando passagem para o décimo andar, ou irrompiam do chão, permitindo passar para o oitavo.
Por todo o lado, homens e mulheres vestidos de preto caminhavam e cumprimentavam-se uns aos outros, ou andavam em grupos animados.
-Esta deve ser a nossa sala. –afirmou Stefanny, entusiasmada, interrompendo as minhas observações silenciosas.
Não disse nada, mas segui-a quando abriu a porta e entrou dentro de uma sala de aula.
Esta já não tinha as paredes forradas a vidro mas, em vez disso, fora feita de tábuas de madeira clara, com janelas numa das paredes, que enchia a sala com uma luz alegre.
Haviam também as típicas mesas de pares, que eram apenas cinco, mas que tinham sido encostadas à parede, permitindo aos alunos sentarem-se num tapete verde e volumoso, em frente a um quadro e a uma secretária.
Não tínhamos sido os primeiros a chegar, pois já se encontravam lá quinze alunos, mas também não tínhamos chegado atrasados, pois ainda faltavam cinco minutos para o meio dia –coisa que verifiquei quando coloquei o telemóvel no silencio.
Já completamente enterrada no tapete verde, com o braço de Bryan na minha cintura, fui-me deixando enterrar no aspecto de Richard… Era velho, definitivamente, mas era velho de uma forma… Intemporal. Não fazia sentido nenhum, mas parecia que o tempo não passava por ele, como se sempre tivesse sido assim. Como se tivesse nascido velho –Mas não velho do género “O Estranho Caso de Benjamin Button”, era como se tivesse nascido já com experiencia de vida. Pois, infelizmente, já nasci idiota.
Aqueles que faltavam (raparigas, obviamente) não demoraram a chegar, aos risinhos e a murmurar «desculpa» sempre que (na minha opinião mais propositadamente do que sem querer) davam pontapés nas costas de alguém (rapazes, obviamente), e a sentar-se num canto, a murmurar qualquer coisa. No entanto, assim que Richard começou a falar, todas elas se calaram, nervosas.
-Boa Tarde! –exclamou, com um sorriso. Ninguém lhe respondeu –Bem, é algo desagradável ter alunos tão pouco comunicativos… Costuma ser sempre assim…
Suspirou e dirigiu-se à secretária, apanhando meia dúzia de livros de capa castanha dura e aspecto antigo, que foi distribuindo.
Folheei as páginas velhas com cuidado… Cada exemplar estava escrito com uma letra cuidadosamente perfeita, claramente copiada à mão, e várias ilustrações a condizer. Não tinha titulo.
-Bem, o que têm nas vossas mãos são os livros da disciplina pela qual eu ficarei encarregue, Formação e História. Queria pedir-vos que tivessem cuidado com eles. Esses livros são, como já devem ter reparado, antigos e valiosos, cuidadosamente copiados e ilustrados à mão. Como não nos agrada que andem com algo tão frágil às costas e não vos agrada andar com algo tão pesado às costas, eles ficarão guardados nos cacifos, que ficam na Sala de Convívio… Bem, fica no andar de cima, não vão ter dificuldade em encontrá-la. De qualquer forma, tenho de vos falar mais um pouco sobre as regras. Penso que todos vocês leram o livro de regras que vos deixei à cabeceira, não foi?
O seu olhar perscrutou a multidão de olhares embaraçados e constrangidos, com um ar severo.
No entanto, poucos segundos depois desmanchou-se a rir.
-Pois, devia ter calculado que não. Mas mesmo assim, alguém leu?
Ao meu lado, Stefanny levantou o braço, meio aos pulinhos.
-Leste-o mesmo?
-Sim, ontem à noite antes de me deitar.
Ele pareceu intrigado, mas depois sorriu.
-Então muito obrigado. Bem, como Stefanny já deve saber, os cinco primeiros andares estão completamente proibidos sob todas as circunstâncias a não ser que haja uma razão para eu vos levar lá.
Stefanny piscou os olhos, admirada por ouvir o seu nome, mas depois sorriu também.
-E os andares inferiores à Casa, que começam no décimo, estão interditos à noite para todos os alunos, a não ser que acompanhados por algum adulto. E, infelizmente, esta medida não é para vos impedir de cair no buraco do elevador como criancinhas de cinco anos, mas para ver se não enfrentam uma morte mais dolorosa.
Mais dolorosa do que cair dez pisos? Hum…
-Então, não me parece que hajam mais regras que eu precise de mencionar. Se tiverem dúvidas, podem esclarecê-las no livro que vos deixei à cabeceira ou junto de qualquer adulto ou funcionário como nós. Sim, porque temos funcionários exclusivamente humanos, que sabem pouco ou nada sobre aquilo que somos.
»E agora, começando a esclarecer dúvidas sobre o vosso horário, vou explicar-vos as matérias e os devidos professores. É claro que, com a devia experiência e evolução, vocês começaram a frequentar aulas mais avançadas e aulas diferentes. Por vezes, alguns alunos ficam para trás ou adiantam-se, dependendo de vários factores físicos e psicológicos.
»A primeira matéria, que vão dar amanhã de manhã será, para o grupo A –este é o outro grupo, o meu era o B –Necromancia com a professora Blecher. Não me vou adiantar na explicação exacta do que isto é, mas posso dizer-vos que é bastante confuso e quase exclusivamente prático.
Consegui ver gente a tremer à simples menção da palavra –o que era um disparate, tendo em conta que tinham ficado super felizes na noite anterior.
-Para o grupo B, têm invocação com o Professor Li. Sim, Li. É bastante simpático, e um dos melhores professores que já passou por esta escola. Ah, e Invocação também não é muito Teórico, mas precisa de uma grande preparação.
»Como podem calcular, para aquilo que vão ser, não precisam de Matemática e Espanhol, mas estas disciplinas estão disponíveis em Extra Curricular para quem quiser, assim como ténis, equitação, dança… Bem, isso está tudo nos papeis que vos entreguei. Continuando: Têm, em horários diferentes, as mesmas disciplinas:
»Estudos das Trevas, com a professora Carten. É uma disciplina essencialmente teórica, mas posso assegurar-vos que é interessante na mesma.
»Interpretação, com a professora Lerrion. Teórica também, mas de uma forma interessante. Esta disciplina é utilizada também para entrar em comunicação com outro lado da vossa pessoa, para além de vos levar a compreender sinais de sonhos e acontecimentos diversos.
»Aulas de Percepção e Integralização, onde vão poder a integrar almas e a ajudá-las, para além de apreenderem a lidar com elas e a domá-las e de ganharem um sentido de percepção em relação ao mundo que vos rodeia completamente diferente. Com o professor Glimeryn.
»Comunicação e Visão, comigo e com a professora Carten. É essencialmente nesta aula que vão aprender como comunicar com o outro mundo, a compreender os espíritos e a evitar catástrofes.
»E pronto, são as vossas aulas por agora. Dúvidas?
Necromancia, Invocação, Estudos das Trevas, Interpretação, Percepção e Integralização, Comunicação e Visão, Formação e História… E nem um bocadinho de matemática, literatura, inglês… Pronto, admito, eu não gostava daquelas aulas… Mas eu precisava delas se quisesse um curso, certo? Pelo menos, um curso humano… Mas eu já não ia tirar um curso humano. Não, eu tinha de fazer aquilo até ao resto dos meus dias…
-Ei, Allison, sentes-te bem? –perguntou Bryan, ao meu ouvido.
-Não… -murmurei.


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Bjs,
Tina!

18/05/10

Capítulo 9

Eu sei que demorou, desculpem, tive umas coisas para fazer e distrai-me com as horas!
Mas mais vale tarde do que nunca!



-Ah! –exclamou ele, quando já toda a gente se preparava para fugir dali a sete pés –E não se esqueçam disto: Têm todos os pisos à vossa disposição, mas só desde o último até ao quinto. Os cinco pisos abaixo estão completamente proibidos.
“Sim, sim, o velho maluquinho com a mania de que está enfiado num filme do Harry Potter” foi a única coisa que me surgiu ao ouvi-lo falar.
Sim, eu vira aquilo, mas ia ignorar. Deixem-me pensar que o velho tinha um parafuso a menos, e que eu era normal. Eu. Era. Normal. Ponto.
Eu conseguia ouvir murmúrios à minha volta, nervosos, frustrados e até ansiosos. Nenhuns deles eram zangados. Ninguém parecia aborrecido por ter descoberto que era um anormalzinho. Eles até estavam excitados com a ideia.
Encostei-me à parede fria do elevador, desejando por segundos não ter uma mãe histérica, nem um papazinho orgulhoso… Raios, eu até preferia não ter mãe nem pai!
Não liguei ao toque gentil no meu ombro, nem à cotovelada que alguém me deu a sair do elevador, nem sequer liguei ao facto de ter torcido o pé quando o prendi na porta do quarto. Queria ir dormir.
-Meu Deus, quem foi que deixou isto aqui? Serviço rápido exclamou alguém, dentro do quarto. Apetecia-me dar-lhe um murro na cara.
No entanto, a vontade passou-me logo quando entrei. Eram as minhas malas. Era suposto terem chegado daí a uma semana, mas já lá estavam, assim como a minha velha guitarra (herança do meu tio, que tinha imigrado para o Brasil), e as diversas folhas de música. Era bom.
Agarrei nas malas que me restavam e encostei-as ao armário, enquanto me preparava para arrumar a guitarra no espaço vago da sala ao lado, para depois poder ir dormir… Dormir e esquecer que um velha maluquinho acabara de me dizer que eu era uma criatura das histórias para comer espinafres… Bah!
Enfiei-me na cama, confiante que iria conseguir adormecer, que devia estar cansada… Mentira. Não estava. Aliás, tinha dormido imenso durante a tarde… Merda! Agora tinha de pensar naquilo!
Ainda ouvia respirações ofegantes e risinhos… Elas não conversavam entre si, estavam apenas entusiasmadas… Embora eu não visse razão para isso… Quer dizer, não podia ver os meus amigos, tinha sido arrastada de casa e agora era uma aberração…
Não, não tinha sido mau sentir que devia ajudar a criancinha… Fazia-me sentir bem, mais viva e mais desperta… Assim como aquela cena de ver luzinhas saltitantes em vez de pessoas… Também era bom. Muito bom, aliás, mas… Mas fora esquisito, assustador… E eu tinha medo, por isso é que não estava feliz e aos saltinhos, tinha medo de tudo o que me poderia acontecer depois daquilo.
Desisti de dormir, ou de tentar, e sentei-me na cama. Não era a única.
Ao meu lado, a rapariga estava sentada, confiante com um meio sorriso na cara, e com a cabeça encostada às costas da cama.
Há frente dela, a outra, ainda com os óculos posto, lia um livro pesado com uma lanterna pequenina, daquelas com uma espécie de manivela e que não precisam de pilhas.
Ao seu lado, com um ar distante e ainda meio atordoado, repousava aquela que eu esperava ser normal como eu, deitada de costas e a olhar fixamente o tecto.
E, ao lado desta, estava a última, com os cabelos loiros a balançar ao ritmo compassado do seu corpo que, com as pernas embrulhadas uma na outra, movia-se em movimentos hipnóticos para um lado e para o outro.
Deixei os meus olhos fitar cada uma delas, sem dizer nada, apenas a absorver tudo… O ambiente, tenso e silencioso, as personalidades… E os sentimentos delas em relação àquilo que se passava… Talvez eu devesse sentir o mesmo, talvez eu devesse deixar-me levar e esquecer a vida passada… Podia parecer que aceitava tudo de uma forma muito precipitada, mas a verdade é que não à maneira de não o fazer. Eu tinha provas, evidencias… Estava tudo ali, na minha cabeça, eu vira-o com os meus olhos… Não o podia negar.
-Bem, o silencio está a tornar-se pesado, e se eu quisesse algo deprimente, atirava-me ali ao meu IPod, mas como hoje até me sinto mais ou menos entusiasmada, acho que podíamos começar a conviver e essas cenas habituais de cinco raparigas estranhas que se juntam num quarto. Por Amor de Alguém, será que temos de viver assim durante os próximos três anos?!
Toda a gente a fixou, embora os movimentos da rapariga à minha frente não tivessem cessado.
-Olá, sou a Megan. O meu apelido não interessa, podem descobri-lo depois.
Olhou à volta do quarto.
-Tu –apontou para a rapariga à frente dela –Tu chamas-te Marian.
A suposta Marian abriu muito os olhos, espantada, mas ela ignorou-a e virou-se para mim.
-Tu chamas-te… Allinson? Ou Allison?
-Allison –respondi, acto continuo.
Ela acenou, e virou-se para aquela que se encontrava ao lado de uma Marian deveras assustada.
-Tu deves ser Ammy.
Ela sorriu e acenou.
-E tu… -perscrutou aquela que sobrava, olhando em todas as direcções. –Tifanny?
Ela irrompeu em gargalhadas.
-Não –disse, fazendo os caracóis abanar –Mas o meu pai encomendou lá umas coisas, dai estar escrito naquele porta chaves.
Olhei para ela, procurando o alegado Porta-Chaves, e ali estava ele: Totalmente feito em ouro, com umas letras garrafais, estava pendurado no puxador de uma das gavetas, com as letras que compunham a palavra T-I-F-A-N-N-Y-‘-S unidas por um único fio de prata –ou assim me pareceu.
Ao meu lado, a moldura que dizia “Ally” estava imóvel, com o mesmo sorriso de criança que eu tivera anos atrás –e não era só connosco: Tanto Ammy como Marian tinham os nomes escritos algures num objecto da sua mesa de cabeceira.
-Resulta sempre –gabou-se Megan, com um sorriso sarcástico.
Nesse momento, ouviu-se um grande «buum», que fez todas as cabeças rodar.
A rapariga que não era Tifanny tinha caído, depois de muito balançar, no chão.
Estava à espera de a ver levantar-se furibunda, e a fulminar os nossos risos com o seu olhar, ou a bater com o pé e a ficar amuada –coisa de menina rica.
Mas não. Ela levantou-se, massajando o fundo das costas e às gargalhadas, tal como nós –Não posso dizer que não fiquei surpreendida (e sim, também fiquei a pensar se não teria julgado um livro pela capa, o que era extremamente fútil da minha parte –e frívolo, frívolo também.).
-Stefanny –acrescentou ela, com um grande sorriso. –E não me apetece ficar aqui até amanhã de manhã. Já vi o horário, amanhã as aulas começam ao Meio-Dia e o pequeno almoço geral é às onze e meia, por isso podemos deitar-nos tarde sem correr o risco de adormecer na primeira aula.
-De qualquer forma, acho que ninguém vai ter vontade de dormir durante essa aula –disse eu, sorrindo-lhe também. Muito bem, ela já provara (em parte) que eu me enganara, então podia tentar dar-me bem com a rapariga.
-Mesmo ninguém –concordou ela.
E apressou-se através da porta que dava para a “Sala de Convívio”.
Ah pois, outra coisa bastante agradável ali naquele sitio (a que ainda me custava chamar Casa) é que podemos tomar o pequeno almoço às horas que quisermos, ir dormir às horas que quisermos (embora tenhamos de estar lá em cima –ou seja, nos corredores e assim –à meia noite) e praticamente acordar às horas que nos apetecer, porque as aulas começam, regra geral, à onze-dez horas, e temos bastante tempo para o que raio quisermos fazer –Para além de, em dois dos cinco dias de aulas, termos aulas nocturnas (das seis às oito e das nove às onze) e podermos dormir até às três da tarde (ou mais).
Por isso é que ela dizia o “Pequeno Almoço Geral”, pois não tinham-nos de ir pequeno-almoçar a essa hora –Bastava passarmos pela cozinha e apanharmos o que quiséssemos para comer –E também tínhamos um mini bar no quarto, o que era, sem dúvida nenhuma, umas das melhores noticias que eu tinha recebido. Quem é que não gosta de mini bares?
No entanto, quatro raparigas muito entusiasmadas já se tinham ido sentar à frente de uma grade televisão, com pipocas e tudo, e discutiam vivamente sobre qual dos DVD ver… Haviam sugestões de vários deles, desde o “The Unborn” até ao “Bride Wars” (este último bastante defendido por Ammy).
Acabaram por enfiar qualquer coisa que me pareceu ser uma comédia para dentro do Leitor, enquanto eu me acomodava num Puff, com Futsu ao colo a lamber-me as mãos.

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Bjs,
Tina!

11/05/10

Capítulo 9 - Segunda Metade

Poisé... (Bah, odeio gente que escreve assim!)
OK, se por acaso não leram a Primeira metade, desçam para o post abaixo (mania de não ler avisos, é o que dá!)
Hope You Like! (it)



-Vamos? –perguntou, com um sorriso divertido.
-Distraí-me… -murmurei, com o olhar baixo. Era embaraçoso ter ficado ali a comer até à última da hora.
O meu ar embaraçado só o fez rir mais.
-Eu sei… Agora, porque será? –o meu rosto gelou, não permitindo a ele próprio corar… Será que ele me tinha visto olhar para ele fixamente? O que estaria a pensar? O seu olhar dizia que sim.
Olhei fixamente as minhas Havaianas, sem disposição para olhar para cima. Sentia-me prestes a desabar, de tão humilhada que estava. Parecia que todas as flores presentes me observavam, comentando e rindo-se de mim.
-Hey! –disse ele, contornando-me e parando à minha frente. Obrigou-me a erguer o rosto com um dos seus dedos –O que é que foi?
Só consegui corar ainda mais, quando pensei no quão perfeitos os seus lábios eram.
Ele sorriu-me, calorosamente.
-Também passei o jantar todo com o olhar fixo em ti… -murmurou. O seu corpo balançou-se ligeiramente para a frente, mas ele pareceu afastar a ideia do que ia fazer, e tirou o dedo doeu queixo, envergonhado. Parecia que tinham lançado ali uma bomba, e agora agíamos de forma desconfortável –num pequeno canto da minha mente, havia uma discussão sobre o quão acelerado estava o meu relacionamento.
-Hum… -desta vez fui eu quem quebrou o silêncio –Devíamos ir andando.
Ele acenou.
-Claro, devem estar à nossa espera.
A partir desse momento, conseguimos aliviar a tenção aos poucos, fazendo com que chegássemos à porta onde supostamente deveríamos ir dar aos encontrões um com o outro e a rir desalmadamente.
Abri a porta para me encontrar num enorme auditório.
Deveria ter capacidade para cerca de cento e vinte e uma pessoas sentadas –OK, eu admito, vi isso na tabuleta que se encontrava ao lado da porta -, mas apenas os lugares da frente estavam ocupado.
Richard sentava-se na borda do palco.
Percorremos o caminho até à frente a tentar conservar um ar sério, deitando olhares de esguelha um ao outro e soltando umas gargalhadas quando os nossos olhares se encontravam.
Quando estava suficientemente perto, ouvi Michael ranger os dentes, o que me fez rir com mais força.
No entanto, no momento em que tomámos o nosso lugar nas cadeiras brancas, calamo-nos, atentos.
Richar sorria quando começou a falar, de olhos postos em mim.
-Bem, meus meninos –depois de ter dito isto, riu-se e soltou um «Bah!», e corrigiu-se –Quero dizer: Bem, caros adolescentes, tenho um comunicado importante a fazer-vos! Primeiro, antes da minha explicação importante, à que referir algumas coisas:
»O primeiro ponto consta no facto de terem ao vosso dispor um Terraço, lá em cima, ao qual poderão ter acesso pelas escadas que se encontram na varanda ao fundo do corredor. As aulas só começam às dez da manhã, visto que não à necessidade de vos acordar mais cedo, e vocês não terão as aulas juntos, visto dividirem-se me grupos de dez. No entanto, os intervalos serão às mesmas horas. Têm um horário dentro da terceira gaveta de todos.
Mexi-me, acenando em conjunto com os outros em sinal de aprovação.
-Vocês têm autorização para sair da escola de carro ou de Táxi, mas obviamente não enquanto estiverem em tempo de aulas. E não se preocupem, elas não vão ser tão aborrecidas como esperam.
»No entanto, é expressamente proibido trazer familiares ou amigos cá a Casa, sem autorização prévia. Há segredos a defender, portas que vos vão ser abertas e aos quais os outros não poderão ter acesso… É horrível obrigar-vos a essa separação, mas é necessário, e por isso queremos que cada um se tente integrar e fazer amigos, se não mais do que isso.
Nesta altura, olhei para Bryan de soslaio –verificando, espantada, qe ele me olhava pelo canto do olho.
Levantou o braço, um pouco hesitante, mas acabou por passar-mo à volta da cintura, puxando-me para si.
Todos estávamos ansiosos e de pé atrás perante as afirmações de Richard.
-Acontece que… Bem… É sempre difícil explicar aos novos alunos, vocês nunca o aceitam... E eu próprio senti isso quando cá cheguei… No entanto, neste momento, vocês fazem parte daquilo que podemos considerar um… bem… mito urbano.
Mito Urbano? Aquilo era uma piada?
Ele respirou fundo.
-É difícil, mas vou dar o meu melhor, por isso, aqui vai:
»Quem nunca ouviu falar em Yurns?
Yurns? Y-U-R-N-S? O que é que aquilo significaria? É claro que sabia o que aquilo era! A minha mãe dizia-me isso quando eu era pequena e não queria comer a sopa.
Recordava-o bem: Yurns, os homens maus, que controlavam as sombras e o mundo das almas… Eles podiam roubar a minha! Bah! Eram tudo tretas!
Ninguém reagiu, por isso ele continuou.
»Bem, acreditem ou não, é para isso que cá estão. Há forças poderosas neste planeta, forças que passam os limites da vossa imaginação. É preciso controlo sobre tudo. E é para isso que servimos, e não para obrigar miúdos a fazer TPC. Servimos para dominar as almas, controlar os poderes da clarividência, mudar destinos e identificar causas de morte. Servimos, não mais não menos do que para ajudar o mundo a poder viver como vive.
Oh! Eu sabia! Eu sabia que não havia nada de bom com aquele velhote! Demasiado simpático e compreensivo! Era maluco!
-Isso é uma loucura! –acusou alguém, aos berros, do outro lado da sala. Não identifiquei quem, não queria saber –Por amor de Deus, isto e uma partida?
Richard não respondeu, mas falou para todos.
-Deixem-me mostrar-vos. Camille? Podes…?
Messe momento, entrou uma mulher no auditório –mais especificamente, no palco, por uma porta oculta atrás de uns panos.
Era uma mulher, mas não conseguia identificar bem os seus contornos. Só consegui perceber que avançava devagar e parecia concentrada nalgo.
-Agora, deixem as vossas mentes divagar.
Fiz-lhe a vontade, sem saber bem porquê.
Senti-me, de repente, assaltada por uma sensação de vertigem brutal e feroz. Sentia-me como me tinha sentido horas antes na outra sala –eu via interiores. Conseguia distinguir surpresa em todos eles, assim como um tom rosado em alguns, talvez de frustração –no entanto, não foi para ai que me virei.
Porque agora, é minha frente, no meio daquele mar de luz, estava uma criança –tinha um rosto pálido mas angelical, o cabelo era loiro em cachos e vestia um vestido florido, com um chapéu a condizer –e parecia triste, muito triste.
Chorava baixinho, com a pele a transmitir uma luz azul pálida, de tristeza.
Não consegui evitar aproximar-me. Tal como naquela tarde, sentia a necessidade de o fazer, sem uma ponta de surpresa ou choque –estava apenas conformada, resignada.
Mas a criança não. Estava triste, e não chamava por mim, mas queria ajuda, eu sabia disso.
Por isso, ignorei o resto da sala e comecei a aproximar-me, devagar, da menina carente.
Quando já estava próxima do palco, algo pareceu mudar drasticamente.
A rapariga olhou para mim, com esperança a toldar-lhe a visão, mas depois algo pareceu estalar e ela fugiu, amedrontada, através de uma parede.
Alguém agarrou o meu braço e eu saí do transe.
-O que é que te deu!? –ouvi Richard gritar, abanando-me.
-Ela volta –garantiu Camille, rapidamente.
-O problema não é isso! Ela tem de perceber! Se não se tivesse aproximado tu…
-Oh, mas não fui eu que a soltei! –disse Camille, surpreendida –Não ouviste o estalar? A ligação quebrou-se de outra forma –o seu olhar fixou-se me mim –Fizeste alguma coisa?
-N…Não –balbuciei, amedrontada –Eu… Abri os olhos e vi-a. Estava ali, uma rapariga pequena… E… bem, não sei, ela parecia precisar de ajuda, pelo menos era isso que eu sentia…
Richard fitou-me demoradamente, como que a assimilar alguma coisa.
-Sentis-te? Sentiste-a? E viste-a? –Não parecia zangado, apenas estupefacto.
-Sim –confirmei –Era loira, tinha os lábios cheios e a pele pálida. Vestia um vestido às flores.
-Espantoso –murmurou Richard, trocando um olhar com Camille. Depois soltou-me o braço, e encarou o resto dos rostos, fixos em mim. –Mais alguém sentiu esta… hum…
-Necessidade absoluta de a ajudar. –completei, descrevendo o sentimento na sua totalidade.
Só houveram respostas negativas.
-Muito bem! Parece que temos um caso único! Mas, de resto, todos viram e sentiram isto, certo?
Desta vez, as repostas foram mais relutantes, presas às memórias dos segundos passados, no entanto, todos acenaram com a cabeça.
-Ainda bem –o rosto dele abriu-se num enorme sorriso –Já podem ir!



____
Bjs,
Tina!

04/05/10

Informação

Bem... Pois, eu podia simplesmente alterar o post anterior, mas queria dar mais relevo a esta informação, de modo a que ficasse no devido lugar xD
A verdade é que tomei uma decisão em relação á Série, respectivamente a volumes e assim.
Então, Estará dividido em volumos, que ainda não sei quantos serão, e cada volume estara dividido por partes (chama-se a este fenómeno organização)
O Primeiro Volume, The Allison's Secret, é o que está a ser escrito agora, ainda só vou na primeira parte, The Book é o seu nome (e não direi porquê!!)
E como nome de referência (o nome de toda a série) ficará Good? or Evil? que me está a servir de Sub-Titulo ali em cima ;D
E pronto, acho que é só...
Ah, bem, que se lixe xD
Vou lançar aqui, só porque sou simpática, a 1ª Parte do 8º Capítulo! Ainda não sei se lançarei a 2ª Parte na Próxima Terça ou se lançarei esse e o 9º... Mas este era muito comprido para uma só postagem xD

Espero que Gostem!



Estaria doida? Não, isso não podia ser. Eu tinha-o visto, sentido, ele estava ali, e eu sabia disso… Mas mesmo não estando doida, estava assustado –isso sim, e muito.
Mas aquilo não deveria ser assim… Eu não sentira medo, choque ou surpresa quando fora assaltada pela súbita capacidade de ver luzes, interiores… Tinha sido natural, como se já fizesse parte de mim… Então porquê? Porque é que o sentia agora? Ou melhor, porque é que não sentira medo antes?
Tinha centenas de perguntas –algumas muito parecidas, admito –mas nenhuma resposta –e, acreditem ou não, isso muito, muito, mas um-u-u-ito irritante.
A sala estava agitada, ainda retendo na memória aqueles últimos episódios, e não me deixava pensar claramente ou reflectir no assunto. Também não tinha importância, não encontraria resposta na mesma.
Vi, pelo canto do olho, que Celine conversava agora com Mark, esquecendo completamente que eu ali estava. Já era previsível, afinal ela era super sociável, ia sempre arranjar gente com quem conversar.
Todos pareciam ter esquecido o “jogo” que tínhamos começado, mas já deviam saber os nomes da geralidade –pois todos eles, à excepção da esquisitinha e de mim própria, falavam com alguém.
Ouvi a porta ranger e virei-me instintivamente, assim como os restante dezanove pares de olhos, para Richard, que aparecia por ali.
O seu olhar revelava cansaço, atribuindo-lhe mais vinte anos do que os que parecia ter –e isso deixou-me contente por, finalmente, lhe poder atribuir a idade que tinha.
-Houveram uns… hum… problemas. –disse ele, depois a sua cara descontraiu, voltando ao seu estado original sem uma gota de cansaço –Mas não se preocupem, não anda nenhum Serial-Killer por aqui, por mais que alguns de vocês pudessem gostar da ideia.
Ouviram-se alguns risos e umas falsas exclamações de «Ohh!».
Ele soltou umas gargalhadas, antes de nos encarar novamente:
-Terei algumas informações importantes a dar-vos, mas, primeiro, temos de ir jantar. São oito e dez e está mais do que na hora de ir pôr a mesa… Bem, queria deixar-vos a conviver lá fora enquanto esperávamos pela hora certa, mas aparentemente também o fizeram aqui, por isso não haverá problema!
Depois saiu, com um pequeno aceno para que os seguíssemos.
Fomos conduzidos pelo mesmo corredor que percorrêramos à chegada, mas desta vez não paramos no átrio, dirigindo-nos sempre sem frente, pelas inúmeras voltinhas.
O vestíbulo não deveria ter mais do que um metro e meio de largura, comprimindo-nos numa massa de cabelos, roupa e pele, para não falar do suor –aparentemente, alguns rapazes (e uma rapariga) não usavam desodorizante.
Mas, finalmente, pude soltar a respiração, quando Richard abriu a pequena porta que existia no fundo do corredor.
-Ei-la! –proferiu, abrindo os braços teatralmente, ao sair para o ar quente do Verão.
Na realidade, os seus movimentos pareceram-me modestos quando contemplei a verdadeira beleza do sitio onde nos encontrávamos.
Era um jardim, que se estendia até a umas grandes árvores à minha frente, e perdia de vista para o meu lado direito, tapado por alguns arbustos.
Encontrávamo-nos num pequeno pátio pavimentado, cheio das mais belas flores, como rosas e jasmins, jarros e tulipas, tudo o que se podia imaginar.
O jardim estava maravilhosamente ornamentado e organizado, com as rosas a trepar por armações de metal forjado, as tulipas e saborear a brisa em pequenos canteiros de pedra escura da mesma tonalidade do chão e os jarros a misturarem-se com os arbustos aparados.
Cada simples pormenor parecia importante e contribuía para embelezar o espaço.
Seguindo pelo carreiro de pedras à minha frente, íamos dar a uma grande mesa de pedra, com o chão de ladrilho escuro à volta e posicionada no meio de um grande circulo de arbustos e flores. Mais para a frente um pequeno lago espelhava o céu nocturno.
O silêncio de espanto permitia-nos ouvir as cigarras a cantar e os sapos a chapinhar no lago.
-É claro que –começou Richard –Também temos uma piscina, mais para a direita, com cadeiras, bar e essas coisas todas que vocês usam para fazer festas.
Festas? Festas à seria? Eles deixavam-nos fazer isso? Quer dizer, daqui a um bocado também nos ofereciam quartos e pílulas, se era para darem tanta liberdade. Sempre imaginara aquele como um colégio onde não seria permitida muita coisa, devido ao seu estatuto, mas as afirmações do homem só pareciam contrariar-me. E a sua deixa seguinte não me deixou menos boquiaberta:
-Nunca foi nossa intenção tirar-vos a adolescência, este espaço é vosso, não à horas de recolher obrigatório a não ser que seja necessário, devido a condições excepcionais, não haverão centenas de castigos severos e deixar-vos-emos fazer aquilo que bem entenderem nas horas livres. Dar-vos-emos até mais liberdade do que os sítios de onde possam ter vindo, mas é claro que não podemos exagerar. Vocês podem beber, mas não em demasia, vocês podem sair da Casa, mas não podem trazer ninguém, vocês podem fazer festas, mas não podem fumar O QUE QUER QUE SEJA! -o tom em que fez a última afirmação pareceu extremamente grave, como se aquela fosse a regra principal. Não fumar. Certo. Também nunca tinha querido fazê-lo.
-Agora, quem pode acompanhar-me à cozinha para me ajudar a pôr a mesa? Por favor? Não vos vou obrigar, estou a pedir ajuda porque existem certas condições que nos obrigam a escolher muito bem o nosso pessoal, e neste momento estão todos concentrados no jantar.
Por mais curiosidade que tivesse em ver as cozinhas, deixei-me focar por ali, no meio do meu sonho. Queria poder sentar-me no jardim por uns minutos, sozinha, a absorvê-lo.
De qualquer forma, não houve falta de voluntários.
Caminhei devagar em direcção ao lago, ignorando a mesa de pedra coberta de linho suave. Só queria aquele sitio. Aquele bocadinho de calma.
Sentei-me, esticando as pernas ao meu lado, enquanto passava os dedos pela água calma.
Aquela água acalmava-me mais do que o meu banho quente. Aquele era o meu pequeno canto de Paraíso, o jardim mais belo que eu já tinha visto, como um conto de fadas, encantado e calmo. Só faltava o meu príncipe.
-Eu podia fazer de príncipe –murmurou uma voz, por cima de mim. Dei um salto, quase caindo ao lago.
Olhei para cima. Bryan olhavam-me, em pé.
Mas que raio…? Eu dissera aquilo em voz alta?
Ele viu o meu ar confuso, tomando-o por outra coisa.
-Estavas a entoar a melodia da branca de neve –esclareceu, com um sorriso, como se explicasse uma piada a uma criança.
Estava? Não me lembrava de o ter estado a fazer, mas bem podia ter sido verdade. A ideia fez-me corar.
Ele sentou-se ao meu lado, fitando o lago intensamente.
-Eu também sei isso decor… -murmurou, fazendo formas variadas na água –Fartava-me de ver a Branca de Neve e os Sete Anões com a minha irmã mais velha… Ela ficou muito triste quando lhe dissemos que vínhamos… E furiosa, completamente furiosa por não a aterem escolhido também… Enfim –suspirou – se calhar era velha demais…
Sorri-lhe, com uma naturalidade invulgar em mim e na minha dificuldade em meter conversa.
-Pois… A minha mãe estava histérica, nem uma ponta de dificuldade e ver-me partir… Mas acho que ela é mesmo assim, não posso censurá-la por gostar tanto… Parece que só os meus amigos tiveram dificuldade em ver-me partir.
Ele pareceu ponderar nas minhas palavras.
-Exactamente… No fim de contas, acho que só querem o melhor para nós, de uma forma muito invulgar…
Assenti.
-És a Allison, certo? –interrogou.
Acenei novamente, embaraçada com a memória de à pouco.
-Desculpa aquilo de há bocado… Mas pareceste-me alguém que tinha de se pôr mais à vontade.
Rangi os dentes.
-Acho que tinha ficado melhor se me limitasse a falar com as pessoas.
Ele riu-se.
-Mas tínhamos perdido uma boa oportunidade de rir!
Depois ignorei. Ignorei que não nos conhecêssemos, ignorei que era a primeira vez que lhe falava… Os gestos eram algo que já me parecia natural e parte daquilo, mesmo que fosse a primeira vez que falávamos… Sentia que, de certa forma, havia mais intimidade entre nós do que havia entre mim e outras pessoas que conhecia. Não era um gesto difícil, ou algo esquisito ou que precisasse de tanta reflexão, mas tinha de reconhecer que só o faria com alguém que conhecesse bem, ou que fosse meu amigo. E foi essa a razão que me fez pensar tanto nele.
Abri a mão em concha enfiei-a na água, e depois foi só fazer um pequeno movimento para que ele ficasse encharcado.
A ele também não pareceu mau, nem ficou constrangido. Era como se sentisse que, tal como eu, não parecia haver uma grande barreira a separar-nos agora
-Hey! –reclamou, só para a seguir imitar o meu gesto.
Ri-me e desviei-me da água, tentando, por minha vez, acertar-lhe. Não estava frio e as nossas roupas secavam facilmente.
Por fim, levantámo-nos, ao ouvirmos Richard falar e pedir que nos aproximássemos todos.
Bem, a mesa já está posta, por isso só falta sentarmo-nos e comer! –dizia ele, quando nos chegámos perto o suficiente para ouvir – Já é uma tradição abandonar o pátio e deixar os alunos a comer e conviver… Enfim, eu sei bem o quão ordinários estas jantares se podem tornar, e odiava ter de estar cá, porque se o fizesse vocês não estariam tão à vontade e seria muito mau da minha parte estragar-vos a diversão… No entanto, vocês já devem saber como sair daqui, mal se organizem todos, sigam pelo corredor e saiam pela terceira porta à esquerda, por favor! Estarei lá à vossa espera! Ah e, por favor, cheguem antes das onze. Em dias normais não vos daria uma hora certa, mas hoje temos muito que conversar!
Nesse momento, virou-nos costas e saiu pela porta, deixando-a aberta.
Da ombreira sai um cheiro delicioso.
Não demorou muito tempo para vermos sair os diversos empregado, transportando travessas metálicas carregadas de comida e pousando-as na mesa, para a qual corremos.
As cadeiras de pedra tinham assentes sobre elas diversas almofadas confortáveis, em tons de verde pastel.
No lugar onde me sentei, entre Celine e Bryan, tinha uma enorme e suculenta vista panorâmica para um gigantesco frango assado, coberto com molho translúcido.
Vi Celine torcer-lhe o nariz.
-Não comes? –perguntei-lhe, enquanto cortava um pedaço da ave colossal.
Ela emitiu um ruído semelhante a «Nããã…».
-Prefiro coisas mais leves e depois acrescentou, com os olhos colados ao lado oposto da mesa –Tipo aqueles panados de porco!
Saltou imediatamente para fora da cadeira, com o prato nas mãos, enquanto eu me servia com batatas cozidas e alguma salda.
Bryan, ao meu lado, comia alegremente, com uma enorme posta de peixe fresco à frente do nariz.
-Se em minha casa fosse assim todos os dias –conseguiu articular, entre garfadas.
Estava descontraído, completamente descontraído, naquela posição. Estava sentado ao meu lado, tão junto a mim que quando o seu braço se movia roçava o meu. O contacto dava-me arrepios, mas eram arrepios de prazer, que pareciam deixar aquela zona dormente e leve. Será que ele sentia o mesmo ao roçar o seu braço no meu? Recordei a cena do lago. Não tínhamos falado muito, mas parecíamos íntimos como amigos de longa data, amigos em quem podíamos confiar e com quem podíamos brincar de certa forma. Mas eu não estava certa de ser apenas aquilo que queria…
Abanei a cabeça. Aquilo era ridículo. Eu não o conhecia! No entanto… Bem, ele parecera preocupado comigo quando me agarrara o braço na pequena sala, ele tinha apontado para mim, em vez dos outros rostos da sala, ele tinha vindo ter comigo, desabafara comigo, falara comigo como se… como se…
Bem, na melhor das hipóteses, como se… Não encontrava propriamente uma razão lógica para aquilo, da mesma forma que não arranjava uma palavra… E agora, agora olhava-me com um certo brilho nos olhos, um brilho de… Interesse? Talvez, não o sabia dizer ao certo.
-Não comes? –perguntou, sorrindo.
Dei-me um safanão, atingindo Celine, que tinha voltado com o prato cheio de bifes panados e arroz de ervilhas.
-Estava só a… Pensar! –«a pensar no quanto gostaria de colar os meus lábios aos teus, neste preciso momento…» acrescentei, sem sentir necessidade de o referir em voz alta.
-Ok –respondeu, com um ligeiro encolher de ombros –Mas eu aconselhava-te a despachar, são dez e meia.
Dez e Meia? ,as afinal, quanto tempo tinham eles demorado a pôr a mesa? Quanto tempo demorara percorrer o corredor? Quanto tempo ficara eu ao pé do lago? E quanto tempo ficara a divagar?
Sorri e atirei-me ao prato. Não levaria muito tempo a terminá-lo.
Ele observava-me, não acompanhando o irmão quando este saiu, convidando Celine para ir com ele, nem nenhum dos outros que o convidava. Era como se estivesse preso aos movimentos que o meu garfo fazia.
Quando terminei, dez minutos depois, as últimas pessoas estavam a sair da mesa.




Pronto, o resto é na próxima semana!

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Bjs,
Tina!

Capítulo 7

A tempo e tudo xD
Peço desculpa, eu não tenho um dedo de imaginação para estas pequenas introduções xD
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Acordei, estremunhada, com o quarto em pandemónio.
Peguei, automaticamente, no telemóvel, acto continuo de todas as manhãs (embora não fosse de manhã…), quase como se esperasse ter uma mensagem sorridente de Teresa a mandar-me levantar por causa do teste de Geologia –neste momento, já não havia esperança de que ela o voltasse a fazer.
O monitor iluminado parecia tão animado como sempre, com o seu habitual tema do Windows, como se nada tivesse mudado –apeteceu-me atirá-lo para o chão. Mas em vez disso, olhei para o topo direito, onde brilhava alegremente a indicação de que eram quatro horas e quarenta e sete minutos… Então porque é que me tinham acordado?
Não teria de me dar ao trabalho de pensar nisso se tivesse olhado logo para trás, onde Alicia e Robert ajudavam as quatro raparigas, já acordadas, a pegar nas respectivas malas –sem muita discussão, parecia ser o seu objectivo (que obviamente não se cumpriu).
Levantei-me, preguiçosamente, quase pisando Futsu, que fugiu para debaixo da cama e fui buscar as minhas restantes duas malas, que pousei diante do armário.
Comecei a retirar as T-Shirts que trouxera, mas deixei-as cair ao chão com o espanto. Dentro do armário estavam já várias peças de roupa, ocupando metade dele, todas elas dos mesmo tons de rosa, roxo e preto –com algum azul-escuro ocasional. Teria de partilhar o armário com aquilo? Bem, pelo menos ambas tínhamos a certeza de que não confundiríamos roupa.
-Meninas! –chamou Alicia, ao lado da minha cama. Todos os olhares se desviaram para ela, em jeito de interrogação –Ainda ninguém perguntou pela casa de banho, então decidi tomar a iniciativa.
Os olhares interrogativos acentuaram-se mais ainda por toda a sala enquanto ela se dirigia à parede, aparentemente vazia.
Cerrou o punho e deu três pancadas na parede.
Nada aconteceu por uns segundos, deixando toda a gente a pensar se teria aquilo sido uma partida, quando, aos poucos a parede sólida pareceu começar a mover-se, lentamente.
Passado pouco tempo, cerca de três metros de parede tinham-se movido para uma posição horizontal, deixando duas entradas para uma gigantesca Casa de Banho.
-Tecnologia –esclareceu a pequena mulher, em resposta aos olhares espantados de toda a gente. Hum… Boas condições não me faltavam ali, mas agora é que o significado da frase «Os bens materiais não são o mais importante» ribombava, alto e bom som, na minha cabeça –Não que eu fosse do género de pessoa que achava isso extraordinariamente importante, mas sempre fora da opinião de que contribuíam ligeiramente para a felicidade do ser humano. Era mentira. Os longos corredor, os Átrios de mármore, os elevadores espaçosos, os quartos magníficos e as casas de banho inovadoras, dispensava-as: sempre fora muito feliz como era –normal, com uma qualidade financeira igual a de todas as pessoas comuns –mas essa felicidade parecera abandonar-me, agora que me via rodeada de todo o tipo de luxo.
«OK, vamos deixar os pensamentos filósofos de lado, preciso de um banho de espuma ve-e-e-erdadeiramente relaxante.»


O alarme do meu telemóvel apitou, poucos segundos depois de acabar de secar o cabelo –ficara horas no banho após, fortuitamente, descobrir um enorme conjunto de todo o tipo de cristais e espumas de banho –anunciando que faltavam dez minutos para as sete.
Por todo o lado ouviam-se uns ocasionais «Oh Meu Deus!» e «Ai Mãezinha!» enquanto as quatro raparigas corriam por todo o quarto, revolvendo malas à procura de brincos ou casacos dos quais não tinham vestígios, discutindo por causa de lip Glosses ou cosendo mangas que se tinham rasgado.
Também eu andara assim, mas fora à meia hora, quando decidira preparar-me para o jantar, e agora tinha o cabelo liso e penteado, umas calças de ganga preta justas, um top branco e um casaco encarnado, que condizia com um par de sandálias de salto alto que me haviam trazido do Brasil.
Peguei num espelho de bolso para colocar uns brincos redondos cor de cereja e acrescentar rímel às pestanas que, francamente, eram uma miséria.
Não era do tipo “super sociável”, então dispensei a parte de perguntar alto «Mais alguém está pronto?» como se nos conhece-se-mos há muito e saí para os elevadores.
Tal como Robert tinha feito antes, chamei o elevador, premindo o botão luminoso e entrei.
Tinha acabado de premir «13º» quando alguém entrou apressadamente no elevador.
Era o rapaz vulgar, que, quando me viu, olhou-me de alto abaixo e assobiou –assobio que reconheci imediatamente como sendo aquele que ouvira horas antes, quando chegara.
-Be-e-e-em… Sou o Michael –apresentou-se –e tu?
Não lhe respondi e premi o botão que faria as portas fecharem-se.
-Hum… Doeu muito?
Oh não! Piropos bimbos não! Tudo menos isso! Claro que já sabia a resposta «O quê?» deveria dizer eu, ao que ele responderia «Sabes, quando caís-te do céu, porque pareces um anjo…» ou algo do género.
Vendo-me ausente de resposta, ele desistiu daquele, mas voltou a tentar.
-Então… Achas que poderia sugerir Stella? Porque és linda como uma! –sorriu-me, mexendo as sobrancelhas sugestivamente.
O elevador parou e as portas abriram-se.
Apressei-me a sair, deixando-o pendurado à espera de resposta.
Dirigi-me à sala na qual estivéramos antes, onde já se encontravam todos os dez rapazes e nenhuma outra rapariga.
Suspirei quando os olhares caíram sobre mim e ouvi alguém comentar «Olha uma despachada..» e receber como resposta «Mas está bem arranjada..» e arrancaram daí para uma conversa ordinária, durante a qual gozavam um com o outro.
Olhei, pelo canto do olho, para a direcção de onde viera o som e vi o rapaz Asiático a falar com um qualquer do outro grupo.
A maçã de Adão era bem visível, os olhos finos e o cabelo chegava-lhe ao queixo.
Deixei-me ficar encostada a uma parede, à espera de alguma rapariga (e de preferência gira) que fizesse com que todos os rapazes descolassem os olhos de mim.
Cinco minutos depois, a rapariga das sandálias entrou, desta vez com um vestido simples, branco e dirigiu-se a mim.
Não falou, limitou-se a encostar-se ao meu lado, e de certa maneira, tinha a sensação de estarmos ambas a pensar no mesmo.
-Sou Celine, Celine Smith –disse, decididamente mas a sorrir, virando-se para mim.
-O...Olá - foi a única coisa que consegui articular, espantada.
Ela pareceu ligeiramente envergonhada.
-D…Desculpa –balbuciou, corando –As raparigas no meu dormitório… bem… ninguém por lá fala, e eu estou a morrer para poder falar com alguém…
-Oh, deixa estar –respondi, compreendendo-a –Eu vi as raparigas com quem tiveste de ficar –e depois baixei a cabeça, corada.
–Desculpa… -murmurei, ela riu-se.
-Oh, não faz mal, quer dizer, uma é uma rameira qualquer, outra uma parola com a qual, simplesmente, não consigo falar, a terceira é betinha demais e a que sobra não parece estar disposta a falar, fiquei num grupo mesmo mauzinho.
-Digamos que o que é mesmo “mauzinho” é termos de aqui estar… Longe de toda a gente que conhecemos… -depois acrescentei –Ah, e sou a Allison, Allison Jenkins.
-Prazer… É mesmo horrível, de repente, ver-me longe de toda a gente que conheço, realmente… Mas bem, vamos ter de suportar isto durante três anos…
-Pois… A não ser que nos matemos ou sejamos mortas…
-Não gosto da ideia de me matar, se talvez eu arranjasse alguém que o fizesse por mim… -e deitou-me um olhar prolongado, fingindo-se expectante.
Sorri-lhe.
-Desculpa, não quero manchar já a minha reputação com um assassínio brutal.
Pelo menos alguém simpático ali no meio, era o que a minha mente praticamente berrava, enquanto ela me retribui-a o sorriso.
Parecia o género de rapariga “super sociável”, que poderia manter uma conversa estável com alguém, sem parecer forçada como eu ou intrometida como certas pessoas que conhecia, era capaz de me fazer sorrir sem ter de se rir primeiro ou fazer alguma coisa com as respostas que lhe dava, o que tornava a minha tarefa bastante mais fácil.
A porta abriu-se, e o velho entrou, observando a sala.
-Hum… Iria jurar que eram dez raparigas… -murmurou, coçando o queixo, e depois sorriu, falando em voz alta –Bem , é por isso que marco sempre para as sete e não para as sete e meia, que era a hora a que vos queria cá…
Ouviram-se risos abafados e comentários, pela parte dos rapazes.
-Pois bem, também não podemos começar sem elas, por isso… O que é que podemos fazer na próxima meia hora…
Coçou o queixo, como se estivesse pensativo.
-Bem, nomes e caras, não sei os vossos nomes decor… Comecemos pelos rapazes. Deixa cá ver… Tu! E depois tu próprio indicarás quem deverá revelar o seu nome, é uma forma prática de decorarmos os nomes uns dos outros –depois sorriu –Todos precisamos de recordar a infância qualquer dia!
Depois deste comentário, o ambiente ficou mais descontraído e o rapaz com cara de gorila, para quem ele apontara, afirmou, prontamente.
-Gabe, Gabe Martin.
Perscrutou com atenção a multidão, e depois apontou para o rapaz de cabelo loiro.
Ele sorriu.
-Bryan, Bryan Russell.
Assentiu.
Bryan olhou para cada um, observando os rostos de todos. Depois fitou-me, e o seu sorriso alargou-se, como que em gozo.
-Tu –afirmou, apontando.
Boa! Perfeito! Excelente! É claro que ele tinha percebido que não queria que me escolhesse, que preferia ficar para o fim e que dispensava apontar para quem quer que fosse… E muito menos do que isso queria que fosse ele a escolher-me…
Corei até à raiz dos cabelos.
«Alisson, Alisson Jenkins» pensei. Só segundos mais tarde me apercebi de que não falara, e continuava corada e de olhos baixos, o que fazia com que por toda a sala ecoassem gargalhadas.
-Allison, Allison jenkins –balbuciei rapidamente, tropeçando nas palavras.
-Prazer –respondeu ele, com o sorriso aberto.
Olhei em volta, e não vi mais nenhuma saída que não fosse aquela.
Por isso, acenei timidamente com o queixo na direcção de Celine.
Ela sorriu-me, e respondeu-me: -Celine, Celine Smith.
Depois olhou para a sala toda, e apontou para o irmão de Bryan.
-Tu pareces-me bem –afirmou, olhando para cima como que a provocá-lo.
Bryan deu um ligeiro empurrão ao irmão.
-Hum…Mark, Mark Russell.
-Parece-me bem –aprovou ela.
Mark olhava em volta, para os rostos de cada um, quando alguém abriu a porta bruscamente.
-Rápido! É importante, fugiu lá em baixo e… -um homem de cabelos grisalhos acabara de entrar, e quando se apercebeu de nós, pareceu estacar, como se tivesse dito de mais –Erm… Olá pessoal… Já lhes disseste, Richard?
-Não –murmurou o velho.
-Oh…-tinha ar de quem metera a pata na poça –Estou a ver..
Depois começou a falar muito rápido, com ar preocupado –preocupação que tingiu também a cara de Richard (era bom poder dar-lhe, finalmente, um nome, em vez de ter de pensar nele como o inominável avozinho). Consegui distinguir apenas frases soltas como «Não sabemos como», «parecia ter um grade poder», «Ninguém o sentiu» e «Foi um golpe muito pensado»… Mas que raio? Parecia que fugira um assassino –ou pior.
-Hum… Meninos, fiquem aqui, por favor! Ninguém se mexe, ninguém sai daqui! Eu asseguro-vos que quem quer que seja que ponha um pé fora desta sala será severamente castigado! –tinha as narinas dilatas de raiva, o sobrolho carregado e o olhar irado –E acreditem, isto é para o vosso bem! Passem a mensagem aos vossos colegas!
Saiu da sala a passos largos, seguido por murmúrios de espanto.
Mas que…? Bem, não sabia o que é que podia estar naquela sitio que fosse assim tão mau… No entanto, tinha uma leve impressão de que era muito mau e que também havia por ali um segredo…
Os minutos passaram, prolongando cada segundo tortuosamente e deixando-nos ainda mais às escuras, sem novidades ou sequer um sinal de que o tempo estava a passar, exceptuando o facto de entrar uma pessoa de vez em quando.
Quando olhei para o relógio, espantei-me ao verificar que já eram sete e quarenta, e continuava a não haver noticia nenhuma.
-O que é que será que está acontecer!?! –quase gritava, em pânico, a parvinha, que vestia agora um grande vestido com sai do género balão (nojento) – Será assim tão grave??? Vamos todos morrer aqui, eu já sabia, devia ter ficado em casa e…
Nesse momento, alguém se aproximou dela e deu-lhe uma estalada, com tanta força que o ruído ecoou pela sala –deixando a outra zonza.
As conversas começaram rapidamente, reacções de gozo, gargalhadas e até incentivos de continuação.
Mas eu não ouvi, assim como não ouvi Celine segredar-me algo, assim como não vi quem dera a estalada… Eu não sentia nada, estava distraída com outra coisa…
-Ally…
Era quase como se alguém me murmurasse ao ouvido, chamando-me.
-Anda lá…
Continuava, insistente. Olhei à volta, mas não vi ninguém que pudesse dirigir-me aquelas palavras… Mas eu sentia-o!
Era como uma presença, uma luz… Ou como o contrário disso. Sentia a presença ali, como uma luz e o seu oposto, como um grande buraco negro, mas que mesmo assim emitia um brilho cegante –e não era o único: toda a gente à minha volta passara a emitir leves brilhos, cada um com a sua mistura de cores e sensações, com os seus próprios gostos e sentimentos.
Era de certa maneira magnifico, poder ver tudo aquilo, como se tivesse virado toda a gente ao contrário e pudesse ver o seu interior.
-Tens medo de mim? –perguntou, de novo, a presença mais brilhante.
Pensei bem antes de responder. A sua luz, os sentimentos, os gostos… Tudo era confuso e parecia velar-se-me e entregar-se-me ao mesmo tempo, como se visse mas não visse na realidade, como ler um livro mas não conseguir interpretá-lo.
Mas não parecia mau, conseguia ver através da voz masculina sentimentos de alegria e felicidade eterna, e como poderia um interior mentir? Tinha uma nova e estranha capacidade, mais ninguém a possuía, como podiam mentir se não sabiam como funcionava?
-N… Não –murmurei, em resposta.
-Então anda, estou mesmo atrás da porta!
Oh, afinal era uma pessoa, alguém que me conseguia atingir com a sua voz, era só dar uns passos e abrir a porta para ver o sedutor dono da voz.
« Quem quer que seja que ponha um pé fora desta sala será severamente castigado!» ressoou, como um balde de água fria, na minha memória, assustando-me e fazendo-me recuar.
Mas por outro lado… O que poderia ele fazer? Não estava ali à porta nem em mais lado nenhum, não podia dizer-me nada –e também ninguém me podia denunciar, porque a vida não lhe correria bem daí em diante se o fizesse.
Avancei para o manipulo da porta, os dedos a escassos centímetros da superfície metálica que me conduziria à verdade.
-Boa, vem Ally! Não sabes o quanto quero ver-te! –voltou a dizer a presença. Conseguia sentir a sua excitação debaixo da minha pele.
Agarrei o manipulo frio, rodei-o e senti algo forte agarrar-me o braço. Uma luz parecia estar preocupada, mesmo em cima de mim.
Sacudi o braço, para que me largasse, e empurrei a porta, desfrutando da brisa suave que vinha lá de fora.
Sentia a presença mesmo à minha frente, suave e sedutora, alegre e excitada. Estendi a mão para lhe tocar, disposta a sentir o calor da sua face, disposta a sentir o seu toque e…
Senti um puxão forte no braço, que me obrigou a recuar cambaleante e a sair do meu transe –a luz que sentira à pouco pareceu fugir e escapar-me por entre os dedos.
-Allison! Estás maluca? Não ouvis-te o que nos disseram? –Celine fechou fortemente a porta atrás de si –Por amor de Deus, até o Bryan te agarrou!
Olhei em volta –parecia que todas as pessoas se tinham virado do avesso de novo, ocultando-me as suas luzes e capacitando-me de ver os seus rostos, todos eles fixos em mim.
-Sim, porque é que saís-te? –interrogou Bryan.
Nem tive tempo de suspirar por ter falado comigo, pois a mesma pergunta explodia na minha cabeça: Porque é que eu fora?
No entanto, decidi-me a não lhes contar a verdade, algo me alertava para tal –e parte desse algo tinha haver com a minha amada “primeira impressão”.
-Eu… Eu estava a sentir-me zonza, precisava de apanhar ar –balbuciei, confusa.
-Então não voltes a fazê-lo, ainda te pões em perigo –sibilou Celine, claramente chateada com o facto de eu poder ser castigada –se não expulsa.
-Desculpem… -murmurei, compreendendo que também se preocupavam com o que lhes podia ter acontecido a eles.
Aos poucos, a sala voltou ao seu comum estado tumultuoso e agitado, mas ninguém voltou a dirigir-me palavra.




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Bjs,
Tina!

27/04/10

Capitulo 6

Aqui está ele, prontinho ;D
Enjoy It!


-Bom Dias para todos, para começar! –anunciou ele, alto e bom som –Bem vindos à nossa Casa! Esperamos que se sintam bem-vindos, e que se dêem bem. É claro que vão haver sempre umas cabras –a visão era quase assustadora: Aquele homem velhinho, com idade para ser meu avô, a falar-nos tão abertamente como Teresa teria feito –e alguns idiotas armados em bons, algumas miúdas desavergonhadas e alguns rapazes que têm a mania –mas até que dizia coisas com sentido -, mas de qualquer forma, esta será a vossa Casa durante os próximos três anos, então habituem-se à ideia!
Ouviram-se vários risos e murmúrios de aprovação pela sala.
-Mas, neste momento, aposto que estão todos muito cansados, devido à vossa longa espera e ao período da viagem, por isso, dentro de momentos, deixar-vos-ei irem lá para cima, fazerem o que bem vos apetecer, e quero que se reúnam comigo aqui às sete!
Algumas raparigas começaram a dirigir-se rapidamente em direcção às malas, mas foram interrompidas.
-Calma… -riu-se o homem - pelo menos deixem-me falar! O Terceiro e último andar está dividido em Dois! Cada um desses lado tem dois quartos com cinco lugares, um para cinco rapazes e outro para cinco raparigas (claro que não vão ficar juntos) –neste momento olhei para a rapariga com ar de pega, que baixara a cabeça – mas para não haver discussão, já decidimos –ele e mais quantos? – quem fica onde! Acho que isto não trará problema, visto que, salvo uma excepção, ninguém se conhece.
»Quem eu disser que vai para o lado direito, deverá seguir Robert para o elevador direito, quem eu disser que deverá ir para o lado esquerdo, deverá seguir Mary para o elevador esquerdo.
Ao seu lado, estava o homem que me trouxera e uma mulher alta, de cabelos louros e fato preto.
-Cada um deles deverá ser como um “monitor” para vocês, juntamente com um parceiro do sexo oposto.
O homem pegou numa lista.
-Miss Swiss?
A rapariga rica, que também fora a primeira que eu vira, dirigiu-se a ele.
-Vai acompanhar... –percorreu a lista com o dedo, até encontrar um nome –Bem, vai acompanhar Mr. Robert, por favor.
Ela dirigiu-se para ele, que lhe sorriu.
-Mr. Martin, vai acompanhar Mrs. Mary.
«Mrs.» pensei, enquanto o rapaz com ar de idiota se juntava à mulher loura «é casada… Também não admira, é podre de gira…»
-Mr. Russell e Mr. Russel vão acompanhar Mr. Robert.
Irmãos? Hum… passei os olhos pela sala, tentando descobrir quem tinha algumas semelhanças. Consegui encontrar algumas entra dois dos rapazes a quem dera pouca importância, mas eles permaneceram imóveis.
Em vez disso, consegui ver os dois primeiros rapazes para quem olhara dirigirem-se, juntos, para perto de Mr. Robert.
O quê?? OK, eram ambos podres de giros, mas daí a serem irmãos… Não que não se vissem semelhanças a nível do físico, mas parecia ser a única coisa que tinham em comum –Ou seja, o facto de ambos poderem estar na capa de um catálogo de roupa interior masculina…
-Miss Millen deve acompanhar Mrs. Mary.
A parola foi juntar-se ao idiota. Hum… Entre uma ricaça e os dois rapazes mais giros e uma parola com um idiota, acho que preferia a primeira.
-Miss Ellens deve fazer o mesmo.
A rapariga com ar de surfista dirigiu-se, imparcial, para o pé da bimba que lhe acenava, histérica.
-Miss Jenkins –Ui, era agora… -Deve dirigir-se para –Oh Meu Deus, eu juro que matava alguém se me obrigassem a ir para perto de Mrs. Mary –Perto de –ia ter um ataque! –Mr. Robert.
A mim pareceu-me que ele tinha dito aquilo como se anunciasse o vencedor do Jackpot, embora o tivesse pronunciado exactamente da mesma forma que das outras vezes.
Mordi o lábio para não gritar de felicidade, mas dirigi-me lentamente na direcção de Robet, que me sorriu, tal como fizera a todos os outros antes de mim.
Depois disso, não ouvi mais apelidos, mas vi que a rapariga com ar de sei-lá-o-quê viera para junto de nós, assim como a nerd e a que tinha cabelos em negros em cacho –o que obrigava a outra, de cabelo castanho e calções curtos fosse para o outro grupo (o que eu lamentei, e muito) assim como a pega e a Cheerleader.
Quanto a rapazes, ficámos com o nerd (até tinha um ar simpático!), um dos rapazes normais e o asiático, o que fazia com que as outras raparigas se tivessem de contentar com o outro normalzinho, o que até era giro e os outros dois feiosos –bem como o que tinha cara de gorila.
Podia chamar-lhe sorte, pois ficara com um grupo de rapazes relativamente bom, e tinha pelo menos uma pessoa normal por perto.
Peguei numa mala de mão e em Futsu –que entretanto adormecera… – E segui Robert.
Este abriu a porta e conduziu-nos a um corredor pequeno de mármore que ia dar a…
Oh Meu Santo Deus! (claro que eu não dizia aquilo em voz alta, nunca!) Encontrávamo-nos no perfeito Hall de Entrada dos meus sonhos.
O chão era de mármore macio, e viradas para a porta principal estavam duas grandes escadarias da mesma pedra, cobertas com um tapete macio de um tom azul claro, entre as quais se encontrava um gigantesco pilar onde estava embutida uma lareira.
Ao lado de cada escada estavam dois elevadores daqueles antigos, com uma seta que aponta para o andar em que está o elevador numa pequena figura.
Afinal, haviam mais andares do que inicialmente suspeitara –não para cima, mas antes para baixo. Havia um enorme complexo de subterrâneos, chegando a haver doze andares por baixo daquele em que nos encontrava-mos.
A ideia deu-me vertigens, imaginando em que andar estaria naquele momento se se desse o caso de apenas haverem andares para cima.
Estávamos no Décimo Terceiro.
Robert premiu o botão de subida e as enormes portas abriram, revelando um elevador espaçoso com sofás a toda a volta.
Pareceu ver a nossa surpresa com o facto, pelo que explicou:
-Se o elevador estiver muito cheio (a sua capacidade máxima é de cinquenta pessoas) ou se der o caso de estar um dia de tempestade (descargas eléctricas confundem o sistema) o elevador anda mais devagar, por razões de segurança. Nos piores dias, se forem mais de vinte pessoas, chegamos a demorar uma hora para chegar ao Patamar.
Depois disso, carregou o botão luminoso que dizia “quinze” a letras douradas, e senti-me ligeiramente zonza.
Ouviu-se uma suave “Musica de Elevador” durante poucos segundos, até esta ser interrompida com um suave “Ping” e as portas se abrirem.
O corredor era enorme, chegando a ter vinte metros e três.
Passámos, indiferentes, pelas primeiras portas, até chegarmos quase ao fim do corredor, onde ele nos indicou duas portas.
-O das raparigas –disse, fazendo sinal para a porta do lado direito, o lado da frente da casa –e o dos rapazes –apontou para o lado oposto.
Alguém abriu a porta, devagar, e ouviram-se ruídos de espanto lá dentro.
Fui a última a entrar, o que não reduziu o meu espanto.
Era um quarto jovial, com as paredes semi pintadas de laranja, um tom igual ao das cortinas que cobriam as duas janelas.
Haviam cinco camas grandes, de casal, redondas, com duas mesas de cabeceira do mesmo formato a ladearem-nas.
Entre cada duas camas havia um armário de casal, exceptuando naquela que se encontrava sozinha debaixo das janelas.
O chão era de uma madeira escura, calorosa, e no centro do quarto estava uma alcatifa grande, do mesmo tom de laranja que os lençóis da cama.
Era um sitio alegre, onde o branco do todo das paredes condizia com o brancoda das mesas de cabeceira, bases das camas e armários, enquanto o laranja da parte inferior das paredes estava presente nas cortinas, alcatifa e lençóis.
Do lado direito das janelas, estava uma outra porta de madeira.
Esta dava acesso a uma divisão espaçosa, embora ligeiramente mais pequena que o quarto, com paredes pintadas da mesma forma.
Na metade mais afastada de mim estavam duas TV’s, assim como seis ou sete Puffs, uma estante grande com alguns livros e uma secretária com um computador fixo.
Há frente dos televisores estavam também duas mesas, uma das quais estava cheia com revistas e alguns aperitivos, e outra com três computadores portáteis.
A outra metade da sala estava vazia.
-Gostam? –perguntou uma voz, fazendo-nos a todas dar um salto.
Uma mulher baixinha, de cabelos ruivos, estava atrás de nós.
Fui eu que o decorei, queria que fizesse o vosso género… Esta metade vazia seria para decorarem como quiserem!
Vendo que não reagíamos, ela acrescentou: -Sou Alicia, a vossa “monitora” –fez um gesto com os dedos, como se imitasse as aspas –Fui eu que decorei isto, não sabia o que é que iam achar…
-Está perfeito! –disse, entusiasticamente, a não-sei-das-quantas Swiss.
-É, fez um óptimo trabalho –complementei, sorrindo.
-Obrigada –ela retribuiu o meu sorriso com um outro, rasgado. –Maaas… Vocês têm de ir desfazer as malas, vão lá!
Tropeçando ligeiramente nos meus próprios pés, dirigi-me ao sitio onde deixara a minha mala, e arrastei-a para a cama ao lado da esquisitoide –odiava dormir perto das portas.
Swiss ocupou a cama debaixo das janelas, a rapariga dos cachos pretos ficou à minha frente e a desgraçadinha de óculos ficou na cama que sobrava.
Abri a minha mala em silêncio e comecei a desempacotar as coisas de mesa de cabeceira (como a minha moldura e outras ninharias do género) o meu livro (Estava a ler pela última vez e Tudo o Vento Levou) e o meu portátil, que atirei para cima da cama redonda.
E não era a única que estava a desempacotar as suas coisas.
Numa das mesas de cabeceira, via-se um livro grosso, um par de óculos e uma caixa pequena, de madeira.
Passei os olhos pela sala, observando as seguintes.
Uma escova de cabelo, um leitor de MP3 e uma pulseira. Um relógio prateado, com uma bracelete encarnada e pequenas pedras que se enrolavam em volta da mesma e um pequeno rímel. E…
Contive a respiração:
Um relógio em forma der caveira, uns horríveis brincos pretos e roxos emplumados e um poster de uma banda qualquer do género Punk.
«Não julgues um livro pela capa» ressoava-ma dentro da cabeça –naquele caso era difícil.
Desempacotei rapidamente as coisas de Futsu, enchi-lhe uma tigela com comida e estendi a sua manta ao lado da cama.
Depois, com roupa e tudo, enfie-me dentro da cama e adormeci.



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Bjs,
Tina!

20/04/10

Capítulo 5

Pois, não foi á meia-noite nem perto, mas está aqui (e é Terça-Feira...)
Ah, e peço desculpa por não poder seguir o teu conselho, Sofia, porque isso implicava ter de ter sempre tudo pronto á mesma hora e poder estar cá sempre á mesma hora, e não consigo fazer isso xD
Aqui vai :P

Ao longe, distingui-a já o vulto de uma grande casa.
Há já duas horas que havíamos deixado a estrada principal para seguir por uma estrada secundária e mal alcatroada.
Dos meus lados, apenas conseguia distinguir erva alta, à luz fosca do amanhecer.
Devíamos estar no carro á horas.
Olhei para o relógio, presente no monitor do auto-rádio.
Cinco e vinte da manhã. Já andávamos à nove horas.
De qualquer forma, duvido que conseguisse ver mais do que erva se estivéssemos em pleno dia.
Não falara a viagem toda, absorta nos meus pensamentos infelizes ou meio a dormir, mas também duvidava do facto de receber uma resposta se falasse, pois a única coisa que me indicava que o condutor estava vivo era o facto estarmos a fazer as curvas. Não emitia qualquer som, assim como Futsu, que estivera anormalmente calado durante toda a viagem.
O homem não reclamara quando arrastara o cão para o meu lado, por isso achei que também não o faria se o tirasse da pequena bolsa onde se encontrava. Também não se importara –Ou talvez se tivesse importado, mas não disse nada, por isso…
Ao meu lado, Futsu remexeu-se, sentindo o carro abrandar.
Agora estávamos verdadeiramente perto da casa, que só agora revelava o seu verdadeiro tamanho.
O carro descreveu mais uma curva, andou mais meia dúzia de metros e parou, à frente do possante edifico.
O homem abriu a porta do carro, contornou-o e abriu a minha.
O ar frio bateu-me na cara, suavemente, espantando-me. Pensara que estava calor, mas afinal parecia que isso se devia inteiramente ao aquecedor, que estava no máximo.
Olhei, de alto a baixo, a majestosa casa.
Parecia ter três andares e era de uma pedra branca, granítica, com aspecto antigo.
No último andar, podiam contar-se dez janelas, apenas daquele lado da casa.
Era rectângula, sem mais adornos que aqueles que se encontravam no jardim mal iluminado, e a única coisa que a impedia de ser geométrica era a entrada, que formava um pequeno quadrado do lado direito e a chaminé fumegante, no telhado de um tom verde-escuro.
Ouvi um ligeiro arfar e virei instintivamente a cara, para ver o homem retirar duas malas pesadas de dentro do carro –e ia ficar-me mesmo muito mal limitar-me a olhar, pelo que corri para pegar na mala que restava dentro do carro, assim como a bolsa vazia de Futsu, que corria atrás de mim alegremente, farejando o chão de gravilha.
O homem –e já me estava a cansar de lhe chamar isto –pousou as malas que transportava no chão e correu para abrir a porta, que Futsu passou sem cerimonias, deixando-me sozinha à espera que me fizessem sinal.
O sinal não demorou, pois vi o braço anafado do homem indicar-me que entra-se, deixando-me mais admirada ainda quando observei a divisão onde me encontrava.
As paredes eram lisas e pintadas de um caloroso tom azul-mar, que condizia com as três poltronas brancas que se encontravam do meu lado direito e a mesa de madeira clara do lado esquerdo –pelo ar de tudo aquilo, deduzi que fosse como uma recepção de um hotel, e que durante o dia alguém estaria sentado na cadeira que se encontrava por detrás da mesa.
O motorista ia posar as malas de novo, no entanto eu antecipei-me, colocando a alça da bolsa no pulso e usando a mão, agora livre, para pegar no manipulo e puxar o mesmo para baixo. O homem baixinho sorriu-me, murmurando um «obrigado» quando lhe fiz sinal para passar.
A sala seguinte era semelhante à primeira, com paredes no mesmo tom e algumas poltronas iguais.
O chão era de mármore branco, e suportava algumas mesas de madeira azul clara, com algumas revistas em cima.
Um súbito embaraço atingiu-me quando percebi não estar sozinha na sala.
Estavam lá mais doze pessoas, algumas sentadas a ler nas poltronas, outras a ler no chão e ainda umas quantas encostadas à parede. Poucas conversavam.
Pronto, estava na hora das minhas primeiras impressões.
Cinco eram raparigas, e comecei por observá-las a elas.
A primeira ao alcance da minha vista envergava um vestido branco, ao estilo Vintage que dizia «Luís Vuiton” a um canto e uns sapatos caros do género sabrina.
O cabelo loiro estava esticado até chegar ligeiramente abaixo do peito –que prefiro não comentar – e os olhos mostravam terem sido colorados com uma ligeira sombra também ela branca. No braço direito tinha uma data de pulseiras que, quase que podia apostar, eram de prata.
Boa, a primeira era uma menina riquinha, daquelas snobes com as quais nunca me dei bem.
Passei os olhos em volta localizei a próxima rapariga.
Tinha o cabelo preto curto, com algumas madeixas roxas e uma sombra tão escura como o cabelo, um lápis fortemente marcado e uns lábios com duas variantes de cores, entre preto e rosa.
Não sei bem se estava a gozar ou se pensava realmente que em breve as meias de rede que envolviam quase toda a perna, as saias de pregas rosa e pretas, as camisolas com caveiras roxas e os piercings prateados em breve estariam na moda.
Também não me dava bem com pessoas daquele género, menos uma.
A seguinte, que extraordinariamente parecia falar com ela, tinha cabelos loiros em cacho até aos ombros, um vestidinho verde e um gancho com uma grande flor no cabelo.
A cara era redonda e corada.
Primeiro facto: odiava aquele tipo de parolas. Segundo facto: Só podia ser ainda mais parvinha se estava a falar com a outra armada em sei-lá-o-quê.
A seguinte, sentada no chão a ler a Vogue tinha um aspecto comum, com cabelos castanhos a cair sobre a revista, uns calções simples e um top azul escuro.
Tinha, enfiadas nos pés, umas sandálias.
Em contraste com as outras, pareceria normal, embora não fosse normal ver alguém de sandálias e calções naquilo que deveria ser uma cerimónia importante.
E a última era… Bem, podemos dizer, em linguagem de adolescente estúpido, era uma boazona.
Tinha curvas acentuadas, a pela bronzeada exactamente ao nível certo e os cabelos loiros compridos.
Parecia uma daquelas surfistas profissionais que se vêem em grandes eventos de Surf, onde não se podem levar rapazes.
Agora, entre os rapazes…
A maioria não chamava a atenção, eram sete, mas apenas reparei em três.
O primeiro tinha cabelo loiro, uns abdominais de meter medo em relevo por debaixo do top e cara de morrer, o verdadeiro rapaz perfeito, também bronzeado, e que o mais provável seria atirar-se à Surfista.
Parecia indiferente ao facto de todas as raparigas já terem olhado para ele, e algumas continuassem a fazê-lo. A menina rica parecia ter os olhos colados ao seu rabo.
O segundo, que falava com ele em voz baixa, tinha cabelo preto curto, uma musculação aceitável e um ar simpático –OK, era me-e-e-esmo giro.
E o terceiro, sentado a um canto, não me chamou a atenção por ser deslumbrante, mas por ter ar de nerd.
Era magro e vestia uma camisinha, correctamente enfiada para dentro das calças que lhe chegavam ao umbigo.
Quase que tinha pena dele por ter de usar aqueles óculos redondos.
O resto dos rapazes na sala não era nada mais do que aquilo que resumo em poucas palavras: Um de origem asiática, nem era muito feio, dois rapazes normais (ou seja, daqueles que se olha para eles e se mete conversa apenas para conversar) e um mesmo feioso.
Quando entrei, todos os olhares se desviaram na minha direcção, parecendo avaliar-me assim como eu fizera com eles.
O rapaz giro olhou-me, e murmurou qualquer coisa ao outro que se riu e me olhou também –Não me parecia que estivessem a dizer algo muito mau.
O nerd sorriu-me, sorriso que retribuí e um dos outros rapazes assobiou. Não consegui perceber de que lado tinha vindo o barulho.
Não ouve mais nenhuma reacção, por isso limitei-me a pousar as malas junto a todas as outras, encostando-as a uma parede.
No entanto, não consegui passar assim tão despercebida quando Futsu entrou.
Correu loucamente pela sala adentro, farejando tudo o que se lhe metia à frente do nariz, lambendo dedos e recebendo festas e risos por todo o lado, no entanto, quando correu para o meu colo, todos os ruídos cessaram e os olhares pareceram fixar-se em mim, curiosos.
-Pois, se eu soubesse que os podia-mos trazer… -murmurou a miudinha parola para a rapariga das madeixas. Esta não esteve com meias conversas, revirou os olhos como quem dizia que não estava com paciência e afastou-se, pegando numa da várias revistas.
Sentei-me, encostada a uma das grandes malas que ali estavam e deixei Futsu sair dos meus braços, para voltar a andar à volta da sala.
Entretanto, as horas foram-se seguindo, infinitas, umas atrás das outras, até que a luz mais forte foi surgindo lá fora.
E foram entrando, até às dez da manhã, os restantes sete alunos.
Um rapaz de cabelo rapado e ar ligeiramente idiota, um outro horrível e um mais girinho.
Das raparigas, entrou outra normal, de cabelos pretos aos caracóis, uma nerd (como era inevitável que acontecesse), outra que parecia uma Cheerleader e a seguinte uma miúda daquelas parvinhas, que fuma uns charros nas festas porque acho que dá estilo e dorme com todos os rapazes da equipa de Basquetebol –Ou seja, uma pega.
O meu telemóvel apitou, dando-me sinal de que eram dez da manhã, e ouviram-se passos no corredor.
Não tardou muito a porta rangeu, e um homem velho, mirrado, entrou, sorridente.


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Bjs,
Tina!

12/04/10

Capitulo 4

Novamente, ainda não é 3ª, mas tenho medo de não conseguir publicar amanhã, então aqui vai:


Por meros segundos, aqueles diminutos segundinhos da minha vida, tentei ignorar o toque intermitente do Telemóvel.
No entanto, o relógio era claro: Sete da tarde, não podia fugir mais.
Levantei-me das velhas cadeiras de madeira do café, com uma lágrima no canto do olho, esforçando-me por não chorar, por não guardar como última memória do “meu grupo” uma imagem enevoada e confusa.
Mas não adiantava suprimir, não adiantava mesmo nada, pois Jennifer já se desfizera num prato interminável.
-Não… N… Não vás! –pediu-me, entre soluços.
Apetecia-me berrar. “Não Vás”!?! Isso era exactamente o que eu queria fazer, queria sentar o rabo naquelas cadeiras e não me mexer até começarem as minhas aborrecidas (as normais) aulas de Décimo Primeiro ano, em Ciências.
Apesar daquilo que me corria na mente, não pude responder-lhe mais do que um simples «Também não queria, mas tem de ser…». Tinha de evitar magoar a minha melhor amiga no dia da nossa despedida.
Matt aproximou-se de mim, limpou-me a lágrima solitária que já me corria pela bochecha e abraçou-me.
-Não ligues –murmurou-me, risonho –Em breve estás de volta.
Fiz um esforço por lhe sorrir também, embora apenas me tenha saído uma amostra nojenta daquilo que costumava ser o meu antigo sorriso.
Aquela era a cara que sempre lembraria associada ao desporto, à boa-disposição, à alegria é ao positivismo, embora fosse também a cara do meu ex-namorado, não via nada disso nela. Aliás, as personalidades eram tão diferentes que quase não me lembrava de que eram gémeos.
Teresa veio em seguida, com um sorriso triste nos lábios.
-Não te esqueças de nós –disse-me –Mas não te impeça de arranjar mais alguém. Tenho a certeza de que serás feliz ali, e quando voltares, tens-nos aqui, assim como nos deixas-te…
-Só que mais parvos e mais bêbedos –riu-se Griff ainda sentado na mesa.
Teresa tremeu de raiva.
-Não, assim como nos deixas-te
Sorri-lhe também, embora as lágrimas já escorressem abundantemente pela minha cara, e ainda me consegui arrancar um riso débil para Griff.
Ele levantou-se também e veio ter comigo.
-Então miúda, não fiques assim. Sabes que vamos estar sempre aqui, e podes sempre mandar uma SMS, a não ser que queiras falar com a Meg, sabes que essa nunca tem bateria… Mas pronto, estamos quase (quase) todos a um SMS de distância.
Meg sorriu-me.
-Já disse que é um problema na bateria! –exclamou, e depois virou-se para mim –Mas não interessa, arranjo-a rápido, só para ti!
O seu sorriso de cabeça-de-vento fez-me desatar a chorar, sentando-me na minha cadeira.
Ela aproximou-se de mim, colocando-me a mão no ombro.
-Não, desta vez é a sério, eu arranjo-a mesmo! –insistiu, com voz consternada.
-Não é a mesma coisa –respondi-lhe –Com nenhum de vocês! Eu quero estar aqui quando se puserem a discutir, quero estar aqui quando forem à praia e a Teresa se vá embora chateada, quero estar aqui nos jantares de aniversário que fizerem na Pizzaria e quero estar aqui quando o Griff se puser a deitar coca-cola pelo nariz! Eu vou ter saudades de tudo, t-u-d-o!
-Eu sei que sim –murmurou ela, tristemente –Também quero que cá estejas, mas não podemos fazer nada. E agora está na altura de levantares a cabeça para o que vem a seguir, porque embora não possas estar cá, sabes que nós cá estamos, e que poderás contar connosco.
-E –acrescentou Griff –Se o problema for veres-me a deitar bebidas pelo nariz, eu posso filmar!
-Eu acho que ela dispensa –Afirmou Teresa, torcendo o nariz.
-Não. –respondi –Eu quero estar cá sempre, custe o que custar (mas pelo menos nomeia o vídeo, para eu não ter de abrir.)
Levantei-me, forçosamente e despedi-me de todos, um por um.
Jennifer ficou para o fim, correndo até mim e dando-me um demorado abraço.
-Eu não te esqueço, prometo. –sussurrou.
-Eu sei –respondi –Nem eu a ti.


Estava à porta de casa, com as minhas malas indispensáveis, quando um grande carro preto chegou.
Não seria necessário referir que era enorme, com a maior bagageira que já vira e um formato antiquado. Não apresentava marca, mas sim uma pequena assinatura no lado direito do capo, que não consegui ler.
Um condutor de aspecto simpático saiu de lá de dentro, completamente diferente daquilo que seria de imaginar para alguém que conduzisse aquele tipo de carro.
Era baixo e semi-calvo, com apenas alguns cabelos castanhos a coroar-lhe a cabeça redonda. Tinha um ar alegre e umas bochechas rosadas.
Cumprimentou-me a mim e à minha mãe. Abriu a bagageira e ajudou-nos a guardar seguramente as malas.
Depois disso abriu-me a porta do banco de trás.
Dei um abraço demorado à minha mãe e um beijo sentido ao meu pai, peguei no meu cãozinho e respirei fundo –assim que ali entrasse estava a entrar para a minha nova vida, e não podia voltar atrás.
Mergulhei, assim, no grande carro, sentando-me no primeiro dos três bancos largos que se sucediam paralelamente.
O motorista entrou também, colocou o cinto e preparou-se para começar a grande viagem.
Vi as casas sucederem-se lentamente, e ainda consegui ver os meus amigos no café, a consolarem-se e a falarem tristemente.
Acenei-lhes, mas eles não repararam em mim, devido ao carro demasiado grande para poder ser-me associado e aos vidros escuros das janelas.
À saída da cidade, senti o carro acelerar, e apenas consegui ter um vislumbre da cidade que deixara –Assim como à minha antiga vida.



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Bjs,
Tina!

05/04/10

Capitulo 3

OK, tecnicamente ainda não passa da meia-noite, mas é quase Terça-Feira, então aqui vai:


Acordei, estremunhada, com a minha mãe aos berros.
-Allison Jenkins, levanta-te imediatamente! Vais para lá amanhã e ainda não tens nem uma mala pronta!
«Amanhã…» Ressoava na minha cabeça, desesperadamente. Queria ficar doente, que aquilo fosse abaixo ou até partir uma perna. Tudo menos ir.
Mas de que me servia desejar aquilo tudo? Não valia a pena dar-me ao trabalho de desejar que algo de terrível me impedisse de ir, porque isso não ia acontecer.
-Sim mãe…
Levantei-me da cama macia, deslizando pela borda e caminhei vagarosamente até ao armário de madeira escura, que era meu desde que me lembrava.
Atirei toda a roupa que queria levar para um canto, e deixei o resto –essencialmente vestidos bimbos de casamentos e baptizados –no armário, acabando por conseguir encher a minha maior mala com ela, assim como outra mais pequena.
De resto, seleccionei os essenciais produtos de higiene, assim como as coisas de Futsu, que me decidira a levar –Era um Beagle pequenino, não dava assim tanto trabalho -, outros produtos e coisas de que poderia precisar e uma mala pequena com aparelhos electrónicos. Para além disso, enviariam depois a minha guitarra.
E enchi ainda uma mala mais pequenina com coisas pessoais carregadas de boas memórias: A moldura que me tinham oferecido aos três anos, que dizia “Allison” em letras grandes e cor de rosa, um colar que a minha Tia me trouxera do Brasil e pelo qual me tinha apaixonado, um pequeno espelho de bolso, cravejado com pedras Semi-preciosas que a minha avó me tinha deixado antes de morrer, uma pedra grande e redonda com um coração gravado (oferecido pelo meu Ex-Namorado que tinha ido estudar para Inglaterra… Deixara-me a chorar por dias a fio, e acreditem que não é fácil) e outras coisas do género –Ou seja, inúteis mas cheias de valor sentimental.
E era só, uma mala muito grande, três pequenas e uma de mão, o que para mim não me soava a muito, e até deixava um certo vazio.
Mas pronto, ignorava-se.
E passei o resto do dia nisto, a escolher coisas para levar, a verificar se já as tinha posto ou a discutir com a minha mãe sobre a verdadeira utilidade das coisas, mas no fim optámos por levar imediatamente três malas pequenas e uma de mão, e depois mandavam-me a grande e outra com coisas que não tinha achado tão essenciais ou me tinha esquecido.
Deitei-me estafada e triste, num estado de depressão tremendo. Não me admirava muito se entrasse em depressão naquele preciso momento, a minha cabeça estava em água com tanta coisa e eu completamente desfeita com tudo aquilo.
Tinha combinado com alguns amigos meus encontraram-me no café habitual com eles, às seis, duas horas antes de partir, mas sabia que isso não ia ser suficiente para matar as saudades que me iriam arrasar.
E por fim, adormeci a pensar nas pessoas que iria conhecer, nas aulas que iria ter e que novas portas se me iriam abrir… Descobri mais tarde que não eram bem as que imaginara…

Era meio-dia.
Acordava sempre àquelas horas no Verão, não tinha paciência para acordar cedo e passar o dia cheia de sono, então…
Escorreguei da cama e esfreguei os olhos. Era “O Grande Dia”, como diziam os meus pais, e eu tinha de estar psicologicamente preparada para o futuro horrível que me esperava, por isso corri pelas escadas abaixo até à cozinha, onde me pus a preparar as minhas habituais torradas matinais.
Peguei em duas fatias de pão e coloquei-as na torradeira, enchi um copo com sumo de Maçã e peguei no frasco de doce caseiro da minha tia, observando a tampa adornada com renda e as palavras gravadas sobre o que restava da etiqueta original do frasco: “Lar Doce Lar”.
Sim, sempre achara o nome foleiro, mas naquele momento, juntamente com o cheiro doce dos morangos, fazia-me lembrar tudo aquilo de que iria ter saudades, incluindo aquele doce que comia quase todas as manhãs.
Um estalo por detrás de mim indicou-me que as torradas estavam prontas.
Corri a ir buscá-las, peguei num prato e peguei numa, com cuidado –Embora não o suficiente. Senti uma dor aguda no dedo e larguei a torrada, que caiu ao chão, onde foi rapidamente abocanhada por Bells, que devia ter andado à espreita.
-Fogo! –berrei, sacudindo a mão. Olhei para a ponta do dedo, que encostara à superfície escaldante da torradeira, e que apresentava agora uma vermelhidão horrível e corri até ao lavatório, onde a coloquei debaixo de água gelada.
Enquanto praguejava baixinho e mordia o lábio, uns passos quase inaudíveis passaram pela porta ligeiramente aberta na minha direcção, e o meu cachorrinho minúsculo entrou no meu campo de visão, sentando-se pacientemente ao meu lado com um ar confuso e a cabecinha ligeiramente inclinada.
Tirei o dedo de debaixo da água corrente e baixei-me, afagando-lhe a mancha castanha à volta do olho esquerdo.
-Pois… -suspirei –Isto não deve ser bom agoiro… Pelo menos tu vens comigo, a ti não me podem tirar… Peço desculpa, não queria que tivesses de ir também, para viver naquela tortura, mas acho que sem ti não sobrevivia.
Ele lambeu um dos meus dedos avidamente e esfregou-se na minha mão, não parecendo importar-se com aquilo que lhe tinha dito. Penso que ele também não sobreviveria sem mim.
-Mas pronto, tenho de acabar o pequeno almoço e vestir-me. Acaba-mos mais umas coisas e depois vamos para o café, e duas horas depois disso, vamos partir para a nossa infeliz tragédia.
Em resposta, o meu cão terminou de lamber os meus dedos e correu para o sitio onde a minha torrada caíra, lambendo as migalhas restantes.




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Bjs,
Tina!